Para conseguir se virar sozinho, é preciso informação no tempo certo e profissionalismo adequado, o que pressupõe um ambiente favorável à formação e à inovação
A partir dos anos oitenta, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, iniciou-se uma divergência cada vez maior entre as cidades que souberam se inovar, apostando na instrução, e as cidades que ficaram estagnadas em velhos modelos. As primeiras viram crescer o número de seus habitantes, de seus formandos, de seus cidadãos empregados, das empresas hi-tech, das infraestruturas para o lazer. As últimas viram crescer o desemprego e o número de seus cidadãos. Nas cidades mais dinâmicas, foram promovidos a instrução, a pesquisa científica e o empreendedorismo. Mas, para abrir o próprio negócio e começar iniciativas de sucesso, não basta ter coragem e se jogar de cabeça na tarefa.É preciso ter consciência da complexidade que hoje caracteriza a inovação e saber inserir-se no momento certo e nos espaços oferecidos pelo mercado.
Cada vez mais ouve-se que não é mais época de emprego fixo, que cada um deve se virar sozinho, que aos jovens é necessário espírito de iniciativa e coragem para inventar-se uma nova profissão, aproveitando a própria criatividade. Mas o golpe de gênio e a boa vontade não bastam para suscitar o espírito de iniciativa e traduzi-lo em negócios. Até mesmo as grandes empresas, com laboratórios de ficção e pesquisadores aos montes, têm frequentemente poucas ideias. Como nos lembrou Jay Galbraith, não foram os produtores de máquinas de escrever mecânicas que inventaram a máquina de escrever elétrica; não foram os produtores de válvulas que inventaram o transistor. Mas, então, quem foi? Onde nasceram estas ideias? Quem foi capaz de transformá-las em produtos, em serviços e em negócios?
Tirando casos excepcionais, de felizes intuições imprevistas, as ideias não nascem de repente na mente de pessoas despreparadas, mas representam a linha de chegada de um longo processo criativo. A muitos terão caído maçãs na cabeça, mas somente Newton soube tirar dali a teoria da gravidade porque há anos refletia sobre o problema da física.
Hoje, o longo caminho da inovação criativa apresenta irregularidades, etapas quase obrigatórias, em que pode ser inserido o espírito de iniciativa de uma pessoa que tenha o mérito da informação e a predisposição ao empreendedorismo.
Geralmente são as universidades que, através da assim chamada “pesquisa pura”, começam o processo e dão origem a uma descoberta capaz de abrir novos campos de ação. Quando, por exemplo, na metade do século passado, Francis Crick e James D.Watson descobriram a estrutura do DNA, abriram o caminho para milhares de pesquisadores que, daquela descoberta geral, partiram com as “pesquisas aplicadas” para chegar a descobertas mais práticas e imediatamente úteis. Assim, continuando com o exemplo, da descoberta do DNA, partiram milhares de pesquisas microbiológicas para curar o câncer, prevenir a obesidade, bloquear patologias hereditárias e melhorar o metabolismo, até mesmo para determinar nos nascituros a cor da pele e dos olhos.
Elaborada a fórmula de um fármaco ou a composição de um novo material e criados os protótipos, é preciso que alguém esteja pronto para encontrar e investir o capital necessário para comprar a patente e usufruir da descoberta, reproduzindo seus resultados em grande escala. Isso requer que se consigam instrumentos financeiros, se projete e se construa a fábrica necessária, se treinem empregados, se formem dirigentes, se comece a produção na medida indicada por um bom marketing preventivo. Quando, por fim, o novo produto está pronto em milhares de exemplares, é preciso difundi-lo através de campanhas de comunicação oportunas e distribuí-lo por meio de uma rede de vendas capilar.
Em cada uma destas etapas, como já dito, uma pessoa com espírito de iniciativa insere-se e adquire a patente, arranja os recursos, organiza a fábrica, efetua pesquisas de mercado, faz propaganda do produto e vende. Em cada uma destas etapas, existe espaço para arriscar-se a ter o próprio negócio ou para oferecer-se no mercado como trabalhador dependente.
Portanto, para conseguir se virar sozinho, como já fizeram milhares de pioneiros, não basta a coragem: é preciso informação no tempo certo e o profissionalismo adequado. Isso pressupõe um ambiente favorável à formação, à inovação, ao profissionalismo.
Em um livro intitulado Creative Experience, de 1924, uma grande teórica da organização, Mary Parker Follet, examinou detalhadamente os fatores que obstaculavam ou aceleravam o andamento fluido do processo criativo. Na sua opinião, a “psicologia da invenção” requer que nenhum sujeito em jogo tente dominar os outros e é preciso que a burocracia não imponha obstáculos nas diferentes etapas da criatividade. São, por sua vez, necessários a integração entre todas as fases do processo criativo e um clima favorável à difusão das informações, à eliminação do medo de errar, à atração dos melhores cérebros, à proteção dos participantes com caráter mais fraco. Em síntese, é preciso aquela sintonia e aquele comprimento de onda comum graças aos quais é mais fácil colher as mínimas oportunidades que, com frequência, se revelam resolutivas.