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Hora de reagir

16 de março de 2016 - Por Comunità Italiana
Hora de reagir

Hora de reagirSociólogo italiano, autor do clássico Ócio Criativo, faz previsões para o Brasil de 2025 e conclama os intelectuais do país a cobrarem um comportamento mais responsável da classe política para reverter a crise atual

Domenico De Masi é um apaixonado pelo Brasil e não esconde isso. Seu mais novo livro, 2025 – Caminhos da cultura no Brasil (Sextante), é mais uma prova dessa paixão. Na obra, ele reuniu análises da cultura brasileira de 11 formadores de opinião das mais diversas áreas, como Cristovam Buarque, Tárik de Souza, Caio Túlio Costa, Cláudia Leitão, Fábio Magalhães, Gloria Kalil, Jaime Lerner, Leonel Kaz, Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti e Paulo Werneck. Em seguida, o sociólogo elabora algumas previsões para daqui a nove anos em relação a diversos temas. Na economia, por exemplo, De Masi não prevê grandes mudanças, com o país ainda cumprindo um papel de produtor de commodities, exportando minério de ferro, café verde e petróleo, porém, mantendo o foco em bens materiais e automóveis em relação a políticas de Estado e de mercado. A mão de obra pouco qualificada e o escasso desenvolvimento tecnológico são fatores que deverão manter o Brasil como produtor de bens primários e com sua infraestrutura, inclusive de transportes, abandonada. “A automedicação e o péssimo atendimento de saúde pública continuarão alimentando vastas redes brasileiras de farmácias”, antevê De Masi. Ele ainda diz que é esse o momento em que os intelectuais brasileiros devem cobrar da classe política um comportamento menos egoísta. “Seria melhor se os intelectuais brasileiros, conscientes dos dados objetivos que atestam a beleza, a grandeza, a riqueza do Brasil, país potencilmente feliz, solicitassem aos políticos um comportamento menos infantil, os estimulassem a encontrar um acordo dialético de agora até as próximas eleições, fazendo um apelo ao país para se preparar para os Jogos de modo mais sério, criativo e acolhedor”.

ComunitàItaliana — Em seu livro, o senhor afirma que o Brasil está assimilando a cultura global sem perder as características positivas da sua cultura local, ao contrário, da Europa, que é muito americanizada. A Itália se encaixa na análise europeia em geral?
Domenico De Masi — Ao longo da história, a humanidade experimentou várias formas de globalização. Desde a antiguidade, alguns povos exploraram progressivamente regiões ignoradas do planeta para conhecer, mapear, explorar; trocar mercadorias em um raio cada vez mais extenso; conquistar países inteiros com armas, mercadorias, com a língua, a cultura, a moeda. O transporte de pessoas e de objetos ficou menos custoso e mais rápido. Os meios de comunicação e a rede completaram a obra, anulando as distâncias de tempo e espaço. Algumas empresas englobaram outras, multinacionalizando-se.  As comunicações via satélite permitiram às empresas conduzir operações em escala mundial em uma velocidade próxima àquela da luz, enquanto as enormes aeronaves de carga permitiram o deslocamento físico de mercadorias a uma velocidade próxima à do som. E, daqui a pouco, as impressoras 3D vão consentir mais.
Hoje, pela primeira vez, todas essas formas de globalização agem simultaneamente. Assistimos em todo o mundo aos mesmos filmes da Warner Bros, da Metro-Goldwyn-Mayer, ou da Paramount; dirigimos carros da Toyota, Fiat ou Volkswagen; comemos as mesmas pizzas, o mesmo sushi ou o mesmo Big Mac; bebemos a mesma Coca-Cola, o mesmo Chianti ou os sucos Snapple; calçamos os mesmos sapatos Church’s, Nike ou Clarks; vestimos as mesmas camisas Lacoste, Brooks Brothers ou T-shirt Fruit of the Loom; tomamos os mesmos remédios da Aulin, Maalox ou Melatonina.
A cada manhã, o cidadão brasileiro acorda ouvindo notícias do mundo inteiro, toma banho sob um chuveiro alemão e com um sabão francês, vai para o escritório em um carro montado no Brasil ou no Japão mas com peças alemãs, japonesas e coreanas, joga na Bolsa comprando e vendendo títulos de cada país, ouve discos gravados em estúdios de vários países e mixados em outros, mora em um local, trabalha em outro e passa férias em outro ainda, chegando a cada um desses locais em um piscar de olhos. E, ainda assim, cada país conserva com ciúmes uma parte originária da própria cultura. Tenho a impressão de que o Brasil, como o Ocidente, sofre um empurrão rumo à americanização; há 60 anos o país assiste a filmes e seriados de TV americanos, ouve música americana. Todavia, conseguiu conservar uma parte da sua cultura mais do que a Europa. Por exemplo, a música popular brasileira resistiu melhor à influência do rock americano e a TV Globo é menos americanizada do que a Rai ou a alemã Das Erste.

CI — Alguns formadores de opinião expressam em seu livro que o Brasil tende a viver entre a euforia e a depressão ao longo de sua história. Após alguns anos de euforia, parece que estamos novamente depressivos. Será que algum dia sairemos dessa bipolaridade e alcançaremos a estabilidade de humor, necessária para o crescimento constante? Teria o consumismo do brasileiro a ver com isso?
DM — Todos os países do mundo atravessam fases de depressão e de euforia. Algumas fases depressivas dependem da crise econômica, outras das catástrofes naturais, ou de derrotas bélicas, ou do declínio das ideologias etc. Os Estados Unidos, após o atentado das Torres Gêmeas, atravessaram uma fase de depressão da qual só agora se estão reerguendo. A depressão italiana durante o período da operação Mãos Limpas era muito parecida com a que atravessa agora o Brasil. Depois do fim da ditadura, o país viveu um período extraordinário de “democracia cumprida” e gozou de 30 anos de crescimento continuado: nos anos 80, cresceu 1,6%; nos anos 1990, 2,6%; no primeiro decênio de 2000, 3,9%. Entre 2003 e 2013, o desemprego caiu de 12,4% a 5,6% e entre os jovens baixou de 25 para 14,3%. A renda per capita, que era de 2.760 dólares em 2005, saltou para 11.340 em 2015.

CI — O que aconteceu, então?
DM — Para mim e para os meus colegas no resto do mundo é difícil entender o que aconteceu com o Brasil nos últimos anos. Existem 196 países no mundo. É o quinto em superfície e em população, com 25% com menos de 15 anos. É também o quinto em produção agrícola e investimentos estrangeiros, o sexto em número de passageiros em voos, o sétimo PIB e o sétimo em produção automobilística; o décimo em produção industrial e em extração de metais preciosos; o décimo primeiro em produção de energia. Devemos acrescentar que é o país mais pacífico do mundo: em 500 anos, entrou apenas uma vez em guerra com um de seus 11 vizinhos, o Paraguai. E acrescenta-se que é um país com a maior mistura racial, mas com o menor racismo. Se consideramos tudo isto não compreendemos a origem da atual depressão que atormenta o país há dois anos e o bloqueia em uma imobilidade suicida. Seja no governo, seja na oposição, a cada dia se descobre um político corrupto. A esquerda venceu as eleições e a direita, em vez de passar quatro anos fazendo oposição séria para vencer o próximo pleito, está perseguindo o objetivo de colocar Dilma em estado de impeachment. Tudo isso está arruinando gravemente  a imagem do Brasil no mundo, incidindo negatimente nos investimentos estrangeiros. Assim, o Brasil está parado. Os meios de comunicação competem entre si para ampliar o senso de crise e, daqui a pouco, com a chegada das Olimpíadas, o país perderá uma esplêndida ocasião — que não vai se repetir — para se afirmar como país líder no jogo de xadrez mundial.   
Confesso que, pela primeira vez em 30 anos da minha apaixonada admiração pelo Brasil, sinto uma profunda desilusão, que, infelizmente, é compartilhada pela maior parte da opinião pública internacional.

CI — O senhor ressalta a capacidade de convivência sem ódio racial no país, mas diversos intelectuais criticaram o “mito da democracia racial”, que estaria presente na obra de Gilberto Freyre, lembrando que os negros são maioria da população carcerária e entre as camadas mais pobres. Episódios recentes de insultos raciais nas redes sociais, seriam, então, fatos isolados?
DM — Quando se fala de racismo, acaba-se fazendo uma comparação com os Estados Unidos, que pretendem ser os campeões da democracia, legitimados para defender e exportar a democracia e a liberdade no mundo inteiro. Os EUA hoje têm 7,2 milhões de pessoas em estado de custódia, dos quais 2,3 milhões estão nas prisões. Os negros e hispânicos representam 60% da população carcerária. Para cada nove crianças negras, uma tem o pai na prisão. Se formos comparar, o Brasil é muito menos racista. Nunca vi no país igrejas, escolas ou bancos só para brancos. Nos EUA, vi muitos. Gilberto Freyre foi um dos mais importantes antropólogos do mundo e conhecia bem as profundas diferenças que existem no Brasil entre brancos e negros. Mas era consciente de que tais diferenças são bem menos terríveis do que em outros países. O Brasil nunca tratou imigrantes da maneira bárbara como a Europa está tratando os milhares de perseguidos, pobres e indefesos que escapam da África e da Ásia.

CI — Dentro de suas previsões em geral para 2025, como estaria a Itália, e suas relações com o mundo — e com o Brasil, não só no campo da economia, mas em nível cultural?
DM — O Primeiro Mundo vai conservar o primato da produção de ideias, mas será cada vez mais difícil saquear os países pobres. Muitos trabalhos manuais e intelectuais serão absorvidos pelas máquinas. Em 2025, a rede terá transformado o mundo inteiro em uma única àgora capaz de representar todo o amor e todo o ódio do mundo. Poderemos nos colocar em contato em qualquer lugar e com qualquer pessoa em qualquer ponto do planeta sem dar um passo. Vamos teleaprender, teletrabalhar, teleamar, teledivertir-nos. Vamos dispor de um tempo livre cinco vezes superior ao tempo de trabalho. Sessenta por cento dos estudantes universitários, formados e com títulos de mestrado, serão mulheres. Muitas terão filhos sem ter marido, enquanto aos homens não será possível ter filho sem ter uma esposa. Por isso, as mulheres estarão no centro do sistema social e os valores até agora cultivados prevalentemene pelo sexo feminino (estética, subjetividade, emotividade, flexibilidade) terão colonizado inclusive os homens. Ambos compartilharão as atividades de produção e cura. A homologação global vai prevalecer sobre a identidade local. Todavia, cada um tenderá a se diferenciar do outro em relação a desejos, gostos, comportamentos individuais. Tanto a Itália quanto o Brasil serão os países mais ricos do mundo e vão compartilhar esse cenário. As relações entre ambos serão cada vez mais intensas, seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista cultural — desde que nenhum dos dois entre em uma insensata espiral de depressão autodestrutiva.   

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.