Editoriais
Acabou o carnaval. Depois da licença para a folia e enquanto esperamos 2016 engrenar de verdade, a pauta insiste em ser a mesma. Crise. No Brasil e no mundo, uma nova onda grave de temor por conta dos índices da China e da quebra de bancos europeus abala o humor dos mercados. E o que são os números diante do horror das tragédias humanitárias e o estresse global provocado por um mosquito que a cada dia parece mais forte e perigoso?
O epicentro desse pessimismo parece estar cada vez mais perto de nós. Por aqui, enfrentamos um dos mais graves ciclos de problemas de toda natureza. O país está em situação delicada na Saúde e falta muita infraestrutura básica para que se enxergue uma saída num breve espaço de tempo. Sem buscar culpados, é hora de uma ação contundente das instituições brasileiras. Não há mais espaço para experiências negativas com a vida de homens e mulheres que formam esta nação. Frágeis, nos tornamos alvos mais fáceis também para a bandidagem que nos cerca.
Mas, como dizem os italianos, “non gliela daremo vinta”. Apesar de todos os problemas, não podemos nos dar por vencidos. O mau humor não pode prevalecer. Afinal, o grande trunfo brasileiro é a inventividade. O país tem que convocar as gerações em ideias e usar os seus potenciais numa onda positiva de crescimento.
Da Itália, chega a notícia da morte de um ícone da indústria e do made in Italy. Morreu aos 93 anos Renato Bialetti. Seu maior feito, popularizar o invento de seu pai Alfonso, em 1933. A moka, uma cafeteira que revolucionou o modo de preparar o café em casa e conquistou todos os países com enorme sucesso até hoje. Mas, para que decolasse o empreendimento, como gostava de contar o próprio Renato, sua intuição foi fundamental. Dez anos mais tarde, em meio a Europa do pós-guerra, o jovem Renato tentava explicar o funcionamento da sua máquina para um grupo de franceses céticos em um hotel. Naquele momento, passa o magnata grego Aristóteles Onassis e o jovem se aproxima dele com um pedido: “Sou um jovem empreendedor e preciso da sua ajuda para convencer estes clientes sobre a qualidade do meu produto. Basta o senhor dizer que conhece e utiliza a moka Bialetti”. Segundo a lenda, Onassis se dirige a ele e fala em voz alta: “Você sabia que eu nunca bebi um café tão bom quanto o que sai das suas cafeteiras, rapaz?” Daí por diante a qualidade do café fez história pelas charmosas máquinas de diversos tamanhos e com um design diferenciado.
Nesta edição, trazemos como capa uma entrevista exclusiva a um veneziano de 53 anos que está acostumado às adversidades. Nos anos 80, quando a nossa moeda era o Cruzado e os preços mudavam mais de uma vez ao dia por conta da inflação, Marco Balich percorreu o Brasil como mochileiro. Pegou kombi, ônibus e balsa para atravessar pontos em Trancoso, foi a Búzios e conheceu a Amazônia. Contratado como produtor executivo das celebrações dos Jogos Olímpicos do Rio, ele está acostumado a ser alvo de críticas por conta de seu trabalho. E aos que disparam sobre os altos custos dos eventos, ele não esmorece e responde: “A cada ano, qualquer nação compra, no mínimo, entre 10 a 20 helicópteros e aviões, que custam em média de 20 a 80 milhões de euros. Depois um deles cai, talvez, num exercício, no mar… Bem, o que é mais importante: ter algo que te faça reaver o orgulho e a dignidade para uma nação ou comprar um avião a menos?”.
Com esta entrevista realizada pelo repórter Guilherme Aquino direto do escritório de Balich, em Milão, mostramos o trabalho de um jovem que abandonou os estudo para seguir a banda Pink Floyd, realizou shows do U2, foi responsável por eventos nas olimpíadas de Salt Lake City, de Londres e de Sochi; pelo bicentenário do México e, mais recentemente, encantou a todos que participaram da Exposição Universal de Milão, com um ícone, a Árvore da Vida. E com a esperança de que uma resposta dele ao nosso correspondente se faça viva, encerro este texto: “Se você trabalha o orgulho de uma nação, depois o povo orgulhoso vai tratar melhor o próprio país. Construam-se hospitais, mas não renunciemos a celebrar a nossa própria identidade”.
Boa leitura!