Fonclea
Ai que saudades de Sampa e seus 1001 barzinhos com música ao vivo. Em Roma, há várias salas de concertos de música popular e erudita, mas faltam barzinhos informais com apresentações ao vivo. Ainda bem que sobrevivem alguns, como o Fonclea, aberto desde 1977, no bairro Prati, perto do Vaticano. A programação é bem eclética: soul, gospel, hits dos anos 60, jazz étnico, homenagem a grandes nomes da música popular italiana como Lucio Battisti, homenagem aos Rolling Stones. O lugar é ótimo para curtir um som, saboreando uns petiscos e um drinque.
Música italiana
Não sou muito eclética no que se refere à música. Adoro música popular brasileira (Chico no topo das preferências), os grandes compositores americanos, italianos e franceses, e jazz. E um pouco de musica clássica, principalmente Chopin e Debussy. E parou aí. Sou nostálgica, gosto de Charles Aznavour e Frank Sinatra. Rock? Parei nos Beatles e Lou Reed. Queria ser mais eclética, mas não consigo.
A música italiana sempre esteve presente na minha vida. A começar pela minha avó materna, que sempre tocava piano, cantarolando, entre outras, Parlami d’amore Mariù. Minha tia Marilda, depois dos jantares em sua casa, tocava no violão umas canções italianas bem das antigas. Para completar, minha mãe participava como cantora do Zaccaro, no Italianissimo, programa de música italiana da Rede Bandeirantes. Lembro como me emocionava ao ver as gravações e como me sentia orgulhosa dela.
Quando cheguei à Itália, meu conhecimento era limitado às canções que escutava minha avó, tia e mãe cantarem. Devagarzinho, fui conhecendo os cantautori, compositores que cantam as próprias canções, grande filão de mercado na Itália. Cada amigo ou namorado me apresentava um novo compositor.
Com Andrea, descobri mais a fundo Gino Paoli, e todas as suas canções. Ele é famoso no Brasil por Sapore di Sale, mas canta canções poéticas, como Albergo a Ore, de Herbert Pagani. O CD em parceria com Ornella Vanoni é um dos mais belos. Com Corrado, redescobri Riccardo Cocciante, que tinha marcado minha juventude pelas canções Bella Senz’anima, e Margherita. Com ele, conheci outros sucessos do compositor-cantor. Com Paolo, descobri a delicadeza da música de Fabio Concato, trilha sonora de nossos domingos nos lagos.
Vários alunos me iniciaram no amor por Lucio Battisti, um mito na Itália, quem mais cantou o amor em todas as suas formas. Ele era reservado e um ótimo intérprete. Seu melhor parceiro foi o letrista Mogol. Escreveram muitas canções sobre a traição no amor, como Comunque bella, Non è Francesca, Mi ritorni in mente. Algumas românticas e ingênuas, outras passionais, o amor é com ele mesmo.
Meu namorado foi quem intensificou meu amor pelo compositor De André, o mais amado pelos intelectuais, devido ao conteúdo de suas letras. Como Chico no Brasil (mesmo que ele não goste do termo), é considerado o maior poeta do mundo da música.
Outras paixões musicais ainda nasceram: Paolo Conte, Luigi Tenco, o velho Sergio Endrigo. Até hoje tem brasileiro que pensa que sua canção Canzone per te é do Roberto Carlos, que, com sua voz, fez vencer a canção no festival de San Remo.
Desse modo, cada período que vivi na Itália, de 2002 até hoje, foi acompanhado por trilhas sonoras, desde a fase inicial, quando viajava gulosa pela Itália descobrindo novas cidades, novos festivais e novos costumes, passando pela primeira paixão, por períodos de solidão, de saudades da terra natal, de novas amizades, até a gravidez, o nascimento dos filhos. Assim a vida vai seguindo seu curso, salpicada de melodias e letras.