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No Hangar Bicocca, um museu de arte ao norte de Milão, o sábado do dia 7 de fevereiro marcou a abertura do que será a herança do maior evento mundial deste 2015: a Expo. Com a participação de uma galáxia de personalidades, o chamado “As idéias de Expo” quer dar forma ao que será a herança imaterial da exposição universal. São 42 mesas temáticas com a participação de líderes e autoridades de diversos setores e países unidos pelo tema “Nutrir o planeta, energia para a vida”. O premier Matteo Renzi, fortalecido pela ação política que levou à eleição do presidente da República Sergio Mattarella, conduziu o primeiro dia do encontro que contou com vídeo mensagens do Papa Francisco e mesmo do ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva. Em suas palavras, Lula – visto como o líder que conseguiu acabar com a miséria e redistribuir a renda do seu país – profetiza que é possível dar um ponto final à fome na África e no mundo. “Estou convencido disto companheiro Renzi”.
O fundador do Slow Food, Carlo Petrini, lançou um alerta: “o nervo que coloca milhões de camponeses de joelhos tem um nome claro, se chama livre mercado. É ele que está manipulando o alimento e causando um desequilíbrio de proporções bíblicas”.
Ponto fundamental para a Itália é fazer deste megaevento um motor para a saída da crise. Como diz o presidente do Conselho de Ministros, “este será um ano felix para a Itália, não só feliz, mas extraordinariamente fértil”. E Renzi tem as condições para dizê-lo. Apesar das tímidas melhoras nos índices estratégicos de crescimento italiano, existe mais flexibilidade na União Européia, com o plano Juncker, medidas do Banco Central Europeu, queda do Euro e do petróleo. Esta é a ocasião para a Itália mostrar sua liderança no setor agroalimentar e sua capacidade de inovação tecnológica sem igual. “A Expo será a oportunidade de resgate da Itália”, diz o prefeito da renovada Turim, Piero Fassino, que prevê mais de dois milhões de turistas em sua cidade ao longo dos seis meses do evento, que vai de 1º de maio a 31 de outubro. Na verdade, mais de mil cidades italianas estão mobilizadas para que esta operação se torne importante para o país e não só para a região da Lombardia. Para as dezenas de milhões de visitantes da Expo, se oferecerá um pacote com as especialidades culinárias, os burgos medievais, os festivais de música, os eventos esportivos, as experiências nos mares e nas montanhas e mais uma infinidade de atrações com todo o potencial italiano. Se o país naturalmente já encanta e faz moda, este poder será reforçado pela estrutura do sistema criado em torno da exposição.
E para se ter noção desse potencial, somente os chineses somam 100 milhões de turistas desejosos de conhecer e desfrutar as boas coisas do Belpaese.
Mas não se pode descuidar e perder o foco do que é o papel central da Expo. Em seu vídeo, o papa Francisco recordou uma frase que um camponês ancião lhe havia dito: “Deus perdoa sempre, as ofensas, os abusos; Deus sempre perdoa. Os homens perdoam às vezes. A terra não perdoa nunca! Se não cuidarmos dela, a resposta vem com destruição”. Ele também recordou o papa João Paulo II ao falar do “paradoxo da abundancia”. “Existe comida para todos, mas nem todos podem comer, já o desperdício, o descarte, o consumo excessivo e o uso de alimentos para outros fins estão diante de nossos olhos”.
O papa Francisco defende que existe manipulação de dados estatísticos, corrupção e um apelo doloroso à crise econômica. É necessário mais do que um pragmatismo emergencial, que se revela sempre como proposta provisória ineficiente para resolver a pobreza. A economia da exclusão mata. “Se um morador de rua morre por falta de recursos isso não é notícia, enquanto que uma oscilação de um ponto percentual na bolsa de valores é”.
E finalizou com as mesmas palavras de sua primeira missa como bispo de Roma: “Peço, por favor, a todos aqueles que ocupam papel de responsabilidade em âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade, que sejamos defensores da criação, do desenho de Deus traçado na natureza, defensores do próximo, do ambiente, não vamos deixar que sinais de destruição e de morte acompanhem o caminho do nosso mundo! Mas para isso precisamos também cuidar de nós mesmos! Não podemos ter medo da bondade e do afeto”.
Boa leitura!