{mosimage}Situação econômica vira protagonista no Festival de Cinema de Roma, que reuniu filmes de diversos países contando os problemas econômicos na Europa e nos Estados Unidos
Cenas que falam das crises econômicas que assolaram o mundo nos últimos anos, sob diversas perspectivas, são vistas nos filmes selecionados para a sexta edição do Festival Internacional de Cinema de Roma, que aconteceu de 27 de outubro a 4 de novembro. Formado por cineastas como Susanne Bier e Carmen Chaplin, o júri internacional foi presidido por ninguém menos que Ennio Morricone, maestro italiano que assinou a trilha sonora de dezenas de filmes. Foi premiado como melhor filme Un cuento chino (Espanha-Argentina, 2011), de Sebastián Borensztein, produção que recebeu também o prêmio do público. Estrelado pelo ator e diretor argentino Ricardo Darin, o longa é ambientado em uma Buenos Aires recém saída da crise que afetou o país em 2001. Já o prêmio de melhor ator foi para o francês Guillaume Canet por conta da atuação em Un vie meuiller (França, 2011), onde interpreta Yann, um cozinheiro de 35 anos que se apaixona por uma garçonete, mãe solteira de um menino. Juntos, decidem assumir empréstimos para realizarem o sonho de adquirir um restaurante na França. O personagem de Canet, rapidamente submerso pelas dívidas, acaba enfrentando uma realidade atualmente bem conhecida dos europeus, com um sistema financeiro indiferente e um duro cotidiano, o que acaba levando o casal a migrar para o Canadá.
Fora da lista dos premiados, mas ainda dentro do tema da crise financeira europeia, o filme L’Industriale (Itália, 2011), apresentado em concurso na seleção oficial, narra a história de Nicola, um homem orgulhoso, proprietário de uma fábrica de 70 funcionários em Turim à beira da falência. Em meio a uma grave crise que sufoca o país inteiro, ele se nega a pedir ajuda e sempre responde a quem pergunta sobre a sua situação: “Eu resisto”. O diretor Giuliano Montaldo, na apresentação do filme, explicou que a analogia com a vida real serve também ao próprio mundo do cinema.
— Nós, que fazemos cinema, sabemos o que significa resistir. Nós resistimos todos os dias em meio à precariedade. Por isso, entendo a precariedade atual e as falências dos empresários — afirmou o cineasta italiano, diretor da película que foi sucesso nos anos 70, Sacco e Vanzetti (1971). O Norte industrializado italiano sufocado pela crise financeira é o ambiente do filme Il mio domani (Itália, 2011), que enfrenta o tema frenético das demissões em massa pelo olhar introspectivo de uma bem sucedida profissional de recursos humanos que, conceituada na coordenação de processos de demissões, questiona sua vida profissional e pessoal a partir do que restou das suas relações familiares em uma Milão “fria e solitária”.
Mas o principal filme do Festival é Too big to fail (EUA, 2011). Incluído na seleção oficial, mas fora de competição, longa é baseado no livro homônimo do colunista do jornal The New York Times, Andrew Ross Sorkin. Narra em detalhes a crise financeira de 2008 e a falência do gigante econômico Lehman Brothers. Diretor de sucessos como Los Angeles – Cidade Proibida (1997), Curtis Hanson mostra os bastidores daquela que foi definida “a grande depressão do terceiro milênio”, centralizando na vida de personagens “grandes demais para quebrarem”, como Henry “Hank” Paulson (Willian Hurt), secretário do Tesouro americano e ex-presidente do banco Goldman Sachs. Um dos méritos do filme é se basear no trabalho de Sorkin, garoto prodígio do jornalismo econômico americano que, com apenas 34 anos, lançou um dos melhores relatos sobre a crise econômica de 2008. Logo após seu lançamento, teve os direitos de adaptação para a tela adquiridos pela HBO, produtora do filme.