Médicos do Brasil e da Itália aconselham cautela à população quando o assunto é câncer de mama
A procura de pacientes por testes genéticos no Hospital Sant’Andrea, em Roma, aumentou em 80% após as declarações da atriz Angelina Jolie sobre a decisão de retirar os seios para reduzir os riscos de contrair câncer de mama, doença que ceifou a vida de sua mãe e de uma tia materna.
— Telefonam para saber se podem fazer o teste ou uma consulta genética. O efeito Jolie foi como um tsunami, até porque encontra uma população temerosa e pouco informada sobre prevenção — conta a médica responsável do hospital italiano, Adriana Bonifacio.
As manchetes envolvendo a diva de Hollywood chamaram a atenção do mundo para um problema importante e pouco comentado, lembra o médico Giorgio Macellari, da direção da Associação Italiana de Bioética de Cirurgia (AIBC). Por outro lado, pode semear pânico e levar a decisões erradas, alerta.
— De fato, depois das suas declarações, as centrais telefônicas de muitos institutos de genética viraram alvo de mulheres confusas e assustadas. E a notória emotividade da população italiana não ajuda. É necessário um pouco de racionalidade — afirmou o especialista em um comunicado.
Ele lembra que a escolha de Jolie foi motivada por uma condição específica: a de portadora de uma mutação genética do gene BRCA-1, capaz de aumentar o risco de câncer de mama em até 80%. A maioria dos tumores mamários (cerca de 90%), no entanto, pertence àqueles esporádicos (aos quais a população está exposta com um risco médio de 10%); enquanto os tumores à base genética representam uma estreita minoria de apenas cerca de 7% do total).
— Portanto, nada de pânico. Por isso, as mulheres devem ser aconselhadas a escolhas inteligentes e personalizadas — enfatiza Macellari.
O presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Carlos Alberto Ruiz, concorda com o colega italiano:
— A escolha de Jolie não é uma escolha para todo mundo, e sim para uma pequena parcela da população. O risco esporádico é o mais frequente. A maior parte das mulheres quando descobre o diagnóstico comenta: “mas na minha família não há nenhum caso”. Mas de 90 a 95% dos casos a hereditariedade nada tem a ver com o câncer. No caso da atriz, sua escolha foi interessante, pois o câncer de mama aparece com uma agressividade muito grande, incluindo metástase, independente do tamanho. É uma escolha a qual dificilmente o médico aconselha, sendo fruto da troca de ideias entre paciente e médico — explica à Comunità.
Além disso, a mastectomia não faz milagre, pois não consegue eliminar completamente o risco de câncer, sendo uma cirurgia complexa, lembra o especialista brasileiro. Cerca de 30% das pacientes ficam insatisfeitas do ponto de vista estético, e 20% do ponto de vista sexual.
— Todas as mulheres a partir dos 40 anos devem fazer anualmente a mamografia, mesmo que não sintam nada, nem tenham queixa. E quem sente algo deve procurar um médico o mais rápido possível — completa Ruiz.
O diretor da Unidade Hospitalar de Cirurgia Senológica de Piacenza, Giorgio Macellari, também aconselha a vigilância periódica médica como a melhor solução:
— O câncer faz parte da existência, mas não a torna mais incerta, simplesmente faz refletir sobre a incerteza da vida. Temer a própria morte é morrer antes do tempo. Ninguém é imortal, e cada dia é um presente — conclui Giorgio Macellari.