O compositor italiano, que gostava de ver suas obras na boca do povo, recebe em 2013 homenagens pelos 200 anos de nascimento
Entre os séculos XVIII e XIX, as óperas produzidas na Itália faziam sucesso em boa parte da Europa. Havia teatros de ópera italiana em Paris, Londres, São Petesburgo, Madri, Lisboa, Viena, Praga. Entre os compositores que ajudaram a difundir a ópera italiana na virada do século XVIII para o XIX, estão Mayr, Paisiello, Cimarosa, Paer e Rossini. Houve também o desenvolvimento da ópera semi-séria, ou seja, a trama melodramática com final feliz. Antes de Giuseppe Verdi, dois compositores também obtiveram relativo sucesso: Mercadante, principalmente em razão de sua Il giuramento, de 1837, e Paccini, que escreveu 89 óperas, mas é lembrado principalmente por Saffo, de 1840.
Mesmo dois séculos após sua morte, Verdi ainda é reconhecido como um dos maiores compositores da história da música. Ele dominou o cenário musical italiano na segunda metade do século XIX. Em sua obra, constam 26 óperas e duas adaptações para o francês (I Lombardi vira Jerusalem e Stiffelio vira Aroldo). Verdi começou sua carreira com Oberto, em 1839, mas seu primeiro grande sucesso foi Nabucco, de 1842. A professora de História da Ópera e de Oficina de Ópera da UFRJ, Heliana Farah, considera que Verdi começou em uma época mais fácil para os compositores.
— Ele nasceu no mesmo ano que Wagner, em 1813, e teve a felicidade de ver o prestígio dos compositores aumentar, sem precisar compor em um ritmo tão frenético como, por exemplo, Donizetti, de quem sofreu muita influência. A frase musical da Traviata “ama-me Alfredo”, por exemplo, é, na verdade, de Donizetti — explica.
A sua trilogia, formada por Rigoletto, Trovador e Traviata, continua sendo a produção mais popular do italiano. Por falar em popularidade, o compositor possuía uma maneira curiosa de identificar se as suas produções alcançariam o sucesso. De acordo com o compositor, para serem consideradas bem sucedidas, deveriam estar literalmente na boca do povo. De acordo com o tenor Ricardo Tuttman, “quando suas melodias eram assobiadas ou cantaroladas por trabalhadores dos teatros e das redondezas dos locais onde suas óperas estavam em cartaz, isso significava que as composições eram realmente famosas”, revelou.
O sucesso de suas obras fez com que Verdi fosse chamado para escrever sua primeira ópera em francês, Les Vêpres Siciliennes. Ao longo da carreira, com a crescente importância dada à música, não só ao texto da ópera, as casas editoriais de partitura, comparáveis às atuais grandes gravadoras, ganharam importância e passaram a interferir, inclusive, nos métodos de composições. Áquela altura, Riccordi, dono de uma casa editorial com seu nome, convenceu o compositor a aceitar a colaboração do libretista e compositor Arrigo Boito. Os estudiosos definem a parceria como, no mínimo, inusitada, pois Boito ingressou no cenário musical como crítico ferrenho de Verdi. Como principal integrante do movimento da Scapigliatura — movimento artístico surgido na Itália por volta da década de 1860 que pregava a renovação e revitalização das artes italianas — Boito ia contra o que era estabelecido, o que, na ópera, significava ir contra Verdi acima de tudo.
Ópera no cinema
A importância de Giuseppe Verdi não ficou restrita às óperas. Muitos anos após a sua morte em 190, foram produzidos filmes biográficos ou baseados em sua obra. Da simples referência ao completo relato, as homenagens da sétima arte ao compositor abrangem os mais variados estilos. Entre os filmes mais emblemáticos que retratam sua personalidade e aqueles que apenas utilizam a obra como pano de fundo para a sua trama, está O Rei da Melodia (1953).
Homenagens em Minas
A Festa Italiana, realizada no bairro de Savassi, em Belo Horizonte, celebrou os 200 anos do nascimento de Giuseppe Verdi no último dia 2 de junho, com a apresentação do grupo de música clássica Música Figurata. A celebração pelo bicentenário de Verdi irá acontecer também em julho, entre os dias 14 e 28, no Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, que ocupará diversos teatros e espaços públicos em Juiz de Fora. A filarmônica interpretará duas óperas, uma de Verdi e outra de Wagner, que também comemora 200 anos de nascimento. Serão executadas ainda duas peças de icônicas, de Heitor Villa-Lobos e Carlos Gomes, sob a regência do maestro Fabio Mechetti.