Paróquia tenta arrecadar 200 mil euros para restaurar igreja medieval de Pisa através de vaquinha online
A igreja de San Paolo, em Pisa, o “Duomo velho” para os íntimos, vai ser restaurada. A catedral do ano 1032 é uma das joias do mundo católico. Ela exerce um grande fascínio pela sua arquitetura, além dos afrescos e obras de arte que fazem justiça à sua fama. Mesmo à sombra de um monumento mais conhecido, como a torre de Pisa, a igreja de San Paolo a Ripa d’Arno (este é o seu nome e sobrenome) tem luz própria e brilha intensamente diante dos olhos dos admiradores que sempre a visitaram até o momento do começo das obras. O interior está tomado por andaimes que vão do pavimento de pedra e mármore ao teto. Para manter o patrimônio, não bastam as ofertas dos frequentadores das missas aos domingos. Foi-se o tempo em que os imigrantes italianos que faziam a fortuna no estrangeiro mandavam dinheiro para casa e para a comunidade da paróquia em gratidão. A modernidade, com a sua tecnologia de ponta, propõe o resgate desta tradição através do sistema de coleta de dinheiro via internet. A paróquia lançou mão do “crowdfunding”, estratégia pela qual um indivíduo qualquer pode dar a sua contribuição e fazer uma doação à causa em questão, no caso, as obras de restauração da igreja para recuperar as paredes e os tetos, além de incorporar elementos antissísmicos.
A campanha de arrecadação começou em 15 de junho e vai durar quatro meses e meio. E já começa com um parceiro solidário de peso, a Unicoop Firenze, gigante do ramo dos supermercados. O apoio técnico é da Eppela, a primeira plataforma italiana do gênero que prevê uma recompensa ao doador.
— Vivemos numa época na qual as pessoas são convocadas ao consumo da cultura; assim, queremos transformá-las em cidadãos ativos e conscientes da beleza italiana — afirma Claudio Vanni, responsável por relações externas, que carrega uma experiência bem sucedida: restauração do Batistério de Florença.
A ferramenta de arrecadação permite alcançar os italianos em pátria e até aqueles que vivem no exterior, principalmente na América do Sul, palco de grandes ondas de imigração de italianos de origem toscana. A proposta quer sensibilizar também os descendentes de primeira, segunda e terceira gerações. Somente o Brasil tem cerca de 30 milhões de oriundi, como são conhecidos os filhos, os netos e os bisnetos de quem cruzou o oceano em busca de uma vida melhor. Quem conseguiu vencer as adversidades sempre compartilhou, de uma maneira ou de outra, seus sucessos com a terra natal. E é exatamente este tipo de sentimento, enraizado no inconsciente coletivo dos imigrantes, que a ferramenta “crowdfunding” quer despertar, como de um sono profundo, entorpecido pelo tempo e pela distância física e emocional.
Quanto maior a doação, melhor a recompensa
O incentivo para retomar esta relação adormecida obedece a uma série de recompensas para quem participa da doação online. Numa escala que sobe em proporção à oferta, os prêmios variam muito e, de certa maneira, modernizam os antigos reconhecimentos católicos que costumavam escrever nos pisos e nas paredes os nomes dos benfeitores, com as placas de mármore penduradas bem à vista. No caso da Eppela, vão desde a entrega de uma receita típica da gastronomia de Pisa ao registro do nome a ser conservado dentro da igreja, passando por um passeio de barco pelo rio Arno, um tour de cavalo pelo parque de San Rossore ou um passeio em zonas diferentes da cidade, com direito a paradas para desgustação de produtos típicos. A recompensa aos maiores doadores inclui uma fotografia de autor do Duomo vecchio. A campanha parte da doação de cinco euros, passando a 10, 30, 60, 120, 200 e 260, e além. Neste caso, o céu é o limite. E a via da salvação real para a igreja segue o percurso virtual no endereço www.eppela.com/it/projects/9161-sostieni-san-paolo.
Tudo isso em troca da missão de arrecadar os 200 mil euros que faltam para completar o trabalho de restauração, interrompido quatro anos atrás por falta de recursos. O orçamento total é de um milhão de euros, sendo que 800 mil euros vão ser cobertos pela Arquidiocese e entidades privadas. O esforço físico e espiritual sempre esteve presente dentro da construção e manutenção de obras eclesiásticas.
— San Paolo é uma questão de povo, resgata a memória daqueles que eram as fábricas destes antigos edifícios — diz, com ar de sermão em missa de domingo, o monsenhor Giovanni Benotto, arcebispo de Pisa.