As grandes grifes italianas, como Gucci, Gherardini e Yamamay, ampliam seus lucros com coleções inspiradas nas cores e paisagens brasileiras
A tradição em busca da criatividade. De olho não apenas no potencial comercial do Brasil, mas também na possibilidade de intercâmbio criativo, grandes nomes da moda italiana desembarcam no Brasil com lojas próprias, artigos exclusivos e olhos bem abertos em busca de novas inspirações. A última a chegar foi a Fendi, que abriu a primeira loja brasileira em junho, com direito a uma grande festa, que incluiu uma coleção de bolsas em homenagem ao Brasil e exposição com cinco artistas plásticos brasileiros. A grife segue o caminho de outros gigantes da moda, como a Gucci que, em 2012, lançou uma coleção especial para o Brasil, ou como Dolce & Gabbana, Prada, Miu Miu e Missoni, que abriram lojas novas nos últimos anos e estão buscando posicionamento no mercado brasileiro. Já a Yamamay, marca de moda praia e lingerie, faz parte do grupo das grifes italianas que vêm buscar direto na fonte do que precisa: contratou Amir Slama, o grande nome da moda praia no Brasil, para criar capsules collections, que têm levando à loucura as italianas desde ano passado. Assim como a Missoni, que sabiamente firmou uma parceria com as Havaianas, o que lhe rendeu muito lucro e mais um ícone para a história da moda. Vale lembrar que outros estilistas brasileiros trilham cada vez mais caminhos de sucesso no exterior, como o mineiro Francisco Costa, atual diretor criativo da americana Calvin Klein.
A influência do Brasil no mercado do luxo mundial cresce a olhos vistos.
Hoje, o país é responsável por 1,8% do mercado mundial de luxo, mas as perspectivas de crescimento para os próximos anos chegam a 15%. Em 2012, o mercado consumiu nove milhões de euros, 20% a mais do que em 2012. O aumento de milionários e novos ricos também ajuda a atrair os grandes grupos de moda italianos: uma pesquisa da Boston Consulting Group indicou que os milionários brasileiros aumentaram 19% desde 2009. Visto como uma esperança para a crise na Europa, o Brasil registrou um crescimento das importações da Itália de 265% nos últimos anos, conforme dados recentes divulgados pelo governo italiano.
— O Brasil é, sem dúvida, um dos mercados mais atraentes e promissores para o setor de moda italiano — afirmou o vice-presidente do Sistema Moda Italia, Paolo Bastianello, ao apresentar os resultados de um estudo que, desde 2007, monitora o mercado brasileiro em busca de oportunidades para as empresas italianas.
O estudo da entidade, que congrega 60 mil empresas do setor, indicou que o Brasil é um país essencialmente importador no mercado têxtil e registra um aumento de 234% de roupas importadas nos últimos sete anos. As grifes italianas, sempre atentas às tendências do mercado, não demoraram a chegar.
No final de 2011, a Prada abriu sua primeira flagship em solo brasileiro no luxuoso shopping Cidade Jardim, em São Paulo, o mesmo de Gucci, Armani, Ermenegildo Zegna e de diversas outras grifes internacionais. Logo depois, abriu a segunda na capital paulista e, em abril deste ano, mais um negócio Prada no Brasil, desta vez no Rio de Janeiro, fazendo a alegria das cariocas. E a Prada não foi a única. Desde 2011, inauguraram lojas ou ampliaram suas atividades no país as marcas Bottega Veneta, Miu Miu, Dolce & Gabbana, Versace, Missoni e Valentino, para citar apenas as mais conhecidas.
Uma das principais estratégias para aterrissar em solo brasileiro em grande estilo é o lançamento de coleções com temáticas nacionais. As icônicas bolsas da Fendi em formato baguette (usadas como carteiras) e personalizadas por artistas plásticos brasileiros, foram o grande chamariz da primeira loja da grife romana no Brasil, inaugurada no início deste mês na capital paulista. Baguettemania é o nome da exposição que a marca apresenta, com as bolsas em versões customizadas pelos designers Nina Pandolpho, Leda Catunda, Nelson Leirner, Isay Weinfeld e Rodolpho Parigi. A bolsa, ícone maior da marca, foi criada por Silvia Venturini Fendi em 1997 e já possui mais de mil versões. Seu nome surgiu por ser usada debaixo do braço, assim como os franceses fazem com as baguetes. As criações especiais dos artistas brasileiros serão posteriormente leiloadas e a renda será revertida para a ONG Verde Escola, que atua com educação ambiental. A Fendi ainda lança uma coleção exclusiva para as clientes brasileiras de bolsas e echarpes inspiradas em temas brasileiros. Os produtos, de edição limitada e firmados por Silvia Venturini, estarão à venda apenas na loja brasileira da grife, que terá nada menos que 360 metros quadrados com acessórios, linhas ready-to-wear, casacos e itens em couro.
Gucci com araras e folhagens e Gherardini com estampas inspiradas nos cariocas
No ano passado, a Gucci inaugurou uma flagship no Brasil, lançando em contemporânea uma coleção exclusiva para as brasileiras. Com araras coloridas e folhagens na estampa de bolsas de couro e echarpes de seda, a equipe da diretora criativa Frida Giannini se inspirou na fauna e flora do Pantanal para criar a coleção especial de acessórios da grife italiana, com edição limitada lançada especialmente para a abertura da loja de 5 mil metros quadrados da grife em São Paulo. Em 2013, Frida Giannini voltou a propor projetos no Brasil. Desta vez, a estilista lançou uma coleção de bolsas eco-friendly em parceria com a ONG Green Carpet Challenge e com a National Wildlife Federation. São as primeiras bolsas do mundo em couro da Amazônia com certificação de proveniência sustentável, livre de desmatamento. A coleção Gucci for Green Carpet Challenge foi apresentada no início deste ano em um evento na Embaixada brasileira em Paris. Cada modelo vem com forro em algodão biológico e um passaporte que descreve as etapas da cadeia de produção, desde o nascimento do animal até o produto finalizado manualmente. A matéria-prima vem de ranchos de gado certificados pelo Rainforest Alliance — que assegura a prática de justiça social e ambiental, assim como um tratamento ético do gado. A Gucci, cada vez mais engajada em trabalhos sociais e éticos, doou 50 mil euros para a National Wildlife Federation, fundo que promove o couro brasileiro livre de desmatamento.
A grife Gherardini foi outra que aproveitou a fama do estilo de vida brasileiro como inspiração para uma coleção especial. No verão de 2012, o Brasil se viu representado em uma coleção de bolsas que uniram a tradição desta marca de Florença com a descoberta do nosso país continente. Os nomes dos modelos já mostram quão longe foram os criadores da marca: Amazônia, Brasília, Bahia, Ipanema, Garota, Carioca e Rio. O toque brasileiro aparece nas cores, nas formas ou nas estampas especiais das bolsas, como a Carioca, que une a alma esportiva dos cariocas com a elegância de mais de 125 anos de experiência da Gherardini.
Não por coincidência, a coleção especial da Gherardini foi apresentada durante a Feira Pitti W de 2011, principal evento de moda que traz as pré-coleções das grandes grifes, que ocorreu paralela ao Pitti Guest Nation Brazil, um projeto inovador dedicado às nações emergentes, que visa ao desenvolvimento do mercado da moda através do intercâmbio e troca de conhecimento entre os países. Para a primeira edição, o Brasil foi o escolhido como homenageado. Segundo o diretor do evento, Raffaello Napoleone, a escolha deve-se ao atual momento de protagonismo no panorama internacional. Assim, durante a Pitti W realizada em junho de 2011, marcas consolidadas e jovens talentos brasileiros apresentaram ao mercado europeu o melhor da moda emergente, inspirada na arte e na cultura brasileiras. Entre as marcas que apresentaram suas criações, estava Isabella Capetto, estilista carioca, considerada uma das mais importantes no Brasil atualmente. Ela começou a carreira em Florença, na Accademia de Moda da capital toscana, onde se formou nos anos 90.
— Foi uma experiência incrível ter estudado na Itália, aprendi muito, principalmente em relação ao cuidado nos detalhes e acabamentos das peças — afirmou Isabela em depoimento exclusivo à Comunità.
Morar em Florença, “uma cidade-museu”, lhe trouxe a “paixão pela arte e pelo feminino”, revela a prestigiada estilista que, desde 2003, mantém sua marca própria e possui suas peças comercializadas em algumas das mais conceituadas lojas de departamento do mundo, como Macy’s, Barneys New York, Colette e Le Bon Marché.
Em 2011, foi a única estilista da América Latina convidada pela Vogue Itália a participar da Milano Unica, uma das feiras têxteis mais importantes do mundo. Para Isabela, no entanto, a relação de intercâmbio comercial entre Brasil e Itália na área de moda não é favorável aos brasileiros. Segundo ela, o evento Pitti Guest Nation foi importante para divulgar sua marca na Itália, mas não abriu portas.
— O mercado italiano ainda é muito fechado. Os italianos não compram muitos produtos que não sejam nacionais — reiterou a veterana em mercados internacionais.
Entre os outros estilistas brasileiros que participaram do evento estavam Ana Beatriz Suassuna, da Muggia, Marianna Mattos, da New Order, e Cristiano Bronzatto, da Louloux.
Yamamay firma parceria com Amir Slama
As palavras “praia” e “biquíni” são sinônimos de Brasil no exterior. E na Itália não é diferente. A moda praia brasileira é a que mais faz sucesso entre as italianas e a Yamamay, marca fast fashion de moda praia e lingerie, firmou uma parceria de sucesso com ninguém menos que Amir Slama, o nome responsável por levar a moda brasileira até a praia e inserir o país no mapa internacional da indústria neste segmento. Com a experiência dos anos à frente da Rosa Chá, Amir chegou às passarelas e vitrines italianas arrasando. Este ano já é o segundo de parceria do estilista brasileiro com a grife italiana, que não hesita em elogiar o trabalho.
— Nossa colaboração com Amir já está na segunda temporada e desde o primeiro ano obtivemos grande sucesso, graças ao estilo dos modelos e às cores vivas, que representam a vivacidade do Brasil — afirmou à Comunità a assessora de imprensa do Grupo Inticom, proprietário da marca Yamamay, Miriam Coraini.
A nova coleção 2013 assinada por Amir Slama chegou às mais de 600 lojas da Yamamay na Europa no início de maio, com 78 produtos divididos entre biquínis, maiôs, shorts, regatas e vestidos. A linha foi inspirada na cidade de São Luís e nos lençóis maranhenses. Em uma entrevista recente à Elle italiana, Amir afirmou que um dos segredos das brasileiras para fazer bonito na praia é “aprender a sorrir e relaxar”. Ele também salientou que, no Brasil, “a praia é o lugar mais democrático do mundo” e, por isso, as brasileiras, quando usam biquínis, se sentem bem.
Amir também fez história em outras praias italianas. Em 2012, a estilista Mariasole Cecchi convidou Amir para unir forças e lançar uma nova marca de beach wear. A S.N.O.B. (Super Not Ordinary Bikini) é vendida nas lojas brasileiras da grife Amir Slama, mas é produzida em oficinas artesanais na Itália. Mariasole é designer de acessórios e fez fama na Europa com suas bolsas adornadas com Lego. Tem na bagagem uma infância veraneando na badalada orla de Forte dei Marmi, onde seus pais possuem casa.
O interesse da Yamamay na moda praia brasileira tem origens antigas. O presidente da grife, Luciano Cimmino, mantém uma relação estreita com o Brasil, já tendo realizado uma doação de 50 mil euros para uma ONG de desenvolvimento sustentável atuante na Amazônia. Além disso, a Yamamay desenvolveu diversas linhas de produtos inspiradas na natureza brasileira, como a bolsa feita de juta cultivada em solo amazônico. Há alguns anos, um catálogo inteiramente fotografado no Amazonas foi distribuído em suas lojas mundo afora. A marca também criou uma linha de produtos cosméticos com ingredientes bem brasileiros, como óleo de buriti, urucum, cupuaçu, pitanga, guaraná e açaí.