Evento em Roma celebra as relações bilaterais com a presença do novo embaixador brasileiro Antonio Patriota
O balanço das relações bilaterais entre Brasil e Itália ocorreu num momento delicado e interessante, em 6 de dezembro, dois dias depois do resultado do referendo. Apesar da tensão no governo demissionário de Matteo Renzi, o encontro na Embaixada brasileira em Roma aconteceu em clima descontraído, mas sem esconder a realidade por debaixo dos panos. Os dois países passam por problemas macroeconômicos e enfrentam desafios, como a luta contra a desigualdade social. Tratou-se do primeiro encontro público do novo embaixador Antônio Aguiar Patriota. Ao lado dele, estavam a vice-presidente da Câmara dos Deputados e presidente da Comissão colaboração Itália-Brasil, Marina Sereni; o vice-ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional, Mario Giro; e o deputado ítalo-brasileiro e presidente da Associação de Amizade Itália –Brasil, Fabio Porta.
O embaixador Patriota abriu o evento, lembrando que, em julho passado, o primeiro-ministro Matteo Renzi esteve no Brasil para a cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio. Naquela ocasião, ele decidiu enviar uma missão empresarial ao país na expectativa de realizar negociações e oportunidades de investimentos.
— A Itália é o segundo parceiro comercial do Brasil na Europa. Embora o balanço nos últimos anos tenha registrado uma queda, os números de janeiro a outubro de 2016 foram significativos e indicam que o fluxo comercial entre os dois países foi de US$ 5,9 bilhões, com um aumento de cerca de 4% das exportações brasileiras em relação ao mesmo período do ano passado. A Itália é o 12° principal investidor no Brasil — ressaltou o embaixador brasileiro.
Antonio Patriota falou sobre o novo pacote de concessões para as privatizações de 2017/2018 anunciado pelo presidente Michel Temer em setembro, o que renovou o interesse dos empresários italianos pelo Brasil. Tanto quem, entre 23 e 25 de novembro, foi realizada a missão empresarial guiada pelo vice-ministro do Desenvolvimento Econômico Ivan Scalfarotto. A missão contou com grande participação de empresários e representantes de diversas categorias e universidades, que organizaram eventos em Brasília, São Paulo e no parque tecnológico de São José dos Campos (SP).
— A cooperação acadêmica e de pesquisa representam uma importante ligação entre os dois países. Em 2016, o Brasil manteve a posição como país com o qual as universidades italianas tiveram o maior número de acordos. A cooperação no campo militar e da defesa também foi intensa, além da recordação da força de expedição brasileira que combateu na Itália durante a Segunda Guerra mundial. Ressalto o acordo entre o Exército brasileiro e a Iveco e algumas empresas brasileiras para o desenvolvimento e a produção de veículos blindados Guarani. As primeiras unidades foram entregues em 2014 e em 2016, como concordado — disse ele.
Comércio internacional é importante para superar as dificuldades econômicas em ambos os países
A crise econômica vivida pelos dois países não foi esquecida.
— Como se sabe, o Brasil está enfrentando uma situação econômica difícil devido a causas internas e políticas. A democracia brasileira é sólida e se sobrepõe aos conflitos ideológicos. Superados os momentos difíceis, o governo brasileiro está tomando as medidas necessárias para corrigir os desequilíbrios macroeconômicos e criar condições para o crescimento. Neste processo, junto com a atual recuperação fiscal, o comércio internacional e os investimentos terão um papel significativo — afirmou o diplomata brasileiro.
Segundo Patriota, a Itália também está se empenhando numa dura batalha para superar a estagnação econômica dos últimos anos.
— O resultado do referendo representa a conclusão de um ciclo e deveria ser visto também como a vitória da democracia. A participação popular foi elevadíssima, com o comparecimento de 68,5% do eleitorado às urnas na Itália e no exterior. Na América do Sul, foram quase 380 mil votantes.
Para Patriota, o ano de 2017 deve ser encarado com otimismo.
— Será um ano de trabalho e diálogo, com a comemoração do 60° aniversario do Tratado de Roma, que ganha um significado especial em tempos de euroceticismo.
Ele destacou também a reunião do G7 em Taormina em maio de 2017, na qual será predominante a agenda de 2030 para o desenvolvimento sustentável.
Como representante do Brasil junto às Nações Unidas em Nova York antes de ser nomeado embaixador da Itália em agosto de 2016, Antônio Patriota lembrou que no próximo ano será o início do mandato italiano no Conselho de Segurança da ONU, contando com o apoio do Brasil.
— A Itália e o Brasil construíram uma longa tradição de relações, intenso diálogo político e relações econômicas sólidas, além da troca de opiniões sobre questões internacionais de atualidade e aproximação sociocultural, que conta com a grande contribuição de brasileiros de origem italiana, estimada em torno de 30 milhões. É considerada a maior comunidade no exterior, além do intenso fluxo turístico entre os países.
O embaixador brasileiro lembrou também que em 2017 Pistoia será a Capital na Cultura. No cemitério desta cidade, estão os corpos de 465 soldados brasileiros que morreram durante a Segunda Guerra mundial.
— Em 2017, a Embaixada vai organizar uma exposição de um dos maiores pintores brasileiros de origem italiana, Candido Portinari — adiantou.
Atividades de cooperação bilateral reforçam acordo assinado em 2002
A vice-presidente da Câmara dos Deputados Marina Sereni mencionou as ligações históricas, culturais e institucionais entre o Brasil e a Itália.
— O acordo de colaboração assinado em 2002 entre os presidentes da Câmara dos Deputados da Itália Pierferdinando Casini e do Brasil Aécio Neves, ao longo dos anos, comprovou a sua solidez com tantas atividades de colaboração bilateral. Não era óbvio, pois o Parlamento italiano tem acordos com parlamentos de vários países e muitas vezes estes acordos permanecem adormecidos — disse.
Sereni ressaltou também a importância dos parlamentares italianos eleitos no exterior, na América Latina, principalmente no Brasil, os quais, segundo ela, são os melhores exemplos de participação.
— Estivemos no Brasil entre 3 e 9 de julho deste ano, em pleno procedimento do impeachment, ou seja, num período de turbulência que pensávamos que fosse incompatível com a nossa atividade. O sentimento era de um país com muitos problemas em uma fase complexa e difícil da vida política e institucional, mas capaz de encontrar respostas nas instituições democráticas.
Ela destacou a necessidade de aproximar os cidadãos das instituições democráticas, citando o referendo constitucional italiano.
— Temos um desafio em comum: as reformas institucionais e políticas. As reformas da Constituição italiana foram aprovadas no Parlamento, mas foram reprovadas pela maioria dos cidadãos no referendo. Vamos ter que começar de novo. As instituições parlamentares são percebidas pelas pessoas como uma coisa distante, ao menos que não sejam úteis e capazes de dar respostas às necessidades imediatas.
Lição brasileira:
a convivência com a diversidade
O vice-ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional Mario Giro também abordou os desafios em comum da Itália e do Brasil: conciliar o desenvolvimento sustentável com o equilíbrio social e aprender com a diversidade.
— Faço uma autocrítica. Nós, europeus, achamos que tudo acontece aqui na Europa e no máximo olhamos para os Estados Unidos. É importante olhar para a América Latina e principalmente para o gigante Brasil. Este é o desafio da globalização. O Brasil ensina que a convivência com a diversidade é possível.
Giro ressaltou também a importância das parcerias:
— Não basta exportar. A cooperação envolve parcerias. É isso o que a Associação de Amizade entre a Itália e o Brasil está fazendo ao incrementar as relações de internacionalização.
Gestos concretos, ressalta Porta
O deputado Fabio Porta concluiu o evento, lembrando que, quando fundou a Associação de Amizade Itália-Brasil seis anos atrás, era necessário ir além.
— Queríamos que fosse um instrumento útil porque já temos tantas representações fortes como Consulados e Embaixadas. Nossa intenção é nos colocar à disposição dos cidadãos e aproximá-los da representação política com atividades culturais, institucionais e econômicas. Somos dois países ligados aos vínculos de sangue, duas realidades complementares. É importante consolidar esta amizade com gestos concretos para as comunidades — ressaltou.