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Luxo e felicidade

17 de junho de 2015 - Por Comunità Italiana

Se o luxo pressupõe um teor de vida raro, o que é raro em nossa vida?

“Todos os homens – dizia Nietzsche – dividem-se em escravos e libertos por que quem não dispõe de dois terços do seu dia é um escravo”. O verdadeiro luxo, na nossa sociedade pós-industrial, não é o dos iates, casacos de pele e joias, mas consiste em privilégios de outro tipo: ter tempo para si próprio; dispor de espaço para a privacidade; gozar do silêncio não quebrado pelo toque do telefone; não ter medo de ser demitido; brincar sem inibições; admirar a beleza sem ser esnobe; ter amizades sem interesses; amar sem reservas e ser amado sem tabus; viajar sem agências; praticar o ócio criativamente, sem complexos de culpa.

Moro em Roma, perto do deslumbrante palácio dos príncipes Massimo, e durante anos vi dormir, debaixo de suas colunas, o mais jovem da família nobre, que tinha escolhido viver como um sem-teto. Nem todos os ricos preferem o luxo e sentem-se realizados só quando viajam numa Ferrari ou vestem um colar da Bulgari. Alguns preferem a parcimônia ou até a pobreza, e não se sentiriam à vontade viajando na business da Alitalia. Mesmo o rendimento intelectual independe das condições econômicas: as músicas dos pobres como Beethoven ou Schubert não devem nada às obras de esbanjadores como Wagner ou D’Annunzio.
A lista de filósofos, legisladores e predicadores – de Licurgo a Savonarola – que, na história, condenaram o luxo, é longa. Muitos ricaços – de São Francisco a Bin Laden – abriram mão dos luxos para seguir vocações revolucionárias ou a pobreza, consideradas como cartões de embarque para o paraíso. O voto de pobreza, junto com o de castidade e obediência, é exigido por muitas ordens religiosas. O marxismo sempre rotulou o luxo como sinônimo de furto. Os Evangelhos insinuam sérias dúvidas quanto à possibilidade de um rico entrar no paraíso.
Mas é também interminável a lista daqueles – de Montesquieu a Sombart – que juram que o luxo constitui o real motor da economia e que o desperdício, ao invés de ser um reprovável pecado, é perfeitamente coerente com a natureza, que vai à frente esbanjando: pensemos só em quantos espermatozoides são sacrificados para que um só fecunde o óvulo.
Voltaire, grande racionalista, amava repetir: “Tirem de mim o necessário, mas me deixem o supérfluo” e aquele esnobe de Oscar Wilde amava citá-lo e acrescentava: “Prefiro morrer acima de minhas possiblidades”. Aliás, não há sociedade, mesmo pobre, que não permita, a alguns de seus membros privilegiados de berço, viver num luxo descomedido: os emires árabes, por exemplo, e os marajás indianos, ostentam riquezas vergonhosamente contrastantes com a miséria de seus súditos.
O comunismo demonstrou saber distribuir riqueza sem produzi-la e o capitalismo demonstrou saber produzir riqueza sem distribui-la. Então, mesmo nas nações mais democráticas, os ricos acabam sempre sendo favorecidos. Na era do “democrata” Clinton, os impostos pagos pelos 205.000 contribuintes com renda superior ao milhão de dólares foram reduzidas de 11%. Mas, justamente com a chegada da sociedade pós-industrial, algo comprometeu a concepção e a prática do luxo, ao ponto de Hans Magnus Enzensberger, um dos mais famosos inteletuais alemães, perguntar-se em que consista, afinal, o luxo hoje em dia.
Na sociedade rural e na industrial, caracterizadas pelo contraste entre um pequeno número de ricos e uma enorme massa de pobres, quem ostentava o luxo o fazia, sobretudo, para surpreender e para subjugar psicologicamente as classes inferiores, as quais, domesticadas pela mídia, ao invés de indignar-se, amavam admirar as festas dos reis, os iates dos empresários, as liturgias papais, a festa do Oscar.
Mas como evolui o conceito de luxo na medida em que se passa da sociedade industrial àquela pós-industrial, onde o bem-estar é mais amplo? Se o luxo pressupõe um teor de vida raro, o que é raro em nossa vida?
Enzensberger responde que já andam escassos seis tipos de bem: o tempo, a autonomia, o espaço, o silêncio, a segurança e o ambiente não poluído.
Eu acrescentaria pelo menos mais três: a convivência, que ajuda a derrotar a solidão e o tédio; o ambiente criativo, que permite conjugar fantasia e concretude, emotividade e racionalidade; a beleza, que confere felicidade mesmo através de coisas simples e baratas.
Mas tem mais: segundo as regras do velho luxo, não era suficiente ser rico e poderoso: precisava saber ostentar. Hoje, ao contrário, para curtir os verdadeiros luxos como o tempo e o silêncio, é necessário ficar no próprio cantinho, sem estardalhaço e sem ostentação.  

Domenico De Masi,
um dos mais importantes sociólogos italianos, é conhecido pelo conceito de “ócio criativo”, título de um de seus livros mais vendidos no Brasil. É professor de Sociologia na Universidade La Sapienza de Roma, onde atua como diretor da faculdade de Ciências da Comunicação

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.