Claudia Monteiro de Castro
La Gatta Mangiona
Cada bairro de Roma tem a sua pizzaria mais popular. Em Prati, tem a Giacomelli. Perto da Piazza Navona, disputam o primeiro lugar a Baffetto e a La Montecarlo. No bairro de Trastevere, uma das preferidas é a Ivo e, nos arredores de Piazza Fiume, a Gigetto. A pizzaria mais amada no bairro de Monteverde, bairro residencial romano, perto de um dos parques mais bonitos da cidade, o Villa Doria Pamphilj, é a La Gatta Mangiona. A pizza é excelente, e o ambiente é muito gracioso, cheio de quadros que retratam gatos e de bibelôs em forma de gatos.
Aqui não tem tripa para gatos
Adoro os ditados italianos. Tem um que diz non c’è trippa per gatti, ou seja, não tem tripa para gatos, que é perfeito para o momento. O ditado é velho, tem mais de um século e foi dito por um prefeito de Roma em 1907, quando, procurando economizar, cortou o fundo destinado a dar comida aos tantos gatos espalhados pelas ruínas romanas que caçavam os ratos da cidade. A expressão significa que aqui não tem esperança, portanto, é melhor procurar em outro lugar.
O ditado é velho, mas a situação é atualíssima. Hoje, na Itália, não tem tripa nem para gatos nem para humanos. A nação vivencia um período difícil no mundo do trabalho. Em parte, é devido a questões culturais, à idade da população e, é claro, à crise. Em termos culturais, a Itália sempre teve um grande apego à tradição e à segurança, ao emprego que dura a vida inteira. Portanto, há pouca mobilidade de trabalho. Outra questão: devido ao corporativismo, é difícil entrar num mercado de trabalho novo. Quem já está no setor, reclama quando se abre espaço para outros. Outro detalhe: nos Estados Unidos, se a pessoa decide mudar de rota, digamos, de engenheiro para antropólogo, há sempre uma chance. Na Itália, tudo é muito difícil. A população envelhece e o desemprego entre os jovens chega a 40 por cento.
Se é difícil para os italianos, imagine para quem vem de fora. Os chineses, como bem sabido, abrem lojinhas que vendem tudo a preço de banana. Os paquistaneses abrem mercadinhos de frutas. Algumas nacionalidades se dedicam a atividades de limpeza e aos cuidados com crianças e idosos. Porém, não há lugar para todos, e muitos imigrantes que chegam ao país fugindo de condições de vida desumanas têm que dar nó em pingo d’água. Alguns viram vendedores ambulantes. Sempre me perguntei, passando por esses ambulantes, se conseguem vender bem. Além dos que vendem bolsas de marca falsificadas, há quem venda as coisas mais estapafúrdias: porquinhos de plástico de todas as cores que, jogados no chão, ficam grudados, discos fosforescentes para serem lançados ao alto e depois descerem, meias para homens, segurador de iPhone para selfies. Cada um se vira como pode; o importante é não deixar a peteca cair.
Muitos estrangeiros sonham em morar na Itália. Sua beleza, sua história, suas paisagens ainda fascinam.
Mas quem pensa em vir morar no Belpaese, que pense duas vezes, pois aqui, como já anunciei no início desta crônica, não tem tripa para gatos!