Glass Hostaria
Trastevere é um bairro caracterizado por trattorie simples a preços razoáveis, com atmosfera animada. Muito estranho que, no meio de tantos restaurantes bons, mas às vezes parecidos, exista um completamente diferente, de alta gastronomia: Glass Hostaria. O menu surpreende as papilas gustativas mais curiosas. Que tal um ravióli recheado com foie gras ou um supermacio cabrito montês? Os vegetarianos vão preferir uma deliciosa massa com açafrão, azeitonas e pistache. De sobremesa, feche com chave de ouro com o incrivelmente gostoso creme de maracujá com sorvete de pipoca.
Saudades dos latin lovers
Muito tempo atrás, escrevi nesta coluna sobre os latin lovers italianos, categoria hoje em vias de extinção. Ainda existem, mas não a cada esquina, como acontecia nos anos 60 e, em proporção menor, nos primeiros anos deste milênio. Em meus 12 anos morando na Itália, pude notar muitos latin lovers em ação nos trens, na recepção de hotéis, pelas ruas. Nunca vou me esquecer de um astrônomo que me seguiu por muitas estações de metrô, desceu onde desci e me seguiu até a porta da minha casa, onde se apresentou com toda a classe: “Prazer, sou Sigismondo”. Homens dispostos a fazer das tripas coração para conquistar uma mulher são pérolas raras.
Foi revendo um filme antigo que me lembrei dos antigos latin lovers. O filme em questão é Summertime, de 1955, em português, Quando o coração floresce, com a extraordinária atriz Katherine Hepburn e o bom ator italiano e bellone Rossano Brazzi.
A história é bem simples: uma secretária americana solteirona, Jane, realiza o sonho de uma vida: viajar para Veneza. Ela se maravilha com as belezas da cidade. Faz tudo a que o turista tem direito, inclusive sentar-se à mesinha de um café na Piazza San Marco. Lá, ela se sente observada por um bonitão, Renato. Mais tarde, entrando numa loja de antiquários, ela o vê de novo e, comprando uma taça de vidro de Murano, eles se conhecem melhor. Ele faz a corte. Afinal, latin lover que se preze não dorme em serviço. Único probleminha, que ela descobre pouco depois: ele é casado, apesar de já separado fisicamente. Ela fica furiosa, dando uma lição de moral a ele com palavras duras.
Mas ele tem a resposta na ponta da língua:
“Você parece uma criança com fome, que recebe um prato de ravióli para comer. ‘Não, você diz, eu quero um bife.’ Minha querida menina, você está com fome. Coma o ravióli”.
E ele continua: “Você quer levar de lembrança de volta para sua casa somente vidro de Murano?”
Se ela cedeu ao latin lover, é preciso assistir ao filme para saber.
Ah, os latin lovers do passado! Onde foram parar?