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Não é oriundi, imagine se fosse…

25 de abril de 2013 - Por Comunità Italiana
{mosimage}Não é difícil bater um papo com o apresentador Fausto Silva, o Faustão. E olha que foi preciso interromper a conversa em seu camarim, no Projac, para que ele pudesse, enfim, descansar de uma extenuante gravação do programa, que foi ao ar no domingo de Carnaval. Pausa? Nada disso. “Você não vai me perguntar nada sobre a Itália?”, inquiriu ele. Afinal, quando o assunto é “cultura italiana”, Faustão tagarela como nunca. Ele mesmo afirma não entender direito porque ama tanto a Bota. Em uma bem-humorada entrevista à Comunità, o apresentador falou sobre a transição da carreira de jornalista para a de apresentador de TV. E se justificou por ser avesso a entrevistas. Faustão começou a carreira aos 14 anos, na Rádio Centenário de Araras, do interior paulista. O saudoso radialista Blota Júnior é quem o descobriu. Foi repórter durante 20 anos do jornal O Estado de S.Paulo. Trabalhou na rádio Excelsior, onde despontou como um inovador apresentador de auditório ao comandar o revolucionário programa “Balancê”, na década de 1970, transmitido ao vivo do Teatro Piolim. Do jornalismo, extraiu a versatilidade e conhecimento que, garante ele, foram decisivos para compor o “Fausto Silva da TV”, que surgiu em 1982, no programa “Perdidos na noite”, que varava as madrugadas da TV Bandeirantes. Uma experiência que mantém há 17 anos ininterruptos o programa Domingão, da TV Globo. No final da entrevista, perguntei se iria ao show dos Rolling Stones, que aconteceu na noite daquele sábado em que conversamos no Projac: “Rolling Stones?! Que nada… vou mesmo ao Rolling sono”. Finalmente terminamos o bate-papo porque, no dia seguinte, o programa seria transmitido ao vivo.




Comunità — Por que você concede poucas entrevistas?
Faustão — Se eu abrir exceção terei de fazer trezentas entrevistas por dia. E não é porque sou importante, ou porque sou de televisão, não. Trabalhei em jornal, no Estadão [O Estado de S.Paulo], há mais de 20 anos e essa área de televisão é terrível. É por que não tem assunto. Nessa área de quem faz [jornalista que cobre bastidores da TV] televisão só se verifica merda. Aí, não tem assunto.

C.I. — O professor de linguagem verbal Reinaldo Polito lançou um livro no seu antigo programa [Perdidos na Noite, da TV Bandeirantes na década de 1980] e disse que a primeira edição esgotou em menos de uma semana após a entrevista contigo. Qual a receita para um apresentador exercer essa influência no público e manter um programa há 17 anos, como é o caso do “Domingão”?
Faustão — O fato de eu ter trabalhado muito tempo em rádio e em jornal me ajudou muito quando fui para a televisão. Trabalhei mais em TV do que em jornal. Trabalhei no Bom Dia São Paulo [TV Globo], TV Record… o jornal te dá o conteúdo. Você tem de fazer o lide [as perguntas “o quê?”, “quando?”, “quem?”, “onde?”, “como?” e “por quê?” feitas por jornalistas para uma reportagem], fazer a observação pessoal, todas essas coisas. O rádio tem aquele imediatismo, agilidade, que são insuperáveis e, principalmente, porque se trabalha em condição adversa. Trabalhei em reportagem geral, cobertura de incêndio, polícia, política, chá da primeira dama. Tudo isso, mais programas de rádio, de música, de jornalismo, cobertura de carnaval, sexta-feira santa, desfile de sete setembro… o rádio te obriga a ficar muito tempo a enrolar, no bom sentido. Tudo isso me ajudou na TV. Agora, não procurei, de forma obcecada, obstinada ou neurótica, essa coisa de sucesso na televisão. Como dizem: “Nada acontece por acaso”, porque já tinha vinte e poucos anos de jornalismo. Eu ia comprar uma rádio no interior de São Paulo, aí recebi a proposta para fazer o Bom Dia São Paulo.

C.I. — Qual era a rádio?
Faustão — De Campinas, Araras e Batatais, a Rádio Clube Ararense.

C.I. — Você começou a carreira aos 15 anos mesmo? Quem te descobriu, afinal?
Faustão — Quatorze anos, na verdade, em 1964. Gozado… eu curtia muito rádio e futebol. Quando fui para Campinas foi para jogar bola no Guarani, com o Cilinho.

C.I. — O Cilinho, que foi técnico do São Paulo na década de 1980?
Faustão — Isso mesmo. Ele estava começando a carreira de técnico, em 1963 ou 64. Naquele tempo se quisesse ser modelo, jogador de futebol, cantor — puta, meu! —, a família era contra. Tinha que estudar e o cacete. Hoje, é o contrário. Se o cara quiser estudar na faculdade, não. Entra lá no Big Brother, vai ser modelo… mudou completamente. Aí, acabei indo trabalhar em rádio por brincadeira mesmo. Gostava de rádio e o meu pai tinha amizade com o Blota Júnior [um dos mais conhecidos radialistas de São Paulo, morto em 22 de dezembro de 1999]. Através dele comecei a trabalhar no rádio de 1964 até 1970.

{mosimage} C.I. — O que você apresentava naquela ocasião?
Faustão — Tudo o que você possa imaginar. O rádio no interior é bom porque você fala um monte de besteira e numa rádio grande, falamos menos. Em rádio no interior tem de fazer a “hora da Ave Maria”, programa sertanejo, programa policial, entrevista, noite de autógrafos, que é outro apogeu da merda [sic] também. Você cobre carnaval… essa fauna toda acaba ajudando para que se tenha versatilidade. O fato de ter uma cultura bastante diversificada, de trabalhar com texto, na cobertura do Papa, incêndios do Joelma e do Andraus [O primeiro, em 1974, o segundo, em 1972], cobertura de seleção brasileira, Copa do Mundo… tudo me ajuda na improvisação. Uma boa dose de informação para fazer [o trabalho na TV] com emoção. O programa de domingo tem de ser feito para todas as classes, todas as idades, no pior dia da semana porque é o dia em que todo o mundo está vendo televisão junto. Durante a semana tem horário específico para criança, para jovem, para o esporte, para novela, para o jornalismo… domingo, não.

C.I. — Muitos criticam os repórteres que cobrem futebol, mas muitos deles foram bem sucedidos…
Faustão — Você pega Joelmir Beting, Armando Nogueira [profissionais que iniciaram a carreira no jornalismo esportivo]… você tem toda a razão. Há um preconceito porque dizem que o “pessoal que sai do esporte é alienado”. Isso não é verdade. Há vários exemplos de gente que saiu do esporte [do jornalismo esportivo] e se deu bem em outras atividades.

C.I. — A que você atribui esse preconceito?
Faustão — Preconceitos de todos os tipos. A vida, na verdade, é um grande jogo. Ou se entra em campo e toma pontapé, perde e ganha, ou fica na arquibancada. Você se expõe. O esporte [a cobertura jornalística] te dá versatilidade. Tanto que um cara sai do esporte e vai para a editoria de política, local, cultura e se dá bem. Agora, o inverso não acontece. Nós estamos no país dos preconceitos. Se há um país com a maior hipocrisia, é aqui. Onde fala que “não há racismo”, se fala que “existe uma igualdade”. Existe porra nenhuma! É o país do “faz-de-conta”. Se esquece um pouco disso no carnaval. Se o brasileiro tivesse um por cento da seriedade, da união, do espírito de patriotismo que tem na Copa do Mundo e tivesse esse um por cento no resto, a gente não estaria na situação em que estamos. Veja o problema da educação. Só sairemos disso se haver educação decente. Isso, não tem.

C.I. — Todo o repórter de futebol tem as histórias mais inusitadas possíveis…
Faustão — Tenho várias. De futebol tem uma porrada de jogadores que dizia: “Ah, estou hoje realizando um sonho, vou jogar na cidade aonde Jesus nasceu: Belém do Pará”. Porra! [risos] Não lembro quem falou isso, mas tenho um conteúdo desse tipo dito por um repórter. Fomos cobrir um jogo em Jaú e um repórter estava num churrasco e tomou um limão [caipirinha]. Dormiu, e dormiu atrás do gol. E aí, durante o jogo, saiu um puta de um quebra-pau do lado dele e ele estava lá, roncando. Acho que era o Jaedson. Aí o cara [locutor] falou: “O que houve aí, Jaedson?”. Ele disse assim: “Ouve a rádio educadora de Campinas”. Daí, ele acordou [risos].

{mosimage}C.I. — Estamos falando de sua carreira, mas a revista é para a comunidade italiana. Aliás, você viajou recentemente à Itália?
Faustão — Não sou oriundi, mas esse meu amor pela Itália descobri através de amigos italianos aqui, no Brasil, e, principalmente, do Paulo Roberto Falcão. Fiz amizade com o Falcão quando ele surgiu na Taça São Paulo [de 1972, jogando pelo Internacional de Porto Alegre] e, por interesse comum, tanto meu quanto do Falcão, por moda, levei ele à várias confecções de amigos que tenho em São Paulo. Aí, nasceu uma amizade e — quando o Falcão já estava em Roma — fiquei uns quatro dias e fui à casa dele em Balduina, na via Alfredo Prusco, cento e sete. Ele morava num condomínio aonde também morava o Giuliano Gemma. Foi ele quem começou a me mostrar o lado de moda. Nem ele sabe disso. Depois, não tive chance de contar. Estamos sempre juntos, aqui, mas um dia falei a ele que foi essa infl uência dele que fez com que eu me aprofundasse nas coisas da Itália. Fiz amizade com italianos que vivem aqui, como Geraldi Andriello, que é hoje o principal industrial da área de tecido e moda, é dono da Fidelli, tem cinco fábricas em São Paulo, e veio para cá em porão de navio; o velho alfaiate Raffaele Minelli, que foi um marco na história da elegância em São Paulo; Giovanni Bruno, Giancarlo Bola, Massimo Ferrari, Luciano Polarini e os irmãos Neroni [todos do ramo gastronômico]. Vou pelo menos duas vezes por ano à Itália. Tudo que você possa imaginar, eu conheço, quer dizer, só não conheço a Sicília. Historicamente eu já tinha ligação com a Itália. Conheço mais de 50 cidades, já fui mais de 40 vezes lá. Tenho um envolvimento total com aquele país a tal ponto que os meus cachorros são italianos, da raça “cane corso”. Fui eu quem trouxe a raça para o Brasil. Tenho amigos na Itália: Eros Ramazzotti, Tiziano Ferro, Nico Fidenco, Laura Pausini, Pepino di Capri. Quando eles vêm aqui, se surpreendem com o meu conhecimento sobre a Itália. Já cheguei para o Pepino di Capri e conversamos, brincando, no dialeto napolitano. Os próprios italianos se surpreendem comigo por eu não ser oriundi e falar italiano e gostar da Itália como eu acho que poucos italianos gostam do país e o admiram tanto quanto eu.

C.I. — Qual o seu clube de coração na Itália?
Faustão — Gozado, não tenho. Curto o Milan, a
Roma… acompanho tudo pela televisão.

C.I. — Na sua árvore genealógica não há mesmo nenhum parente italiano?
Faustão — Nada, nada. Tudo origem portuguesa. Minha esposa [Luciana Cardoso] tem cidadania italiana pelo lado da mãe e portuguesa, pelo pai. Ela não tem a cidadania italiana, mas sim a portuguesa.

C.I. — Já que é um amante da Itália, não pensa em obter a cidadania por parte da sua esposa?
Faustão — Isso não me frustra. Sou muito bem tratado por lá [na Itália]. A única crítica que faço está na questão da educação familiar italiana, que é complicada para eles próprios e acaba prejudicando. Eles exigem que os filhos morem perto deles.

C.I. — O último censo italiano apontou índices absurdos de analfabetismo, abaixo até de países menos desenvolvidos economicamente…
Faustão — O que me frustra, às vezes, é que, na verdade, a Itália não percebeu a força que tem. Era para estar numa situação melhor do que está.

C.I. — Se pudesse votar na Itália, votaria em quem?
Faustão — Não falaria da vida interna da política da Itália. Até porque não tenho conhecimento profundo sobre essa questão. Não vivo lá para valer. Então, qualquer coisa que eu fale posso estar falando besteira e prefiro não opinar. Agora, país que tem Roberto Benigni, Vitório Sgarbi e Renzo Arbore; toda a parte da televisão e cultura italianas; Domenico de Masi… tem o jornalista Gerardo Landulfo, que é da editora Polvani… assino todas as revistas que se referem à Itália. Acho que nunca vi um caso doido de paixão pela Itália como o meu.

C.I. — Participa da comunidade italiana no Brasil?
Faustão — Em nada. Tenho só ligação afetiva e admiração pela fibra de histórias do povo italiano, que veio no navio. Embora não tenha nada de italiano é cada vez maior meu envolvimento com a Itália.

C.I. — O italiano promoveu uma das maiores diásporas nos últimos 200 anos por todo o mundo. Só no Brasil são mais de 25 milhões de oriundi…
Faustão — É, através da gastronomia, arte, cultura, música e esporte. Volto à Itália, no final de abril. Devo ficar uns 15 dias, mas já fiquei um mês e meio. Vou geralmente para assuntos que as pessoas nem imaginam, sejam eles de moda, artesanal, cerâmica e etc.. A Itália é um museu a céu aberto. É o museu do design, do Armani. Vou à Fucecchio, onde tem uma fábrica de sapatos e onde fiz amizade com um tal de Bruno da Reriz e então fico sabendo de todas as novidades da área. Vou à Montecatini, um lugar de turismo mais procurado pelos italianos. Vou lá há mais de 15 anos. Quando vou para Valencia Pò, a cidade onde tem mais de 150 ourivesarias. Visito tudo por lá: às vezes saio de Roma e vou a Bari, que é uma cidade fascinante e o dialeto barese é muito legal. As regiões que não conheço são Basilicata, Calábria e Sicília. O resto, já fui a tudo.

C.I. — Você disse há pouco que a Itália precisava reconhecer mais a força que tem…
Faustão — O problema da Itália está em olhar para si mesma. Eles têm tanto orgulho de si mesmos, mas falta foco. O italiano, às vezes, complica coisas simples. É o povo mais criativo do mundo, mais simpático. A humanidade vai reconhecer um dia toda contribuição dessa comunidade italiana em cada país, seja fazendo café, não só na pasta, na pizza, no carpaccio, mas na movelaria, marcenaria, design…

C.I. — Os brasileiros herdaram um pouco disso tudo que você mencionou?
Faustão — Ah, sem dúvida. Sou apaixonado pela Itália. Para você ter uma idéia, curto toda a programação da televisão italiana, mesmo sendo uma programação mais antiga, mais lenta. Nada a ver com a brasileira. De algumas coisas eu gosto da RAI. Sei tudo o que acontece na vida artística italiana. Te juro, não sei nem explicar essa paixão pela Itália. E eu não bebo, nunca bebi na vida nem cerveja, vinho… nada. É curioso. Nem eu sei explicar porque não bebo. Trabalhei em jornal, rádio… lugares em que todo o mundo bebe e fuma, mas eu nunca bebi. Meu pai incentivou os filhos a beberem, mas eu não consegui. Somos seis irmãos, cinco irmãs e eu. Sou o mais velho. A única droga em que mexo é o meu programa [risos]. (colaborou Luciana Bezerra dos Santos)

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