Líder do partido nacionalista a Liga, Matteo Salvini, quer novas eleições. Grupo antissistema e partido de centro-direita tentam costurar nova maioria para governar a Itália
O presidente italiano, Sergio Mattarella, exigiu que os partidos pactuem até terça-feira (27) uma nova maioria parlamentar para a formação de um governo.
Parlamentarista, a Itália vive impasse após o ministro do Interior, Matteo Salvini – do partido nacionalista Liga – dissolver a coalizão com o Movimento 5 Estrelas (M5S), antissistema, e pedir novas eleições. Na terça-feira, o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, pediu renúncia ao cargo.
“Essa crise deve ser resolvida em pouco tempo”, alertou Mattarella, que tem prerrogativa de dar autorização a um novo Executivo.
Entretanto, o presidente italiano disse que só dará essa autorização se a nova maioria for “capaz de ganhar a confiança do Parlamento”. “Na terça-feira, vou fazer novas consultas e tomar decisões necessárias”, afirmou Mattarella.
“Essa crise deve ser resolvida em pouco tempo”, alertou o presidente italiano, que concedeu um prazo de quatro dias, até terça-feira, para essas negociações.
Partidos podem formar aliança improvável
O Movimento 5 Estrelas – partido antissistema – detém atualmente a maior força no Parlamento após obter 32% dos votos nas eleições de 2018. No entanto, a sigla foi severamente desgastada em 14 meses.
Para se manter no poder, o Movimento 5 Estrelas deve tentar um acordo com o Partido Democrático (PD) – de centro-esquerda e que costumava ser um rival ferrenho dos antissistemas.
“Há algumas horas, começamos uma série de conversas para tentar formar uma sólida maioria”, anunciou Luigi Di Maio, líder do 5 Estrelas, após reunião com o presidente.
Di Maio enumerou pontos de um possível programa de governo e incluiu tópicos sobre defesa do meio ambiente e uma série de reformas na justiça, no trabalho e no Parlamento.
O 5 Estrelas, nascido da insatisfação com a “velha política” e com uma bandeira anticorrupção, conta com várias correntes de tendências diferentes, de esquerda e de direita, incluindo uma forte contrária à União Europeia.
Contudo, formar uma coalizão tão heterogênea e duradoura será uma tarefa dura e cheia de dificuldades, tanto quanto fazê-la durar quase quatro anos.
O Partido Democrático, de centro-esquerda, com aproximadamente 20% das intenções de voto, propôs uma aliança com o 5 Estrelas, após a ruptura com o partido da direita nacionalista A Liga, em 8 de agosto.
O líder do PD, Nicola Zingaretti, clamou por um “governo para a mudança”, “forte” e “sólido”, com um novo programa, embora tenha esclarecido que, se não for possível formá-lo, teria que optar pelas urnas.
“Contamos com as bases para poder trabalhar com o 5 Estrelas”, reconheceu Zingaretti ao fim do encontro.
O político alertou que entre as condições estabelecidas para uma aliança com o grupo antissistema estão a confirmação da “vocação europeia” da Itália e uma mudança na dura política anti-imigração.
Direita quer eleições
A possibilidade de um governo baseado numa aliança entre o PD e o 5 Estrelas, apoiado por outras pequenas forças de esquerda e independentes, tem sido condenada pelas forças de direita e centro-direita.
O líder da Liga, Matteo Salvini – atual ministro do Interior italiano – reiterou perante o presidente Mattarella o pedido de eleições imediatas. Ao mesmo tempo, ele também ofereceu uma nova aliança ao 5 Estrelas, uma proposta que surpreendeu e ao mesmo tempo foi considerada inacreditável.
“O verdadeiro caminho não pode ser o dos jogos de poder, a manobra do palácio. São as eleições”, disse, após acusar as forças políticas de montar uma frente “anti-Salvini e anti-Liga”.
A líder do grupo Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, pediu ao presidente eleições legislativas imediatas como “a única saída possível e respeitosa”.
Meloni deseja uma aliança com Salvini e o partido Força Itália, de centro-direita e ao qual pertence o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que segundo as pesquisas alcançaria 50% dos votos em caso de eleições.
“A saída mais inteligente são as eleições antecipadas”, afirmou Berlusconi após o encontro com o presidente.
O ex-primeiro-ministro, que perdeu muito apoio e poderia praticamente desaparecer politicamente, classificou como “perigosa” a possibilidade de governo de esquerda, com cobrança de impostos sobre propriedades e lucro.
Incertezas na Itália
A possibilidade de eleições antecipadas em outubro preocupa a terceira maior economia da zona do euro, fortemente endividada e que deve preparar o seu orçamento delicado para 2020. A Itália também deve tomar medidas imperativas para evitar um aumento automático do imposto sobre produtos no ano que vem.
Para ficar à frente de um governo mais à esquerda e pró-europeu, há vários candidatos, como o juiz anticorrupção Raffaele Cantone e a magistrada da Corte Constitucional, Marta Cartabia, que seria a primeira mulher na história da Itália a ocupar o cargo de primeiro-ministra. (AFP)