Settimana della Cucina Regionale Italiana chega a São Paulo em sua sétima edição e traz 20 chefs das 20 regiões da Itália
Entre os dias 22 e 28 de outubro, a Itália inteira vai se mudar para a cidade de São Paulo. Pelo menos, essa vai ser a sensação que os comensais vão experimentar durante a sétima Settimana della Cucina Regionale Italiana, que vai contar com 20 chefs italianos, um de cada região da bota. Recebidos por renomados restaurantes da capital paulista, os chefs visitantes irão preparar receitas de suas regiões em conjunto com os chefs brasileiros. No menu deste ano, destacam-se pratos típicos como a panzanella tiepida (salada morna de tomates, pão italiano, salsão, cebola rocha e azeitonas), prato típico do Lácio, e um doce já bastante conhecido dos brasileiros e no mundo, o tiramisù, criado no Norte da Itália. Um dos chefs mais entusiasmados para participar do evento é Manuel Marchetti, que coordena a cozinha no Casa Rossa ai Colli, no Friuli, nas colinas próximas de San Daniele, famosa pela produção de presunto cru.
No ano passado, Marchetti teve uma experiência a convite do embaixador italiano no Casaquistão. Este ano, no Brasil, o friulano vai cozinhar no Santo Colomba, no Jardim Paulista, ao lado do chef José Alencar, propondo o tiramisù (trancia al mascarpone), do qual fala com orgulho:
— Recentemente, o Friuli foi reconhecido como pátria de origem do tiramisù. Então, vou ter grande satisfação em apresentá-lo nesse evento — afirma.
Pela primeira vez no país, Marchetti confessa que não tem muitas referências sobre a gastronomia brasileira, mas espera absorver o máximo de informações durante o período que estiver por aqui, inclusive, estendendo sua estadia:
— Essa é a primeira vez que visito o Brasil. Será uma honra representar a riqueza gastronômica da minha região, as minhas origens e a paixão pela terra em que nasci. Quero ficar alguns dias além do evento para conhecer outras cidades do Brasil. Também estou avaliando uma proposta para voltar futuramente e acho que vou aceitar — adianta à Comunità.
Chefs aproveitam para conhecer melhor a gastronomia brasileira
Claudio Rocchi, da Osteria Palmira, no Lácio, conhece bem o Brasil e fala fluentemente português, pois trabalhou muitos anos na Embaixada do Brasil, na Piazza Navona, em Roma:
— Estou sempre em contato com a gastronomia brasileira, pois tenho muitos amigos de norte a sul do Brasil. Por isso, para mim, é um prazer poder representar uma região da Itália em um país estrangeiro de que gosto tanto — declara.
No evento, Rocchi vai cozinhar na Casa Santo Antonio, na Granja Julieta (Santo Amaro), ao lado do chef Rafael Januzzi.
— Buscamos sempre essa troca quando recebemos profissionais de fora. É um privilégio conhecer novos ingredientes, técnicas e receitas, e poder usar isto no dia a dia do restaurante após a Settimana. Há dois anos, por exemplo, aconteceu isso com a região da Calábria, quando recebemos o chef de lá. Até hoje, temos uma lasagna calabrese no nosso cardápio. Este ano, teremos um menu harmonizado com quatro vinhos do Lácio — adianta o sócio da Casa Santo Antonio, Mateus Turner.
E é com muito vinho mesmo que Gerardo Landulfo quer comemorar. Curador da sétima Settimana della Cucina Regionale Italiana e responsável da Accademia Italiana della Cucina, em São Paulo, uma das organizadoras do evento, ele celebra os avanços alcançados nos últimos anos:
— Tudo começou de maneira tímida, em 2012, como parte de um evento do Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, quando tivemos a ideia de realizar uma semana só de gastronomia italiana. No começo, foi difícil, operávamos com recursos próprios. Aos poucos, foi ganhando corpo, contando com a participação de 12 restaurantes italianos de São Paulo, até chegar à versão atual, com todas as regiões da Itália distribuídas em 20 estabelecimentos. Este ano também temos o Consulado da Itália em São Paulo na organização, o que é muito importante. Os chefs são reembolsados pelos custos, mas não recebem cachê. Os restaurantes também colaboram com as despesas de divulgação — resume.
Em 2017, evento atraiu 10 mil pessoas
A edição de 2017 movimentou um público de mais de 10 mil pessoas que degustaram 160 receitas. Para as próximas edições, a organização pensa em inserir mudanças, como a possível importação de um container das matérias-primas utilizadas para a preparação das receitas, além de incluir outros profissionais brasileiros no evento de São Paulo:
— Devido à logística e a outras questões, fica inviável levar cada chef italiano para todas as capitais do Brasil. Então, pensamos em fazer diferente: trazer chefs de outras cidades brasileiras para participar aqui em São Paulo. Mas isso ainda está sendo avaliado — revela Gerardo Landulfo.
O curador destaca que um dos aspectos primordiais da Settimana é divulgar a importância de se praticar uma cozinha autêntica:
— Quem usa a bandeira italiana ou um nome italiano tem que ser fiel àquela origem. A lasagna alla bolognesa, por exemplo, tem que ter ragù. Vale a mesma regra no caminho inverso. Se você chama um lugar de “restaurante brasileiro” na Itália, tem que respeitar a origem. Se servir moqueca baiana, tem que ter leite de coco e azeite de dendê; do contrário, pode até servir, mas coloque um nome diferente — defende.
Outro que defende a territorialidade gastronômica de seus pratos é o jovem Alessio Marrangoni, do restaurante Borgo Spoltino, em Abruzzo. Ele vai cozinhar no Attimo per Quattro, na Vila Nova Conceição, ao lado da chef Taline Fernandes. Alessio Marrangoni dá continuidade ao trabalho de seu pai, o chef Gabriele Marrangoni, que participou das duas últimas edições do evento.
— Infelizmente, meu pai faleceu em dezembro do ano passado. Mesmo assim, fui convidado para representar a cozinha de Abruzzo no Attimo per Quattro, o que me deixou muito feliz. Sinto-me honrado por participar de um evento de tal importância, onde certamente vou conhecer grandes profissionais — comemora o chef.
No Brasil, a expectativa de Taline Fernandes é recíproca:
— É uma emoção muito forte receber o filho do saudoso e inesquecível Gabriele Marrangoni. Temos convicção de que a presença do chef Alessio é a continuidade das sinergias Brasil-Itália — afirma.
Entre as opções selecionadas para o menu do evento, destaca-se o timballo di crespelle, uma variante da lasanha, feita com massa de panquecas.
— É um prato muito famoso na região, típico de Abruzzo e da minha cidade, Teramo. Costumamos prepará-lo em dias comemorativos — explica.
Evento promove cultura e tecnologia made in Italy
Nesse intercâmbio gastronômico, Marrangoni também pretende aumentar seu repertório na culinária verde-amarela, já iniciado durante passagens anteriores por aqui.
— Trabalhei por um ano em um bistrô de Florianópolis. Depois, voltei outras vezes com meu pai, a trabalho. Pude conhecer um pouco da cultura gastronômica brasileira e percebi que há itens completamente desconhecidos para nós, como alguns tipos de peixe, frutos tropicais e mandioca, além de técnicas de cozimento da carne. Aquele que mais me impressionou foi o churrasco — recorda-se.
Segundo dados da Coldiretti, a associação do setor agrícola italiano, a gastronomia é o motivo principal que leva 23% dos turistas estrangeiros a visitarem o Belpaese. Para Gerardo Landulfo, que também é diretor da Polvani Tours no Brasil e co-autor do guia gastronômico Itália para Comer e Beber Bem, a Settimana vai muito além da gastronomia:
— Não estamos falando de um evento que serve somente para divulgar a comida. A tecnologia, por exemplo, está presente na máquina de café expresso. O design é uma parte importante na apresentação dos pratos e nas louças utilizadas. Por isso, o evento não promove só a gastronomia, mas também a cultura da Itália, o que revela novos itinerários e impulsiona o turismo. Atrás de um prato, tem sempre uma história, uma origem, um território, um monumento. E isso não é diferente na Settimana della Cucina Regionale Italiana. Basta vir conhecer — convida.
7ª Settimana della Cucina Regionale Italiana di São Paulo
De 22 a 28 de outubro
A lista com os restaurantes participantes, os chefs convidados e os cardápios está disponível no site oficial do evento: www.settimanacucinaitaliana.com.br.
Os preços variam de acordo ao restaurante escolhido. O menu completo (entrada, prato principal e sobremesa) sai por 75 reais por pessoa (almoço) e 106 (jantar).