Em mostra aberta ao público na Embaixada brasileira em Roma, Ernesto Neto conversa com Pietro da Cortona
A beleza dos afrescos do pintor barroco Pietro da Cortona no teto da longa galeria do palácio Pamphilj deixa todos de boca aberta e alguns até com torcicolo. Graças à criatividade do artista carioca mundialmente famoso, Ernesto Neto, é possível admirar esta obra-prima de outros ângulos, quase como uma brincadeira e sem temer problemas no pescoço.
A mostra Olhando para o Céu, na Galeria Cortona, aberta ao público na sede da Embaixada em Roma, é uma instalação especialmente criada por Ernesto Neto, foi realizada com o apoio do Ministério brasileiro da Cultura e da Casa Fiat de Cultura. A inspiração vem dos afrescos que Pietro da Cortona pintou entre 1651 e 1654 no longo salão barroco do Palácio Pamphilj, projetado pelo arquiteto Francesco Borromini.
Na instalação, Ernesto Neto criou 11 carrinhos com os quais os visitantes podem caminhar e com um binóculo observar profundamente os detalhes da pintura. Os carrinhos, construídos no estúdio de Stefano Dugnani, em Milão, são de forma oval, feitos de madeira com uma proteção externa de material esponjoso para não bater nas paredes. Dentro, há uma cama de tecido elástico para que o visitante possa deitar e um buraco para passar as pernas e poder conduzir o veículo dotado de rodinhas. Cada carrinho tem um binóculo para que o expectador possa admirar as minúcias dos afrescos e um saquinho com especiarias cheirosas.
— Afinal, a vida precisa também de perfume e tempero — explica à Comunità Ernesto Neto.
Ele contou que quando viu pela primeira vez os afrescos de Pietro da Cortona ficou encantado e não conseguia tirá-los da cabeça.
— Pensei que o expectador poderia ver de outro ângulo. Até cheguei a imaginar uma mesa de espelho. Em seguida, me veio a ideia dos carrinhos e do binóculo, que permitem uma aproximação ainda maior com o artista — disse Ernesto Neto.
A abertura da exposição, reservada para poucos convidados, foi o primeiro evento do qual o novo embaixador brasileiro na Itália, Ricardo Neiva Tavares, participou. Ele tinha acabado de chegar a Roma, depois de um período em Bruxelas como embaixador do Brasil junto à União Europeia e, em breve, apresentará as credenciais em Roma.
A mostra é em perfeito estilo Ernesto Neto, definida pela curadora italiana Emanuela Nobile Mino como “uma subversão de um parque de diversões”. A sua arte expande a escultura que, com tecidos elásticos, ganha forma e movimento graças à participação interativa e física do expectador.
Nesta instalação, ele faz com que o público dialogue com o artista barroco Pietro da Cortona, podendo observar detalhes dos seus afrescos, alguns de difícil percepção com um simples olhar.
Ao mesmo tempo, é um diálogo profundo e bem humorado: cada expectador se diverte em deitar nas camas elásticas, podendo coordenar os movimentos do carrinho com os pés enquanto as mãos seguram o binóculo e os olhos descobrem a dimensão de um “céu” perto e reconstrói cada fragmento, como se fossem palpáveis. Além disso, cada expectador assume a posição do artista enquanto pintava, pois o corpo encontra-se paralelo ao teto.
O afresco que Pietro da Cortona pintou a pedido da nobre família Pamphilj é considerado o segundo maior em extensão, depois daquele de Michelangelo na Capela Sistina. O teto da galeria que leva o nome do artista mede 33,20 metros de comprimento por 7,20 de largura.
A pintura conta a história de Eneias, um personagem da mitologia greco-romana narrado na Ilíada de Homero e principalmente em Eneida, de Virgílio. A lenda conta que Eneias foi um chefe troiano, filho da deusa Afrodite (a romana Vênus) e do mortal Anquises. Mas ele teve que fugir de Troia, incendiada em uma batalha. Nas diversas peregrinações, ele foi parar na região do Lácio. Outra lenda conta que Eneias seria o pai de Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Os afrescos de Pietro da Cortona narram diversos episódios de Eneias, mostrando personagens da mitologia como Netuno, Vulcano, Júpiter e Cupido, entre outros.
Serviço
Olhando para o Céu,
de Ernesto Neto
Galeria Cortona
Palacio Pamphilj – Roma aberta
De 5 a 23 de junho
De quarta a sexta-feira,
das 16 às 19 horas. Aos sábados
e domingos, das 11h às 18h
Ingresso gratuito