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Home > Sinos elétricos acabam com função de sacristão

Sinos elétricos acabam com função de sacristão

05 de agosto de 2008 - Por Comunità Italiana
Don Camillo já não está aquilo e, com ele, desapareceram de Roma os velhos sacristãos-campanários. Salvo raras exceções, os mais de 1.500 campanários das 335 paróquias e das 250 dioceses da capital italiana, a começar pelo Cupolone, são acionados por motores elétricos, com engenhocas eletrônicas que difundem um som previamente gravado. Todas elas foram instaladas por Fabio Angelici, que desde 2003 instala cerca de 40 sinos por ano. Ele é o único a fazer isso em Roma.
     
Atualmente na capital italiana também se constroem igrejas sem campanário e sem sinos, onde o som é reproduzido por uma fita, com badaladas distintas. Este cenário também levou ao desaparecimento em Roma de todas as fundições que, no fim dos anos 90, somavam uma dezena em toda a Itália. Já em meados dos anos 80 havia os que lamentavam o sumiço dos sinos da capital italiana, como escrevia Antonello Trombadori em uma rima de então: "A Roma nun ze fanno piu' campane, e la ditta Lucenti in Borgo Pio, cor vecchio tornio e quer che ciarimane, al lavoro ha detto quasi addio". 

Desde o fim dos anos 90 a Ditta Lucenti (uma fundição especializada na fabricação de sinos), a última do gênero, fechou as portas. A Pontifícia Fundição Lucenti, fundada na travessa do Farinone, junto ao Passetto de Borgo Pio por Camillo Lucenti em 1550 (data inscrita no sino do convento dos Frades Capuchinhos, na via Veneto), forjou com Ambrogio Lucenti, em 1627 o sino da oração, popularmente chamado de "la Chiaccherina", que se quebrou em 1891 e foi refeito em apenas 20 dias em 1893, com oito toneladas e 50 quilos de bronze, e abençoado pelo cardeal Bicci-Parrecciani, arcebispo da basílica vaticana. 
     
Esta mesma fundição construiu o sino de Dante, doado pelos romanos à cidade de Ravenna em 1921, 600 anos após a morte do poeta.
 
O último sino foi fundido pela Lucenti em 1993, e há muitos anos, Francesco Lucenti, filho de Camillo, consertava as instalações elétricas dos campanários, que já então tinham substituídos completamente os sacristãos.
     
Na história dos fundidores de sinos existe também um episódio trágico: Luigi Valadier, argentário e fundidor de metais, pai do mais famoso arquiteto Giuseppe, foi encarregado em 1773 de refundir um dos sinos da basílica vaticana, mas as polêmicas e boataria que circulavam em Roma sobre a sua suposta incapacidade de realizar tal obra, o levaram a se suicidar. Ele se atirou no rio Tevere.

Atualmente as fundições que servem Roma são aquela de Marinelli em Agnone (província de Isernia, na região do Molise); e duas na Sicília, cujos sinos são quase todos elétricos. Há exceções, como os sinos da igreja de San Giuseppe da Copertino, na Via dei Genieri (bairro de Cecchignola) ou o da San Ottavio e Compagni Martiri, na Via Casal Del Marmo, onde os fiéis, em turno, puxam as longas cordas que fazem o martelo bater nos sinos; ou o da paróquia Nostra Signora della Trasfigurazione, na Via Ienner (bairro de Monteverde), onde é o próprio pároco (ou algum fiel que no momento oportuno esteja na sacristia) a puxar as cordas dos três sinos.
 
Ainda existem, nos países do Lazio, igrejas mais tradicionais, onde os sinos informam, com badaladas distintas e acionados manualmente, momentos de vida e de morte. Em alguns casos, aos três toques lentos por sino, em Roma indicam a morte de um paroquiano. Dependendo do lugar, estas badaladas, com toques mais ou menos rápidos, indicam se o morto é homem ou mulher.
 
 
 
 
Fonte: Ansa 

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.