Consultoria sediada na Itália e no Brasil aposta na retomada da economia brasileira e acredita que o momento é estratégico para as empresas italianas que querem investir no país

A colaboração de mais de 20 anos entre os dois sócios, o italiano Paolo Carbone e o ítalo-brasileiro Fabio Vicenzi, surgiu ainda na época da universidade. Com o tempo, estendeu-se para o campo profissional e resultou na criação da sociedade Carbone & Vicenzi Consulting. Carbone seguiu os passos da sua ilustre família de juristas e se tornou advogado e professor especialista em sistemas jurídicos latino-americanos na Universidade Luiss de Roma, além de ensinar Direito Comparado na Universidade de Sassari, na Sardenha. O seu sócio, após formar-se em direito pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul, retornou às origens da família e foi morar na Itália — país do seu avô. Ele fez especialização em Milão, mestrado em Bolonha e doutorado em Sassari.
— O meu falecido pai, que foi enterrado em Sustinente, perto de Mantova, incentivou os filhos, depois da formatura no Brasil, a estudarem na Itália. Eu e meu irmão mais novo Marcelo trilhamos esse caminho. Através desse retorno às origens, se criou uma série de relacionamentos acadêmicos, institucionais e profissionais, que foram moldando aquilo que depois se transformou na C&V — relata à Comunità Vicenzi, originário de Caxias do Sul (RS).
A consultoria nasceu em 1987 com a primeira sede e o atual “quartel-general” situado em Roma. Em 2012, foi inaugurado o escritório brasileiro em São Paulo e, em seguida, as sedes no Rio de Janeiro Recife, João Pessoa, Porto Alegre e Caxias do Sul. A empresa conta com mais de 20 endereços espalhados pelo mundo, entre sedes, escritórios de representação e terceirizados, que são parceiros.
— Temos uma capilaridade muito grande com presença em territórios diferenciados através de escritórios próprios e profissionais multidisciplinares, capazes de prestar um serviço a 360 graus, que vão além das questões jurídicas, para abarcar também as questões administrativas, financeiras, contábeis, alfandegárias e legais — destaca Vicenzi.
Além de especializar-se no suporte à gestão de negócios na Itália e no Brasil, a C&V em pouco tempo abraçou Angola, onde abriu outra sede.  
De acordo com o diretor geral, Ivan Aliberti, a caraterística principal e diferencial da consultoria é o fato de ser uma verdadeira empresa ítalo-brasileira, não apenas devido às nacionalidades dos sócios e por ter escritórios nos dois países, mas também pelo perfil dos colaboradores: a maioria é composta de ítalo-brasileiros que falam os dois idiomas e conhecem seja o mundo italiano, seja o mundo brasileiro.
— O nosso objetivo principal é construir uma ponte entre Itália e Brasil. Para fazer isso é preciso entender as duas culturas que, por um lado, são parecidas, mas por outro são bastante diferentes, pois estamos falando de um país muito antigo e outro muito novo — afirma o diretor napolitano, que tem uma experiência de 12 anos no país.
Entre os clientes da empresa, há muitos grupos italianos que decidiram investir no território.
— O mercado brasileiro é um continente: fazer negócios no Rio é muito diferente de fazê-los em São Paulo. E as oportunidades que você encontra no sul são completamente diferentes daquelas que oferece o nordeste ou o norte do país — analisa Aliberti, que acredita na importância de oferecer serviços sob medida para cada cliente.

Vicenzi vê a crise como oportunidade para entrar num mercado continental
Vicenzi não parece estar assustado pela crise que atravessa o país, pois acredita que é um momento de oportunidades para os empresários italianos interessados em investir.
— O momento é estratégico para quem quer ter acesso a um mercado de 200 milhões de habitantes; para quem quer entrar no momento do euro mais forte; para quem quer fazer aquisições agressivas e comprar empresas estressadas ou participações societárias por preços mais baixos, marcando presença no mercado, que terá já garantida a sua tomada de crescimento a partir do ano que vem, transformando a unidade brasileira em plataforma de exportação de produtos — argumenta.
De acordo com ele, o momento é ainda mais favorável para alguns setores, como infraestrutura, energias renováveis e segurança, pois as grandes empresas brasileiras que tradicionalmente atuam nessas áreas, estão prejudicadas em razão não só da economia, mas do escândalo da Lava Jato, impedidas de participar de diversas licitações para rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e parques energéticos.
Ao ser perguntado sobre as dificuldades do mercado brasileiro, Vicenzi disse não serem diferentes daqueles que existem em qualquer outro país do mundo, mas são superadas com “uma interação cada vez maior, uma formação permanente e com o entendimento também por parte dos italianos de que a mentalidade não pode mais ser de simples colonizadores, mas sim de parceiros estratégicos”.
— Nós, mais do que nunca, acreditamos na retomada da economia brasileira. Prova disso é a recente inauguração da nova sede do escritório no Rio de Janeiro, no prédio do Consulado italiano, e a abertura do escritório em Belo Horizonte, prevista para os próximos três meses — revela o advogado.

Entre os projetos futuros da C&V, está uma exposição permanente de produtos de empresas italianas no edifício do Consulado do Rio
Em vista dos Jogos do Rio e em parceria com o Consulado Geral italiano e o Instituto Italiano de Cultura no Rio de Janeiro, a Câmera Ítalo-brasileira de Comércio e Indústria, a revista Comunità, a associação AAIB e o Coni Brasil, a C&V Consulting criou o Lounge Expo Italia, um espaço de convivência dedicado ao mundo empresarial, cultural, institucional ítalo-brasileiro.
— É aberto a todos. Basta fazer uma reserva no site da C&V, onde há um link. É completamente gratuito e funciona de segunda a sexta-feira, das 16h às 20h — diz Aliberti, sentado em um dos belos sofás da Natuzzi que decoram o ambiente da sala, situada no oitavo andar da Casa Itália.
O Lounge Expo Italia foi inaugurado em 6 de maio e tem o fim de criar novas sinergias no panorama ítalo-brasileiro. Além disso, serve de vitrine do Made in Italy para expor e divulgar produtos e serviços num período importante para a capital fluminense, sede das Olimpíadas e das Paraolimpíadas.
— Cada mês haverá um seminário dedicado ao legado dos grandes eventos no terraço da Casa Itália e outros eventos semanais. Em geral, a terça-feira vai ser de caráter artístico-cultural, como a apresentação de um quadro, de um livro ou um artista. A quinta será mais recreativa, com a apresentação de um vinho ou de um cozinheiro — adianta o diretor napolitano.
Vicenzi revela que o Lounge Expo Italia, que estará disponível até setembro, é o primeiro passo de um projeto mais ambicioso, que prevê a criação de um espaço permanente de exposição do empresariado e dos produtos italianos e brasileiros no segundo andar do mesmo prédio, com uma área de quase 600 m².
— Outro projeto no qual estamos envolvidos diretamente é a representação da Câmara de Comércio Ítalo-brasileira do Rio de Janeiro nos estados de Pernambuco e Paraíba, onde a C&V, como delegada, abriu um escritório em Recife e em João Pessoa, e vem desenvolvendo um trabalho de capacitação de novos associados, promoção do Sistema Italia, organizações de eventos e união da comunidade empresarial e não empresarial em prol de uma causa comum ítalo-brasileira — relata o sócio da consultoria.
Aliberti explica que a área de Pernambuco e Paraíba, nos últimos cinco anos, mudou muito. A abertura da fábrica da FCA em Goiana (PE) induziu a chegada de vários fornecedores italianos. Além disso, ambos os estados são atraentes por oferecerem   impostos de importação reduzidos.
— Temos que vencer a barreira do pessimismo. As coisas estão acontecendo; não estão paradas. Quem não está fazendo investimentos, está pensando em fazê-los — finaliza Vicenzi.