Igreja Trullo
Uma das igrejas mais insólitas da Itália fica no vilarejo de Alberobello, na Puglia. Chama-se igreja de San’Antonio e foi construída em 1927 ao estilo das casas locais, ou seja, os trulli — cujo nome vem do grego e significa “cúpula”. São antigas casinhas, construções de pedras a seco, cônicas, típicas da região da Puglia do centro e do sul. Dizem que a origem dessas construções, cujas pedras são apoiadas uma na outra sem cimento, eram feitas para evitar o pagamento de impostos, pois quando sabiam que a fiscalização estava para chegar na cidade, conseguiam desmontar as casas facilmente, em pouquíssimo tempo. O vilarejo de Alberobello reúne uma quantidade enorme de trulli, essas casinhas branquinhas com tetos de pedra cônicos formando uma paisagem mágica e surreal.
Bodas de madeira e de estanho
Este ano, comemoro duas bodas: de madeira e de estanho. De madeira porque neste mês de abril completo cinco anos de colaboração com ComunitàItaliana. Há cinco anos tento contar um pouco sobre a Itália e os italianos, suas manias e seus costumes. Lembro do primeiro e-mail que enviei para o Pietro falando sobre a coluna e guardo com carinho na memória a única visita à revista em Niterói e ao pessoal tão acolhedor.
As outras bodas que comemorei em fevereiro são de estanho: 10 anos de Itália. Lembro-me perfeitamente daquele início de fevereiro de 2002, quando cheguei a Roma e hospedei-me num hotelzinho mixuruca perto da estação de trem. Procurei logo um apartamento para morar, um emprego de professora de inglês e, ao mesmo tempo, saía em busca de tantos endereços para escrever meu guia de Roma, o Guia dos Endereços Curiosos. Pensei que seria somente um ano de estadia. No entanto, acabaram sendo (pelo menos até agora) dez.
No início, tudo era festa. Morar em país estrangeiro é como renascer: aprender tudo de novo, a língua, a filosofia de vida, a forma de comunicar, as gírias, as entrelinhas, a música, o cinema, a política, as diferenças entre as regiões. É como pegar o bonde andando e querer sentar na janelinha.
Os primeiro dois anos foram anos de matar a sede de cultura italiana e, como diz meu irmão, mapear a Itália. Ler clássicos italianos, assistir a filmes italianos, conhecer os compositores mais famosos. Fins de semana e feriados eram momentos de conhecer cada cantinho da Bota: Trieste, Pantelleria, Ischia, Lago de Garda, Ferrara, Modena, Cortina, Alberobello, Ostuni, Trento, Ivrea, Maratea, Montefalco, Erice, Lerici, Gênova, Ragusa, Tropea, Scanno, Ancona, Urbino e Castiglione della Pescaia — das cidades grandes aos vilarejos escondidos, pois eu não queria perder nada e sabe-se bem que apetite de viajante é de leão.
Os anos seguintes foram de alegria, mas uma alegria cada vez mais tranquila. Afinal, a vida acaba tendo sua rotina de trabalhar, pegar o metrô, pagar as contas. Claro que os olhos do estrangeiro continuam vendo tudo com mais curiosidade, mas chega um momento em que a novidade acaba e é difícil ter o mesmo entusiasmo dos primeiros anos. A gente começa a ver bem os defeitos do novo país, a burocracia, a falta de meritocracia, as coisas que não funcionam etc.
Mas apesar desse “desapaixonar-se”, nesses dez anos, devo a Roma tanto. Uma grande bagagem cultural, dois livros publicados e tantos na gaveta, cinco anos de coluna na Comunità, tantos artigos de viagem na revista Viagem e Turismo, uma grande amiga, um companheiro e dois romaninhos maravilhosos.