Empresas italianas de olho no crescimento econômico do estado buscam acordos com o governo local
{mosimage}A transformação do estado de Pernambuco de patinho feio em cisne branco da região Nordeste não pegou de surpresa os italianos do Norte do país. Décadas atrás, no rastro das belas praias e coqueirais, com águas claras e areia branca, desembarcaram os primeiros “imigrantes” modernos, turistas apaixonados que viraram investidores e criaram raízes em Olinda, Recife e arredores. Tudo muito artesanal, pioneiro e aventureiro até o amadurecimento e crescimento do distrito industrial do porto de Suape. Hoje, o governador Eduardo Campos colhe os frutos de 30 anos de investimentos e lança com mais força ainda o potencial desta região que se desenvolve a olhos vistos e atrai os empresários italianos. Não por acaso, cem deles lotaram o auditório da Câmera de Comércio de Milão, no centro da cidade.
Entre os dias 22 e 26 de março, Campos esteve na Itália para firmar aliança na construção de uma nova fábrica da Fiat no Brasil. Acompanhado pelos secretários Maurício Rands e Geraldo Júlio, participou da Conferência sobre Oportunidade de Comércio e Investimentos no Estado brasileiro de Pernambuco e do Seminário Itália-Brasil: De olho no Estado de Pernambuco, em Roma e Milão, respectivamente.
Para o presidente da marca no Brasil, Cledorvino Belini, “a opção por uma nova planta é resultado de um conjunto de condições favoráveis oferecidas pela região. Assim como aconteceu quando se instalou em Minas, nos anos 70, a parceria entre a Fiat e o governo de Pernambuco resultará em grandes sinergias, com ganhos mútuos para a empresa e para o Estado, através do crescimento da atividade econômica, da formação de capital humano e da diversificação industrial”.
Mais do que passar o chapéu junto aos pesos-pesados da economia italiana – localizada no norte do país – o governador veio explicar os motivos e as razões que fizeram o estado de Pernambuco desbancar a Bahia e vizinhos e se tornar uma espécie de capital do Nordeste brasileiro. Claro, por tabela, novos interessados são sempre bem vindos, principalmente, aqueles que chegam de carona no anúncio da Fiat, que já vai tirar do bolso 1 bilhão e 200 milhões de euros para abrir uma fábrica no estado, em 2014. Uma porta abre outras.
— Boa parte dos problemas que enfrentamos era por conta da situação do próprio país. As últimas eleições serviram para varrer da política nordestina a velha prática patrimonialista e descolada de qualquer espírito público. Conforme melhora a educação, a inclusão, conforme se reduz os desequilíbrios, também melhoramos a política. Isso tudo faz que o Nordeste se apresente não mais como problema, mas como parte da solução. Não estamos discutindo 2014 ainda. Nosso projeto é fazer com que Dilma chegue bem e dispute a reeleição — analisa o governador.
O terreno para a construção da nova fábrica foi cedido pelo estado. Campos acredita que a parceria gerará muitas oportunidades.
— Certamente reverterá em impostos e empregos quando a indústria começar a operar. Assinamos um acordo com o Instituto Politécnico de Turim para fazer um intercâmbio de engenheiros entre os dois países. Estudantes das nossas universidades passarão três anos aqui, terminando sua formação, e depois devem voltar ao Brasil pra trabalhar na fábrica. Queremos fazer uma ligação entre a nossa academia e a indústria — completa.
Na realidade, o que está acontecendo é a redenção de uma região que, por muito tempo, ficou na sombra do quadrilátero do poder político e econômico do Brasil, ou seja, Rio, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Pernambuco se tornou a locomotiva de um “novo” Brasil por uma série de fatores que, agora, conjugam em um franco e inexorável desenvolvimento. O crescimento econômico do Brasil acordou o gigante adormecido e o interesse dos investidores estrangeiros em áreas e setores com grande margem de valorização, incentivos fiscal e territorial e posição logística estratégica. O porto de Suape se encaixa como uma luva nesses quesitos imprescindíveis para atrair e manter em solo pernambucano os sonhos dos capitalistas, socialmente responsáveis e politicamente corretos, atentos à sustentabilidade dos projetos. Descontos na ordem de 75% no pagamento das taxas, valores que devem ser reinvestidos na planta industrial, financiamentos do BNDES via Banco do Nordeste do Brasil – de pai para filho, devido à grande liquidez – proximidade com a África para a travessia do oceano Atlântico e caminho para o canal do Panamá, em vias de dobrar de dimensão para facilitar o escoamento das mercadorias rumo à costa oriental dos Estados Unidos e à Ásia: este foi o recado do governo de Pernambuco aos italianos do norte.
O faro fino da Promos, agência de promoção de investimentos em terra estrangeira da Câmera de Comércio de Milão, também detectou no Nordeste brasileiro um futuro promissor.
— Esta é uma colaboração lógica no campo da indústria, queremos participar deste crescimento e temos as chaves para fazê-lo. Petróleo, gás, turismo, equipamentos agrícolas, estaleiro naval, o setor da petroquímica, enfim, temos oportunidades para todas as áreas.
Aqui, damos passos importantes para passar das intenções aos fatos — afirmou Andrea Bonalumi, de olho nos 50 milhões de nordestinos potenciais consumidores. E os italianos estão com pressa. Eles não querem perder o trem da história carregado com datas importantes como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Em Milão, a diretoria da siderúrgica italiana Danieli anunciou a antecipação, em dois anos, da abertura dos fornos que estava prevista para 2014, com a previsão de produzir tubos e estruturas de aço, de olho nas licitações públicas e na encomendas do mercado privado e aquecido pelo consumo. Com isso, a joint-venture tecnológica com a brasileira Cone S/A, na Companhia Siderúrgica de Suape, a CSS, já está na pista, e a geração de três mil novos empregos entra na contagem regressiva para começar ainda neste primeiro semestre.
Antes da Danieli e da Fiat – a bem da verdade, de Turim – outra fábrica do norte da Itália, a M&G, maior produtora mundial de Pet, já tinha desembarcado em Pernambuco, nos arredores da cidade de Ipojuca. O diretor Marco Ghisolfi incentiva os empresários italianos a prestarem mais atenção ao estado nordestino.
— A energia e a vitalidade que se respiram no Brasil não se respiram mais por aqui. Inauguramos a nossa planta em 2007, com a presença do então presidente Lula. Fomos atraídos por uma série de fatores positivos e hoje aproveitamos a expansão do consumo de alimentos no Nordeste. Conhecemos o estado, apreciamos a disponibilidade e viemos. O estado cresceu e o porto é um dos mais importantes — disse ele diante da plateia. E, com a ocasião, a diretora do grupo Ponà Partners, Paola Basso, na saída da palestra, “encostou” o governador Eduardo Campos na parede e quase arrancou dele, ali mesmo, um contrato para a construção de casas pré-moldadas populares para amenizar os sofrimentos das famílias vítimas das chuvas que castigaram a Mata Sul. “Temos um preço muito competitivo e muita vontade de nos estabelecermos em Pernambuco”, afirmou ela, que marcou uma reunião para a semana seguinte, em Recife.
Itália e Pernambuco constroem uma ponte com a qual a União Europeia e o Mercosul ainda nem sonham. A guerra das tarifas alfandegárias aos produtos industrializados de um lado, contra os subsídios agrícolas do outro, paralisam as negociações dos dois blocos. O protecionismo mútuo cobra o seu preço. E a saída para estimular o comércio é o atalho bilateral. Depois da interrupção das discussões em 2004, em maio de 2011 se retomam os debates. Enquanto isso, o estado de Pernambuco esfrega as mãos e assiste de camarote à perspectiva de dobrar a renda média da população e de aumentar o poder aquisitivo dos habitantes. Crescendo a um ritmo de 10% ao ano, em sete anos dobra-se a riqueza acumulada do estado. Os economistas fazem as contas, os diplomatas negociam e o estado de Pernambuco segue adiante, sem freios ou complexos. No império nordestino, a cidade do Recife é a menina dos olhos e, não por acaso, a sede do governo fica no campo das Princesas.
E Olinda, como o próprio nome diz, é bem ali, ao lado.