{mosimage}Mostra organizada em Milão e eternizada na web deslumbra visitantes com uma imensidão de objetos de luxo da modernidade
Na Triennale de Milão, a mostra C25-Options of Luxury: the Exhibition abriu as portas e as janelas dos principais criadores de objetos do desejo comprados por poucos e desejados por muitos, desde que o conheçam, claro. Ao final, o luxo é, ou pelo menos foi, durante muito tempo, uma exclusividade para alguns eleitos. O célebre escritor inglês, Oscar Wilde disse: “Concedam-me o luxo e fiquem com o necessário”. Mas, como fazer a menos de uma Ferrari California, cabriolet, 1964, depois de tê-la conhecida? Ou, como resistir àquela bolsa mágica de Prada? Ou fingir não ter notado aquele vestido longo e vermelho Valentino? E as jóias e Tiffany? E quem não gostaria de tirar da carteira o mítico cartão de crédito Black? Enfim, agora, imagine tudo isso, lado a lado, numa mega exposição, com 225 empresas que revelam e exibem as peças que marcam o mercado internacional do luxo. Pois bem, quase 300 ícones e bens de consumo de alta gama desfilam diante dos olhos dos visitantes hipnotizados pela quantidade, variedade e pelo valor da mostra.
Moda, design, motor e tecnologia ditam as regras de um mundo que, lentamente, redescobre no ambiente em exibição uma mega-serra com plantas e a maquete de uma ilha perfeita e, no uso do tempo, os luxos máximos que não estão à venda em nenhum lugar e, por isso mesmo, não podem ser comprados. Para todo o resto existem cartões e contas bancárias, com e sem fundo.
A mostra, com curadoria de Italo Rota, comemora os 25 anos da revista Class — uma das mais influentes do mundo do luxo — elaborada dentro de um percurso de 12 instalações. O espaço da Triennale criou um ambiente único, uma espécie de shopping center e museu dentro dos quais estão as peças que marcaram uma época e outras que estão sinalizando o futuro.
Não por acaso, a mostra, graças à internet, democraticamente, ganha vida eterna no site http://class25.com. Nascida em Milão, viaja para Nova York, Seul e, em negociação, São Paulo.
Bugingangas de luxo
No corredor principal, em meio a dezenas de objetos de níquea, se destaca a miniatura de Steven Jobs, o criador da Apple, o homem que revoluciona o conceito da comunicação online e faz com que Bill Gates pareça um animal pré-histórico. Ambos, por mais parodoxal que seja, se vestem de maneira simples. E como integração e interação são palavras-chave da sociedade moderna, os curadores da mostras pensaram bem em criar uma bolsa gigante, Hermès, naturalmente, dentro da qual o visitante pode viver sensação de “ser” um objeto em boa companhia, ou seja, com um tablet nas mãos, ele pode ver e ler informações sobre canetas, jóias, celulares de última geração e outra “bugingangas” — de alto luxo, claro — que são transportadas dentro da bolsa. Sem falar nos cartões de crédito e de milhagem, reproduzidos na estofa interna bem à vista. E tudo isso ouvindo a gravação de sons das ruas, dos escritórios, enfim, do mundo externo.
Raridades e maestria compõem a sinfonia dos objetos de luxo. Em uma das instalações, sapatos, vestidos, bolsas, malas e jaquetas e paletós desfilam diante dos olhos do espectador em pequenos pratos. Eles circulam por uma sala que homenageia os acessórios de quem escreveu a história do luxo da alta costura, como Giorgio Armani, Versace e Valentino. Logo ao lado, uma imensa sala reproduz os bastidores de um desfile. Um gigantesco secador de cabelos ocupa parte do espaço e, ao invés de lançar ar quente, projeta imagens e entrevistas de personagens do mundo da moda. Uma série de espelhos de camarim exibia cenas de mãos que executavam os movimentos que os cabeleireiros e os maquiadores realizam nas modelos. E em araras, os sonhados e desejados vestidinhos Prada.
Poltrona Frau e Loro Piana
A poucos metros dali, está uma grande instalação, com várias máscaras venezianas, em tamanho grande, dentro das quais o visitante aproximava o rosto e assistia a diferentes filmes que retratam o estilo luxuoso de viver, como, por exemplo, participar de um cruzeiro marítimo (que hoje se tornou acessível às classes média e remediada) e que levanta a questão do luxo exclusivo e da “popularização” do luxo.
Não faltam mobílias de design, como poltronas de Le Corbusier, cadeiras de Philippe Starck e móveis dos brasileiros Fernando e Humberto Campana. Tudo lado a lado, decorando uma hipotética “cabana”. Os organizadores criam uma palafita para abrigar peças produzidas por marcas como Cassina, Driade, B&B Italia, Artemide, Edra, Poltrona Frau, e a lista segue… Enfim, a mostra procura dar ferramentas ao espectador para responder a uma simples pergunta: “Por que compramos aquilo de que não precisamos?!” E vai além, ao propor uma seção de vintage, bem ao lado de um mostra de plantas tropicais, orquídeas, e de ambientes hostis, como cactos dos desertos, com vídeos que lembram a necessidade de respeitar a natureza. Ali, bem ao lado, como se voltassem para o futuro, estavam também uma motinha Vespa, uma Ape Calessino (dos anos 50) e um manequim vestido com um casaco Loro Piana (um clássico absoluto da lã de caxemira), só para lembrar que verdadeiros ícones nunca saem de moda.
E, para terminar, uma paradisíaca ilha em modelo de maquete, com mini-instalações de vídeos, com cenários semelhantes àquele do filme A Praia (que existe e é uma ilha de verdade na Tailândia). Nas belas enseadas, estão ancorados veleiros e iates futurísticos. Em “terra firme”, na areia e em clareiras abertas na floresta (que lembra aquela do filme King Kong, com direito a um vulcão coberto pela vegetação), havia “pousadas” de refinada arquitetura e aeroportos futurísticos. Como se o grande luxo fosse aquele de viver bem tendo a natureza como quintal da existência, com pés descalços na areia, mas com um anel Cartier no dedo, calça jeans esfarrapada (e não “batida” pelo processo industrial), sem camisa, mas com uma echarpe Hermès no colo. Enfim, o conceito de luxo segue se transformando com as metamorfoses sociais e humanas, e descobre-se que, nos dias de hoje, tempo e espaço não se encontram nas prateleiras das lojas requintadas da via Montenapoleone. Estas duas mercadorias hiper-luxuosas não estão à venda em nenhum lugar. Para encontrá-las, é preciso negociar muito, cada um dentro di si próprio.