As medalhas olímpicas revelam uma história que começou em Atenas e que contou com a contribuição do design italiano
Objeto de desejo dos atletas, as medalhas olímpicas são uma das grandes atrações das Olimpíadas da era moderna. Dois personagens pouco conhecidos contribuíram para a sua criação e para que tivessem o fascínio atual. Assim como a taça da Copa do Mundo, desenhada pelo escultor italiano Silvio Gazzaniga, esta outra grande premiação do esporte também tem uma grande parte de sua história ligada à Itália e à sua tradicional escola de design. O pintor e escultor italiano Giuseppe Cassioli foi o criador das medalhas que foram presenteadas aos atletas entre os Jogos de 1928, disputados em Amsterdã, e de 2004, realizados em Atenas.
Mas nem sempre foi assim, muito antes da medalha de Cassioli se tornar padrão. Nas primeiras Olimpíadas da era moderna, disputadas na Grécia, em 1896, os vencedores não receberam a medalha de ouro, e sim a de prata, acompanhada de um ramo de oliveira e um diploma. Aqueles que ficavam em segundo ganhavam uma medalha de cobre, um ramo de louros e um diploma. As medalhas foram desenhadas pelo escultor francês Jules Chaplain, e os diplomas pelo pintor grego Nikolaos Gyzis. Na face frontal, a medalha apresentava a face de Zeus, o rei dos deuses, segurando a deusa da vitória Nike e, no verso, a imagem da Acrópole de Atenas. A premiação como a conhecemos hoje só começou a ser aplicada em Saint Louis, nos Estados Unidos, em 1904.
A história de Cassioli com as medalhas olímpicas começou a ser escrita, ou esculpida, em 1923, quando o Comitê Olímpico Internacional (COI) lançou um concurso para escolher o desenho das medalhas para os Jogos de 1928. O projeto do italiano, intitulado Trionfo, foi escolhido como o vencedor. A parte frontal da medalha trazia a deusa Nike segurando uma coroa de louros e, ao fundo o Coliseu. A parte central superior era reservada para o nome da cidade sede e para o número da edição dos Jogos. A parte reversa da medalha trazia um atleta campeão sendo carregado por uma multidão.
Filho do pintor Amos Cassioli, Giuseppe nasceu em Florença no dia 22 de outubro de 1865. Foi aprendiz tanto do pai quanto do escultor Tito Sarrocchi. Em 1885, realizou uma mostra na Academia de Belas Artes de Siena com uma a pintura inspirada na obra Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo. Em 1900, fez o monumento do compositor Gioacchino Rossini, na Basílica de Santa Croce, em Florença. Cassioli também foi o responsável por esculpir a porta de bronze da Catedral de Florença.
Cassioli viria a falecer em no dia 5 de outubro de 1942, pouco antes de completar 57 anos, após uma vida muito ativa e com um grande reconhecimento artístico de sua obra por parte da critica e do público.
Design de Giuseppe Cassioli foi modificado somente nos Jogos de 1972
Entre 1928 e 1968, o design de Cassioli permaneceu inalterado. Nos Jogos de Munique, em 1972, foram entregues as primeiras medalhas com o design diferente no lado reverso, desenhado por Gerhard Marks da Bauhaus, a famosa escola alemã de design. A imagem trazia Castor e Pollux, dois irmãos gêmeos da mitologia grega e romana, filhos de Leda com Tíndaro e Zeus, respectivamente. Desde então, ao comitê organizador das cidades-sede tem sido permitido desenhar a parte reversa da medalha, mas sempre com a aprovação final submetida ao COI.
O design da parte frontal permaneceu até 1992, quando o COI permitiu que uma versão com algumas pequenas modificações fosse criada. Essa tendência seguiu até 2004, quando Wojciech Pietranik, o designer da medalha, juntamente com os organizadores dos Jogos, foram criticados pela imprensa grega por causa da utilização do Coliseu romano no lugar do Partenon grego.
Para os Jogos de 2004, em Atenas, os gregos queriam a Grécia estampada e assim foi feito. A designer Elena Votsi foi a encarregada de desenhar a medalha. Ela contou à Comunità sua emoção ao saber que seria a responsável pelo desenho da tão cobiçada medalha.
— Na época, eu estava na minha cidade natal, ilha de Hydra. Recebi uma ligação da presidente do comitê organizador grego e ela me disse que meu design tinha sido escolhido pelo Comitê Olímpico. No mesmo dia, eu recebi um telefonema do meu médico dizendo que eu estava grávida do meu filho Nicholas, que hoje tem 12 anos. Dois dias depois, me disseram que o COI havia decidido manter meu design para todos os Jogos futuros. Foi difícil de acreditar que aquilo tudo estava acontecendo. Com certeza, foi o dia mais especial da minha vida, pelo meu filho e o mais inesquecível da minha carreira como designer. Para mim é sempre um momento de emoção todas as vezes que vejo um atleta usando minha medalha. Eu ainda não consigo acreditar que é minha criação — afirmou Votsi.
A face frontal da medalha traz uma imagem do Estádio Panatenaico (também conhecido como Kalimármaro), construído inteiramente em mármore branco do Monte Pentélico em 566 A.C., com a deusa Nike sobrevoando-o em 1896, para celebrar o “mais forte, o maior e o mais rápido” dos atletas. O lado reverso é composto por três elementos: a chama eterna dos Jogos, que é acesa em Olympia e viaja pelos cinco continentes com a tocha olímpica; as primeiras linhas da Oitava Ode Olímpica de Píndaro, composta no ano 460 a.C. em honra à vitória de Alkimedon de Aegina; e, por fim, o logo dos Jogos de Atenas.
Ao combinar elementos da história grega e do esporte, Votsi explicou como se deu o processo de criação da nova medalha:
— O primeiro projeto que eu fiz foi o que eu entreguei. Depois que eu terminei, e eu ainda tive tempo, tentei fazer mais duas outras opções, mas eu não tinha certeza. Bem, como eu tinha que dar a minha proposta, acabei dando o meu primeiro design sem pensar duas vezes. Desde o início, eu queria que a medalha refletisse a história grega, a cultura grega, que tivesse esses elementos que nos fazem lembrar onde os Jogos Olímpicos começaram. A Acrópole, o estádio Kalimarmaro e a deusa Nike agora sempre nos faz lembrar, na parte da frente da medalha, que a Grécia é o país que, entre outras coisas, como a democracia, a matemática, a astronomia e a filosofia, também deu ao mundo os Jogos Olímpicos — disse a designer.