{mosimage}Ex-ministro de dois governos de Romano Prodi, Pierluigi Bersani é novo líder do Partido Democrático (PD). Foi conduzido ao cargo com 53,2% dos três milhões de pessoas que participaram da votação. Bersani venceu outros dois candidatos: Dario Franceschini, que recebeu 32% dos votos, e Ignazio Marino (14,8%).Em setembro do ano passado, ele já tinha sido eleito líder do PD pelos filiados ao partido. O resultado foi confirmado um mês depois, quando a votação passou a ser aberta a todos os italianos commais de 16 anos e também aos imigrantes. Após a confirmação de sua vitória, Bersani declarou à imprensa italiana que o PD seria “umpartido de alternativa e não só de oposição”. O novo líder do PD nasceu em Bettola, na província de Piacenza, em 1951, em uma família de artesãos. Formado em filosofia pela Universidade de Bolonha, em 1980 se casou com Daniela Ferrari, com quem teve duas filhas.Desde muito jovem, se destacou na liderança administrativa e política de várias associações regionais italianas até que, em 1993, foi eleito presidente da Emilia-Romagna. De 1996 a1999, ocupou o cargo de ministro da Indústria, Comércio, Artesanato e Turismo do governo Prodi. De 1999 a 2001, foi o ministro italiano dos Transportes e Expedição. Em 2004, se torna um euro deputado. De 2006 a 2008, ocupou o cargo de ministro do Desenvolvimento Econômico do governo Prodi II.Bersani foi um dos protagonistas do nascimento do próprio PD. A pedido de Comunità, o deputado Fábio Porta, seu correligionáriode partido, promoveu um bate-papo com ele. — A confiança que me foi atribuída não é somente a confiançana minha pessoa, mas também a esperança de um projeto — diz Bersani.
Fabio Porta – O senhor é o primeiro Secretário do Partido Democrático,eleito após um processo democrático que, numa primeira fase, envolveu os ambientesdo PD e, depois, três milhões de eleitores que votaram nas prévias. O que o senhor pensa a respeito desta grande responsabilidade e como pensa em usá-la?
Pierluigi Bersani – Quando um número tão grande de pessoas leem documentos políticos, discutem com paixão várias plataformas e, depois, votam com consciência e conhecimento- até pagando – aquele que será eleito não pode não sentir o peso da responsabilidade que pesanas suas costas. O que aconteceu na Itália, no Congresso, e nas prévias do PD é uma coisaque não tem igual na história dos partidos europeus, nem dadireita nem da esquerda. A confiança que me foi atribuída não é somente a confiança na minhapessoa, mas também a esperançade um projeto: de construção de um partido popular, plural e reformista, radicado no território e nos lugares de estudo e detrabalho, apto a interpretar e representar o novo mundo acompanhando a época e as sociedades complexas de hoje. Um partido que não olhe somente à imediatez dos cargos e dos ministérios, mas que viva também de pensamentos a longo prazo, que tenha lugares de estudo e formação paraas novas classes dirigentes. Em suma, um partido que saiba olhar para si próprio e para a Itália investindo em formação, progresso e desenvolvimento num contexto global e de longo prazo.
FP – Os italianos no exterior também participaram do processo eleitoral que elegeu o senhor. Na América do Sul e, particularmente no Brasil, sua moção obteve quase um plebiscito. Comoavalia este resultado e o que fará para atender às grandes expectativas que nasceram entre os italianos no mundo no que diz respeito à sua liderança?
PB – Sim, os italianos no exterior olharam com paixão e empenho para o que estávamos fazendo, como sempre, falando-se em Itália: tanto que se trate do próprio partido, da própria região ou do próprio país. É suficiente pensar quanto se mobilizaram para a reconstrução após o terremoto na região de Abruzzo, para a qual organizaram enorme arrecadação de fundos. Depois, no que diz respeito às questões mais próximas de nós, os 12 mil votos dasprévias são o sinal da vontade de estar presente, de participar, de fazer com que suas vozes sejam ouvidas. Percebi logo isso tudo eem todos os eventos importantes lembrei disso: desde o primeiro discurso de apresentação a minha candidatura que fiz para jovens no Ambra Jovinelli atéaquele no Congresso de Roma. Provavelmente eles também perceberam esta minha preocupaçãocom eles, compartilharam o projeto de enraizamento e envolvimento popular que faltou paraeles nos últimos anos, intuírama possibilidade de uma mudança de atitudes para com eles quecaptaram e quiseram premiar. Vou tentar não decepcioná-los, e vou começar logo fortalecendoos lugares de participação democrática do partido no exterior e coletando, para levar adiantealgumas das principais exigências para a comunidade italianano mundo, hoje desfalcada pelos cortes deste Governo e pelo desmonte da rede consular. Neste sentido, já estamos nos mexendo e pedimos ao Governo a reintegração dos recursos financeiros, pelo menos no nível de 2009.
FP – No mundo há quase cinco milhões de eleitores italianos, dos quais um quarto somente na América do Sul. O senhor acha que a Itália presta a devida atençãoa este “eleitorado”? O que seu partido poderá fazer para dar sustento, no Parlamento e no país,às reivindicações desta “outra Itália”, frequentemente ignorada pelas instituições da Bota?
PB –Até hoje, só tiveram algumas tentativas isoladas de valorização deste grande patrimônio humano, às vezes interrompidas, outras vezes ineficazes. É claro que o caminho certo é conseguir criar uma rede no âmbito da qual as várias instituições de representação dos italianos no exterior, junto com aquelas diplomático-consulares, com o ICE, com as câmeras de comércio,os patronatos, consigam falar entre si, trocando informações e serviços para manter unido todo o tecido comunitário,feito de cidadãos e empresas. O caminho é realizar uma ligaçãoentre País (Estado e regiões), comunidade, empresas e países estrangeiros. Na América Latina, durante o governo Prodi, tínhamos começado a trabalhar bem nesta direção: é suficiente pensar nas Conferências nacionaisItália-América Latina e Caribe que o então vice-secretário Di Santo quis. Elas envolviam, nosmais altos níveis, o Estado italiano e os países latino-americanos e constatavam a presençaativa dos italianos daquele continente,de seus representantes parlamentares e de associações. Acredito que precisaríamos continuar naquele caminho.
FP – Hoje em dia, o Brasil é um dos grandes países emergentes.Graças também à presença de uma enorme comunidade de ítalo-descendentes (a maiordo mundo) esta nação está alcançandoníveis de desenvolvimento que, nos próximos anos, a levarão a ser a quinta ou sexta potência mundial. A Itália pode fazer o quê para valorizar, de verdade, este extraordinário recurso e não perder as oportunidades que se apresentam neste país?
PB – Primeiramente, não subestimar o que acabei de dizer, o que me parece que, ao contrário, este Governo faz há tempo. Depois, continuar no caminho aberto naquelaépoca pelo Governo Prodi e pelo Ministro D’Alema, tentando intensificar tanto as relações políticas quanto as econômicascom este país. Neste sentido, apresença de uma grande e organizadacomunidade italiana deve ser um instrumento de ligação ediálogo a mais, que nenhum outropaís possui.
FP – Uma pergunta a respeito da nova organização do partido, emparticular referindo-se à sua presença
entre os italianos no mundo. Como vocês pensam em seorganizar e de que forma vocês estão pensando em coordenar o trabalho dos parlamentares eleitos no exterior com a estrutura do PD no mundo?
PB – Nós constituímos, no partido, um setor de trabalho a respeito dos italianos no mundo. Éa Circunscrição exterior, estruturada de forma federal no território, onde elege seus próprios grupos dirigentes locais e nacionais.Ele tem uma Assembléia própria, formada por 44 delegadoscom representantes do mundo inteiro e um responsável nacional. Estas pessoas trabalhamjunto com os oito parlamentares do PD eleitos no exterior. Depois, têm as assembléias de círculo e de país. Estes espaços democráticos deverão funcionar de forma horizontal para desenvolverdebates, encontrar respostas políticas e criar consenso ao seuredor. Iremos desenvolver e melhorar esta organização. A síntese deste processo, depois, será de competência do centro do partido e deverá ser concentrada pelos parlamentares que, mesmo sem vínculos pré-constituídos, levam o projeto político do PD no exterior, no Parlamento ou,quando chegar nosso momento,para o Governo do país.
FP – Conhece o Brasil? Tem programada alguma viagem para o Brasil e o restante da Américado Sul?
PB – Conheci o Brasil tanto como presidente da região Emilia-Romagna quanto como ministro. É claro que irei incluir o Brasil e a Américado Sul nos meus roteiros.