Presidente da Confindustria revela preocupação com a queda da produção manufatureira italiana, mas ressalta a excelência de produtos nacionais que não conhecem crise e defende uma mudança de mentalidade para retomar o crescimento
A produção manufatureira italiana cai abruptamente, enquanto o Brasil, junto à Índia, passa à frente. A quota mundial da Itália, relativa ao setor, em 2007, se confirmava em 4,5%, mas atualmente está parada nos 2,6%. O Brasil, ao contrário, partiu dos 2,6% em 2007, e atingiu os 2,8%. Os números foram revelados por uma pesquisa do Centro Studi di Confindustria, que elaborou os dados do Global Insight e do Population Reference Bureau. Em seis anos, a Itália desceu do quinto ao oitavo lugar na classificação global da produção manufatureira. Já o Brasil subiu da décima para a sétima posição. As tendências dos dois países seguem, portanto, trajetórias completamente opostas: na Itália, entre 2007 e 2013, a produção caiu 5% ao ano, enquanto no Brasil aumentou em 0,8%.
Mesmo inferior àquela dos seis anos precedentes, a performance brasileira parece positiva, caracterizada por uma taxa de crescimento anual de 3,1%. Vários fatos pesam no andamento da produção italiana, começando pela queda de 5% da demanda interna, em relação a 2000, a única performance negativa entre as principais economias do mundo. Os Estados Unidos, por exemplo, continuam a apresentar uma busca interna muito firme (+22%), que se torna inclusive explosiva nos casos da China (+208%) e do Brasil (+65%). A exportação também está em queda, mas se mostra em linha com a tendência na Europa. As políticas fiscais restritivas e o paradoxo de um euro forte, sobretudo em relação às moedas das economias emergentes, contribuem para frearem a exportação.
As excelências italianas da moda e do automobilismo continuam inabaláveis
Mesmo em meio a tal quadro, as excelências nacionais se consolidam e vêm à tona na Itália, que se afirma como o segundo país exportador europeu, logo atrás da Alemanha. O momento, contudo, continua delicado.
— O mapa da perda dos postos de trabalho e das unidades produtivas é drástico. Tanto as regiões do norte, de mais antiga industrialização, quanto algumas do centro, como a Toscana e, também as mais dinâmicas do sul, como a Puglia, sofreram. Sem um manufatureiro em boa saúde e com um papel central nos processos de economia, não haverá crescimento, e sem crescimento, não haverá trabalho — observa o presidente da Confederação das Indústrias Italianas, Giorgio Squinzi.
O trabalho, hoje, representa a principal emergência nacional.
— É a nossa prioridade absoluta, que deve orientar todas as nossas ações, escolhas e decisões ao nível das empresas, do governo e das instituições europeias. Devemos, primeiramente, resistir, e, em seguida, responder a uma produção industrial com queda de 5% ao ano, ao retrocesso de três posições na escala mundial dos países industrializados e a um PIB reduzido em 9%, com as consequências que, infelizmente, conhecemos sobre o trabalho e as condições de vida das famílias italianas — ressalta Squinzi.
Segundo ele, “os dados se assemelham a um boletim de guerra”, porém “não significa que a indústria e os empreendedores do país estejam imóveis e conformados”:
— Diante da queda de setores importantes, como o de automóveis, eletrodomésticos e construção, novas atividades nasceram e se desenvolveram. Além disso, obtiveram-se ótimos resultados nos mercados externos, graças à contribuição dos setores nos quais a Itália, historicamente, tem vantagens competitivas consideráveis, do alimentício ao mecânico, da moda ao farmacêutico.
Para vencer os desafios globais, ele elege as palavras-chave conhecimento e inovação e, por fim, indica a estrada a ser seguida:
— É válido um salto de mentalidade, uma volta clara e decidida, que se refira também às finanças, pois não podem existir investimentos sem crédito, como reconheceu o presidente do Banco da Itália.
Para tanto, o presidente de Confindustria anuncia o lançamento de uma agenda para o crédito, “que veja de forma geral todas as fontes de financiamento para as empresas e os instrumentos que possam ser colocados em campo para potencializá-las, do desenvolvimento de instrumentos de débito alternativo, ao ingresso no financiamento das pequenas e médias empresas de novos intermediários da poupança e a redução dos prazos de pagamento das faturas”.