Pesquisadores concluem que o velho continente precisa dos estrangeiros para produzir riqueza e pagar a aposentadoria dos idosos
A Europa enfrenta a maior crise migratória dos últimos anos. Mas como seria o continente europeu sem os imigrantes? Com dados de instituições internacionais, a Fundação italiana Leone Moressa apresentou o relatório anual intitulado “O impacto fiscal da imigração”. O documento conclui que o velho continente precisa dos estrangeiros para produzir riqueza e pagar a aposentadoria dos idosos. O Brasil está nas estatísticas. Sem imigrantes, ou seja, se fechasse totalmente suas fronteiras em 2030, a Europa realmente ficaria mais velha, mais pobre e improdutiva. Em apenas 13 anos, a população da União Europeia diminuiria 2%, caindo abaixo do atual nível de 500 milhões de pessoas. A queda demográfica mais drástica seria na Alemanha (menos 7%, de 81 para 75 milhões de pessoas) e na Itália (menos 5%, de 60 a 57 milhões). A faixa etária produtiva diminuiria. Os trabalhadores jovens seriam cada vez mais raros e ao mesmo tempo aumentaria a quantidade de idosos. Um cenário europeu apocalíptico? Não, esta seria a realidade. O relatório da Fundação Leone Moressa se baseou nos dados do departamento de estatísticas da União Europeia, Eurostat, e da Itália, Istat. Como disse o escritor Umberto Eco: “Em um período bastante breve, a Europa será um continente multirracial ou, se vocês preferem, colorido. Se vocês gostam, será assim, e se vocês não gostam será assim do mesmo jeito…”
Na Itália desembarcam centenas de imigrantes todos os dias, mas não se deve confundir aqueles que chegam à Itália atravessando de barco o Mediterrâneo fugindo dos conflitos com os estrangeiros já integrados no mercado de trabalho. Os estrangeiros que trabalham na Itália produzem riqueza e ajudam a pagar a aposentadoria dos próprios italianos. O relatório da Fundação Leone Moressa revela que, em 2015, os imigrantes que trabalham na Itália produziram € 127 bilhões de riquezas — 8,8% do valor agregado nacional. Esse valor é comparável ao faturamento do grupo Fiat, uma das principais empresas de investimento da Europa, controlada pela família Agnelli, que foi de € 136 bilhões. Volume de negócios é semelhante também ao valor agregado produzido pelo setor automobilístico alemão. No entanto, enquanto neste setor a produtividade por trabalhador é superior a € 135 mil, no caso dos imigrantes o valor agregado por pessoa empregada é pouco mais de € 50 mil.
Contribuição à previdência e impostos geram bilhões de euros anuais
A Itália conta com cerca de cinco milhões de estrangeiros regulares. A maioria desta população está empregada. Segundo os estudos da fundação, os imigrantes continuam trazendo vantagens para a Itália. Um dos primeiros benefícios da imigração são as contribuições para as aposentadorias pagas pelos estrangeiros empregados. Em 2014, as contribuições à previdência atingiram 10,9 bilhões de euros. Se dividirmos o volume total de arrecadações da previdência, em média, pode-se calcular que as contribuições de trabalhadores estrangeiros equivalem a 640 mil aposentadorias italianas. A este valor devem ser adicionados os impostos de renda pagos pelos contribuintes estrangeiros (8,7% do total de contribuintes), equivalentes a 6,8 bilhões.
Cada vez mais empresas dirigidas por estrangeiros
Também foi significativo o desenvolvimento das empresas controladas por estrangeiros. Em 2015, foram registrados 656 mil empresários imigrantes e 550 mil empresas de propriedade estrangeira (9,1% do total). Nos últimos quatro anos (2011/2015), enquanto as empresas dirigidas por italianos diminuíram (-2,6%), aquelas controladas por imigrantes aumentaram significativamente (+21,3%). Estas empresas contribuem com 96 milhões de euros para a criação de 6,7% do Valor Agregado Nacional. Ao mesmo tempo, a despesa pública italiana gastou com os imigrantes 2% do orçamento, ou seja, 15 bilhões de euros. Muito menos do que os 270 bilhões gastos com as aposentadorias dos italianos. A despesa com os estrangeiros foi principalmente com o bem-estar e a segurança.
O verdadeiro problema parece ser a produtividade. O índice de emprego entre estrangeiros é muito maior do que a dos italianos, mas na maioria dos casos (66%) se trata de empregos pouco qualificados, parcialmente justificados pelo baixo nível de educação da população estrangeira. O resultado é uma diferença muito alta de salário e renda entre a população estrangeira e a italiana, e, portanto, menos impostos pagos. Em imposto de renda, a diferença per capita entre os italianos e estrangeiros é de dois mil euros. A Fundação Leone Moressa alerta que, para manter os benefícios atuais na Itália, em longo prazo, será necessário aumentar a produtividade dos estrangeiros em vez de relegá-los a baixas profissões.
O Brasil está em vigésimo lugar entre os países de origem dos contribuintes estrangeiros que vivem em território italiano. Em primeiro está a Romênia, seguida por Albânia, Marrocos, China, Suíça, Alemanha, Ucrânia, França, Moldávia, Índia, Filipinas, Polônia, Tunísia, Egito, Bangladesh, Peru, Senegal, Argentina e Paquistão. Em 2015, segundo o Ministério italiano das Finanças, 45.377 brasileiros (dos quais 63% mulheres) declararam o imposto de renda, com um salário médio de quase 14.912 euros por ano, ou seja, cerca de 1.240 euros por mês. No câmbio atual, seriam aproximadamente R$ 4.360 mensais. Trocando em miúdos, com o custo de vida na Itália, este valor não dá pra pagar um aluguel e sustentar uma família de dois filhos.