Dodici apostoli
Verona, além dos lugares imortalizados por Romeu & Julieta, de Shakespeare, e de sua arena espetacular, onde se pode assistir a uma das mais emocionantes apresentações de ópera na Itália, é famosa pela ótima culinária. Um dos restaurantes mais famosos da cidade é o Dodici Apostoli. Elegante, seu maître e seus garçons são extremamente corteses. Os preços são um pouco salgados. Uma das entradas mais saborosas é o mil-folhas de aspargo. Para conhecer a cozinha típica de Verona, peça o pearà coi saltimbocca alla veronese, uma carne macia com molho à base de pão, pimenta e medula de ossobuco. Quem ainda quiser e puder prosseguir na odisseia gastronômica, pode finalizar com um pandoro com zabaione. Uhmmmm.

Viajar!
Cada um tem uma grande paixão na vida. A minha é viajar. Viajo com o mesmo entusiasmo da primeira viagem: sinto-me uma menina, como se a viagem fosse a mãe que havia prometido me levar na melhor sorveteria do bairro.
Para minha sorte, tenho três obstáculos a esta grande voracidade de viajar, senão, viajaria sem parar. Primeiro, minha renda modesta. Segundo, o medo de voar. Terceiro, meu companheiro, que detesta viajar.
Tudo me inspira a viajar. Viajo para conhecer uma cidade. Para assistir a uma ópera num festival. Para conhecer a casa de um escritor preferido. Para saborear um prato que só existe em determinada cidade. Para ficar num hotel que me faz sonhar. Para visitar um amigo.
Ler um jornal, uma revista ou um livro é um perigo para mim, pois acaba sempre me dando inspiração para viajar. Lembro bem quando li uma revista de culinária que falava de um prato genovês, o cappon magro, uma mistura deliciosa de diversos peixes e verduras, com um molho verde feito com anchovas, alcaparras, pinóli, alho, azeite, salsinha: um manjar dos deuses. Pois é. Li e não sosseguei até ir a Gênova à procura de tal prato. Rodei a cidade inteira, pois é um prato feito somente em datas especiais, como a Páscoa; portanto, raramente é presente no cardápio de restaurantes. Ao indagar, descobri que o único local que podia prepará-lo era o Zeffirino, restaurante famoso porque seu chef preparava macarrão com pesto para o Sinatra em suas tournées pela Itália. Ao chegar ali, disseram-me que era complicadíssimo de fazer e precisava reservar muitos dias antes. Fiz um melodrama, expliquei que tinha vindo à cidade só para saborear o tal do prato. Eles aceitaram preparar o quitute para o dia seguinte. Um prato e uma viagem inesquecíveis.
Arrumar desculpas para viajar é comigo mesma. Na internet, descobri recentemente um hotel em Verona que fica no pátio interno da casa de Julieta, com o balcão onde ela ouvia encantada as palavras de seu Romeu. Minha alma romântica ficou inquieta até eu reservar uma noite no hotel. Escolhi um dia de semana para entrar no meu budget e arrastei companheiro e filhos para lá. De noite, o portão do pátio interno é fechado e só os hóspedes do hotel podem ficar a sós com a estátua de Julieta, sem a confusão dos turistas. Fiquei um bom tempo no silêncio da noite, batendo papo com a estátua e respirando os ares do palco desta grande história de amor. Claro que, como boa turista, como manda a tradição, não deixei de colocar um bilhetinho para a Julieta, encaixado no meio dos tijolos.
Voltei com um sorriso bobo no rosto. Sorriso de menina. Toda lambuzada e feliz de ter tomado o melhor sorvete do bairro.