Novo uniforme da Alitalia, assinado pelo estilista Ettore Billota, apresenta boinas inspiradas nos terraços de Cinque Terre
Se a forma pode influenciar o conteúdo, os passageiros da classe econômica da Alitalia poderão se sentir mais elegantes diante dos novos uniformes da tripulação. A companhia de bandeira italiana, depois de quase 20 anos, apresentou a nova coleção do pessoal em terra e voo. Para a apresentação, foram organizados desfiles em Roma e Milão. Os funcionários da Alitalia foram os modelos, selecionados entre os altos, magros e belos. O estilista é Ettore Billota, cujo ateliê milanês se iluminou na Itália dos anos 1950 e 1960. Afinal, a moda da companhia aérea é uma viagem no tempo.
— Foi uma experiência muito interessante, que me permitiu realizar uma coleção especial, que representa não só a Itália como também o orgulho da Alitalia, que é como um embaixador do nosso país no mundo — disse o estilista à Comunità.
Para realizar esta coleção, ele estudou arquitetura, os monumentos e a paisagem de diversos territórios italianos.
— Os terraços de Cinque Terre me inspiraram no design das boinas — explicou.
Este trecho de terra montanhoso na costa da Riviera Ligure —nomeado patrimônio da humanidade pela Unesco — é conhecido pelos típicos terraços, uma particular técnica agrícola usada para aproveitar os terrenos com grande inclinação ao máximo possível.
Não é a primeira vez que Bilotta realiza uniformes de companhias aéreas. Em 2003 e 2014, ele desenhou a coleção da Etihad, a companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos que adquiriu a quota de 49% da Alitalia dois anos atrás. Naquele caso, ele se inspirou nas dunas do deserto para realizar a forma das boinas das aeromoças.
Tons de verde para quem trabalha em terra e vermelho para quem voa
Sobre as cores escolhidas, ele explicou que “o vermelho simboliza a paixão italiana e o verde representa as paisagens e as riquezas culturais e históricas do país”. No entanto, foi a escolha dos tons que surpreendeu na coleção: adeus ao verde-bandeira puro e ao vermelho cardeal das duas últimas décadas, exceto para as luvas femininas. Bilotta prefere as tonalidades do verde entre musgo e cinza, enquanto o vermelho se aproxima do bordô ou do vermelho claro. A variação de tons foi obtida com o uso do design de estampa chevron, um desenho com traços em forma de V, chamada também de estampa zigue-zague, ou espinha de peixe. Nos tecidos, ele usou uma mistura composta por 96% de lã fina italiana e 4% de elastano.
Os uniformes femininos para as funcionárias em terra aparecem em tons de verde, enquanto as que voam usam tonalidades de vermelho. Elas podem contar com três opções: um vestido, um conjunto de jaqueta com saia, ou calça.
Os uniformes masculinos apresentam um design chevron em duas cores: cinza antracito e verde bosque. O conjunto inclui um colete duplo peito para os comissários de bordo nas mesmas cores do paletó. No caso daqueles que trabalham em terra, as cores são invertidas. Os assistentes de voo usam gravatas em tons de vermelho, combinando com as aeromoças.
Todos os componentes dos uniformes, incluindo os acessórios, foram produzidos na Itália. Com a contribuição de mais de 500 pessoas em várias regiões italianas, a seda foi trabalhada em Como, os tecidos foram confeccionados na Toscana, os acessórios de couro em Nápoles, os sapatos em Marche e os uniformes masculinos na Puglia. Tudo legitimamente Made in Italy.
A evolução das peças acompanha a história
O termo jet set foi criado em 1950 por Igor Cassini, jornalista americano de origem italiana, considerado “o rei das fofocas sociais”. Ele se referia ao estilo de vida de uma elite que percorria o mundo de avião. Afinal, desde o primeiro voo comercial em 1910, viajar em uma aeronave era um luxo. Só depois da Segunda Guerra Mundial, foram admitidas mulheres como comissárias de bordo. Os primeiros uniformes femininos tinham referências militares, até que nos anos 50 a coisa mudou. Naquela época, acreditava-se que, quando um homem de negócios subia em um avião, merecia ser servido por uma mulher bonita e bem vestida.
Com o tempo, o preço das passagens aéreas ficou mais acessível e aumentou o número de voos e os passageiros. As companhias tiveram que contratar mais funcionários, nem todos lindíssimos. Graças ao protesto das feministas, o critério de seleção estético das jovens aeromoças se alargou.
Na história da aviação civil, não faltaram protestos das aeromoças contra o uniforme. O mais recente foi em 2014, no Japão, quando a companhia low cost japonesa Skymark Airlines apresentou a coleção feminina: um vestido tubinho curtíssimo para as suas comissárias. Não é difícil adivinhar a reclamação das profissionais: como esperar que elas realizassem tarefas básicas que exigem levantar os braços ou se abaixar sem se preocupar em transformar o “míni” em “nulo”?
Um conselho aos passageiros da classe econômica: se você acha incômodo voar em um espaço apertado e com turbulências, a tripulação também sofre o aperto da elegância. Talvez pensar nos uniformes deles faça você se sentir melhor.
Uniformes sempre assinados por estilistas
Com tailleur azul “bom tom” e pequena boina em nuance, o primeiro uniforme Alitalia foi assinado em 1950 pelas Sorelle Fontana, ateliê romano consagrado internacionalmente. Famosos estilistas realizaram os uniformes do pessoal ao longo de 70 anos de história da companhia aérea italiana.
Em 1969, Mila Schön desenhou um logotipo geométrico verde e vermelho e lançou o casaco longo como sobretudo — ainda hoje considerada uma das coleções mais elegantes da Alitalia. Em 1973, foi a vez de Alberto Fabiani, seguido por Florence Marzotto, em 1975. Já em 1986, Renato Balestra, com um look típico dos anos 80, propôs camisas com mangas bufantes e saias listradas. O “rei” Giorgio Armani desenhou a coleção de 1991, com tailleurs sóbrios entre cinza e verde e ombreiras que hoje são de arrepiar. Em 1998, Mondrian desenhou a coleção que permaneceu até 2016.