A campeã italiana em saltos ornamentais Tania Cagnotto conta à Comunità como está se preparando para o Rio2016 com a meta de ganhar a única medalha que lhe falta e revela seus planos para depois do evento internacional
A paixão pela água talvez surgiu até mesmo antes dela nascer, quando estava no ventre da sua mãe. Tania Cagnotto, a primeira italiana campeã mundial em saltos ornamentais, é figlia d’arte: a mãe, Carmen Casteiner, nos anos 1970, dominava a cena italiana no mesmo esporte e, naqueles anos, o pai, Giorgio Cagnotto, era o melhor atleta italiano na especialidade.
O primeiro salto de Tania foi acidental, quando tinha apenas dois anos: escorregou num pequeno lago do centro de esporte em Roma. Sequer ficou traumatizada. Quatro anos depois, fez o seu primeiro salto numa piscina, o que lhe parecia a coisa mais natural do mundo.
— A paixão sempre esteve lá. Mais tarde, certamente aumentou com a adrenalina dos primeiros sucessos — afirmou à Comunità Cagnotto, originária de Bolzano, no norte da Itália.
Os pais de Tania inicialmente tentaram levá-la para outros esportes, como tênis ou esqui, mas ela só queria saber de saltos ornamentais, queria imitar o que eles faziam e ao mesmo tempo se divertia muitíssimo.
— Meu pai e minha mãe tiveram e ainda têm um papel fundamental. Ambos são saltadores e já passaram por tudo que eu vivi profissionalmente; por isso, conseguem me dar conselhos valiosos. Transmitiram-me, não somente no esporte, os verdadeiros valores da vida e o que me tornei hoje. Devo tudo a eles — destacou Cagnotto, treinada pelo pai Giorgio.
Aos sete anos, começou a participar de competições, nas quais já demonstrou o seu grande talento que a levou com apenas 15 anos aos Jogos de Sydney. A primeira olimpíada foi um sonho para Tania, que agora tem 30 anos e está prestes a participar da sua quinta olimpíada.
— Lembro-me que foi um presente para mim poder estar em Sydney, entre todos os atletas mais fortes e mais famosos do mundo. Caminhava como uma turista com a câmera e tirava fotos com todos! Vivia aquele momento como um parque de diversões: não tinha pressões, nem pretensões; já estar lá pra mim era um sucesso — contou a jovem atleta.
Cagnotto ganhou a primeira medalha como sênior nos Europeus de Berlim 2002. Na mesma competição, conquistou o bronze em dupla com Maria Marconi. Em 2005, conseguiu outro importante resultado: o bronze no trampolim de três metros no Campeonato Mundial em Montreal, tornando-se a única italiana a conquistar esse título. Em 2007, em Melbourne, e em 2009, em Roma, confirmou-se mais uma vez o terceiro lugar mundial no trampolim de três metros. Além desse ótimo resultado, nas competições romanas, Cagnotto, em dupla com Francesca Dallapè, ganhou a primeira medalha de prata feminina italiana nos saltos ornamentais no trampolim de três metros.
— Formamos uma dupla em sincronizado desde 2009. Foi uma escolha muito lógica, pois vivemos a 30 minutos de distância. Nos demos bem desde o início e a coisa mais importante é que nos respeitamos. Somos amigas e trabalhamos pelo mesmo objetivo. De fato, somos a única dupla que não muda de parceiro há tantos anos — salientou a bolzanina, que acredita na importância de ter um bom feeling com a outra saltadora para conseguir um bom treino. Em 2010, no Campeonato Europeu de Esportes Aquáticos de Budapeste, Tania e Francesca subiram ao mais alto degrau do pódio em sincronizado de três metros. Além disso, Cagnotto conseguiu mais um ouro no trampolim de um metro.
Da desilusão em Londres ao ouro no Mundial da Rússia
Apesar das importantes conquistas obtidas em todos estes anos, nos últimos Jogos Olímpicos, em Londres 2012, a dupla não alcançou a terceira posição por poucos pontos — um resultado digerido com um gosto amargo que poderá ser resgatado em agosto, no Rio. Cagnotto e Dallapè conseguiram a vaga para as olimpíadas recentemente, quando participaram da Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, que acabou de acontecer no Rio, entre os dias 19 e 24 de fevereiro.
Apenas 20 centésimos de pontos separaram Tania do pódio em Londres, no trampolim de três metros. A saltadora confessa que pensou até em se retirar.
— Não sou mais uma menina e os muitos anos de alto nível exigem um esforço considerável e muitos sacrifícios. Mas podem ficar tranquilos. Eu acredito ter ainda muito para dar ao mundo dos saltos ornamentais e agora estou concentrada no Rio. A minha terapia para reagir foi distrair-me totalmente do meu mundo do esporte por um período compartilhado com a minha equipe técnica — revelou Cagnotto, que demonstrou ser uma indiscutível grande campeã. Sua perseverança foi recompensada com várias vitórias, mas uma medalha em particular foi muito importante no ano passado. No Mundial de Kazan, na Rússia, a italiana conquistou a medalha de ouro no trampolim de um metro, batendo até mesmo as invencíveis chinesas, e se tornou a primeira e única italiana a ter conseguido este desafio. Além de ser a saltadora europeia com o maior número de pódios na carreira, Cagnotto é a melhor atleta italiana de saltos ornamentais de todos os tempos.
— A experiência em Kazan foi algo fantástico. Alcançar finalmente o resultado do título mundial de um metro me encheu de felicidade e orgulho. Foi um sucesso para mim e para todos aqueles que sempre me apoiaram. Além disso, já vinha de um excelente resultado nos Europeus de Rostock. Eu não podia estar mais feliz naquele momento! — lembrou a campeã, que agora só pensa nos Jogos do Rio.
Seis horas diárias de treino, entre saltos, peso e atletismo
Tania já está se preparando desde setembro, treinando seis horas por dia entre atletismo, pesos e saltos na piscina. Antes de embarcar para o Rio de Janeiro em fevereiro e participar da Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, ela e os seus oito colegas do time italiano estavam preocupados devido ao vírus zika. No mesmo mês, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos declarou às federações esportivas americanas que atletas e funcionários preocupados com sua saúde devem considerar não comparecer aos Jogos, em agosto.
Durante a sua estadia, Cagnotto disse não ter visto nenhum mosquito.
— Acho que devem ter inflado algumas coisas, como frequentemente acontece, por motivos que não devemos saber — comentou.
Cagnotto já tinha conquistado a vaga para os Jogos no trampolim de três metros no ano passado, mas a Copa do Mundo foi importante porque conseguiu mais uma vaga junta à inseparável colega e amiga Dallapè. A dupla já entrou no Guinness em 2015, com o sétimo ouro conquistado nos Campeonatos Europeus em Rostock por ser a dupla mais longeva e vencedora no mundo dos saltos ornamentais.
A Copa do Mundo no Rio foi também um evento-teste para o Centro Aquático Maria Lenk, na Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade, sede das próximas competições olímpicas. Segundo Tania, a piscina é realmente belíssima, mas admite estar um pouco preocupada devido ao clima mais frio em agosto.
— A piscina dos saltos ornamentais é ao ar livre, onde vento e chuva podem interromper as competições. Não é uma escolha muito inteligente. No outro dia, mandaram todos sairmos da água por perigo de relâmpagos! Speriamo bene… — comentou Cagnotto, em sua primeira vez no Brasil.
Ela disse que adorou o país e o considera uma terra fantástica e acolhedora.
— Visitei o Cristo Redentor e Copacabana, tudo muito charmoso! Adoro quando as viagens para competir me permitem visitar um pouquinho o país anfitrião — ressaltou Tania, avisando que Rio 2016 será o seu último evento olímpico. Depois dos Jogos, já tem casamento marcado em setembro com Stefano Parolin, contador e instrutor de vela, com quem vive desde 2010, em Bolzano.
E no futuro?
— Sonho construir a minha família no Sudtirol. Já temos casa. O importante é fazer as coisas no tempo certo e tudo virá por si só e da melhor forma possível. No final da minha carreira, gostaria de permanecer no grupo esportivo da Guardia di Finanza e criar um projeto em conjunto para a busca e o crescimento de muitos novos campeões — revelou Cagnotto, sem esconder o desejo de ser mãe nos próximos anos. E se os filhos decidissem continuar a mesma carreira dos avós e da mãe? Tania disse que não sabe se os encorajaria.
— Há momentos em que gostaria que meus filhos continuassem essa maravilhosa e positiva tradição de família, porém há outros em que gostaria que ficassem bem longe das piscinas e seguissem outras paixões — conclui a simpática atleta, focada nas Olimpíadas no Brasil. In bocca al lupo e até agosto!