{mosimage}Em entrevista exclusiva, o ministro italiano do Meio Ambiente, Corrado Clini, antecipa à Comunità que TIM e Telespazio vão participar do projeto de requalificação urbana de uma favela carioca. Ele também dá detalhes sobre o pavilhão italiano, construído especialmente para a Rio+20, com painéis de energia solar, e revela suas expectavivas sobre a Conferência da ONU. Para Clini, trata-se de uma “oportunidade para se reforçar a necessidade de medir o progresso com novos parâmetros, sem ter como base o simples bem-estar material”
A Conferência de Copenhague sobre Mudanças Climáticas (2009) foi considerada, por muitos, como um fracasso, de certa forma. Não chegou-se a um acordo global e no papel resta somente o objetivo genérico de conter em dois graus o aumento da temperatura média planetária. O que o senhor espera da Rio+20: um compromisso global concreto, ou de palavras, como “os primeiros passos na estrada das boas intenções”?
Corrado Clini – A Conferência Rio+20 é muito importante, pois será a ocasião para repetir com força que estamos indo ao encontro do exaurimento dos recursos da Terra. Para evitar que se chegue a uma situação dramática de não poder garantir a todos a sobrevivência, deve-se entender que é necessário uma mudança de mentalidade, com convicção. As mudanças climáticas que estão marcando esse período de maneira particular representam um sinal de alarme preciso: o planeta já tem dificuldade para reciclar os restos que produzimos e, no Rio, devemos chamar a atenção de todos para a oportunidade de mudarmos o atual modelo econômico, que é baseado em um crescimento constante e no consumo sem freios. Tal comportamento está levando a uma pobreza persistente, e até a um crescimento da pobreza, além da degradação intolerável do meio ambiente. Diante desse estado de coisas, a Rio+20 representa uma oportunidade única para lançar um processo de renovação total, renovação no modo de produzir e consumir, da energia à comida, passando pelos objetos que usamos todos os dias, dentro do modelo da economia verde.
A conferência nos dá ainda a oportunidade de reforçar a necessidade de medir o progresso com novos parâmetros, sem ter mais base no simples bem-estar material, mas atentos à integração social e à conservação do habitat que devemos entregar às novas gerações. Esse novo modo de pensar precisa de uma nova linguagem entre as nações, os grupos e as comunidades, reconhecendo que cada opinião é fundamental e que o crescimento sustentável — como demonstra o desenvolvimento do Brasil que, de fato, superou até uma potência econômica do calibre da Grã-Bretanha — é a estrada que devemos seguir.
CI – A crise econômica pode ser um obstáculo para os compromissos de ajudar os países pobres (US$ 30 milhões para o triênio 2010-2012 e US$ 100 milhões por ano de 2020 em diante), e também para os investimentos na economia verde?
CC – Sem dúvida, a crise econômica está determinando uma série de dificuldades em nível global, que podem atingir também o respeito aos empenhos financeiros voltados aos países pobres e os investimentos na economia verde. Uma situação crítica que, porém, não apenas não nos deve desencorajar, como nos deve empurrar com mais convicção em direção a projetos e ideias capazes de determinar uma mudança de passo.
Tenho certeza de que a economia verde é o instrumento certo para contrastar a crise, reaquecer a economia e ao mesmo tempo garantir o desenvolvimento sustentável das nações, seja as industrializadas, seja as em desenvolvimento.
Falei do importante crescimento econômico do Brasil, que soube se abrir às energias renováveis. É evidente que, entre os componentes vários que estão contribuindo com o crescimento brasileiro, está o papel exercido pelos investimentos feitos na green economy, investimentos capazes de garantir desenvolvimento, bem-estar e respeito ao ambiente. A estrada ainda é longa para o Brasil, e para todos os outros países, mas vejo os sinais positivos.
CI – A Itália conta com um “pavilhão verde” durante a Rio+20, com a presença de mais de 20 empresas italianas. São empresas ligadas à ecologia?
CC – Certamente. A Itália tem a vantagem de reunir empresas ques estão na vanguarda no que diz respeito ao know-how e às tecnologias em matéria de economia verde. O Brasil tem um grande potencial e estou certo de que os dois países podem colaborar proficuamente, assim como demonstra o acordo recente, assinado na minha presença em São Paulo, entre a nossa Mossi-Ghisolfi e a Graal-Bio, para produzir biocarburantes.
Acolho a ocasião para ressaltar o empenho da Enel Green Power no campo das energias renováveis, graças a uma série de projetos, distribuídos no mundo e no Brasil, que estão levando energia renovável aos ângulos mais remotos do planeta. Menciono particulamente o pavilhão italiano na Rio+20. Na projetação, na construção e nos móveis, privilegiou materiais reciclados e reutilizáveis, como simples caixotes de madeira e apoios para pallets, além da autonomia na produção energética através da instalação vertical de 1000 m² de painéis solares nas paredes externas do pavilhão.
CI – Pode dar mais detalhes do projeto de requalificação urbana em uma comunidade do Leme que conta com a parceria entre a Itália e a prefeitura do Rio?
CC – Sinto-me orgulhoso de como esteja tomando corpo o projeto de requalificação urbana da favela carioca do Leme. O programa nasceu de um encontro com o prefeito Eduardo Paes e se articula por meio de uma série de contribuições de estudos italianos de arquitetura e engenharia, com o suporte dos arquitetos da prefeitura do Rio, coordenados pelo arquiteto Marco Casamonti, do estúdio Archea.
A atividade de definição das intervenções para recuperar uma área degradada contou, durante a fase de estudo, com o suporte da TIM Brasil. Esse suporte vai continuar na fase de implementação, seja da parte da TIM, que vai implantar os cabos na comunidade, seja da parte de Telespazio, que vai atuar na prospecção do desordenamento hidrogeológico. Está prevista ainda a realização de pontos informativos, de divulgação e educação, que serão feitos pela Infobyte.
CI – Haverá acordos bilateriais entre Brasil e Itália na área ambiental?
CC – Estamos colocando em campo uma série de atividades voltadas para a melhoria dos sistemas produtivos, visando a redução das emissões nos campos agrícola e industrial, e a avaliação do cálculo das pegadas de carbono (carboon foot print), em parceria com empresas italianas presentes no Brasil. Além disso, estamos avaliando a possibilidade de valorizar produções e tecnologias na área de biocombustíveis de segunda geração, na América Latina, com o uso de tecnologias, e na África, em áreas produtivas.