Os movimentos migratórios e os assentamentos sempre foram intrínsecos à vida de todas as espécies, sejam humanas, sejam animais. A exposição Constelações/Migrações, do artista italiano Pietro Ruffo, no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, oferece uma ótima oportunidade para refletir sobre o fenômeno da imigração, que representa um desafio para a sociedade atual.
— A exposição nasceu a partir de uma série de trabalhos sobre o tema das migrações realizadas há dois anos. Os 10 trabalhos na exposição foram criados especificamente para o Brasil. Nos primeiros cinco grandes desenhos, destaquei o entrelaçamento de diferentes povos que deram vida à América do Sul, à América do Norte e a outros países do mundo. Depois, realizei cinco tapeçarias, onde o migrante retorna a uma jornada ancestral não mais baseada nos mapas, e sim olhando as estrelas — explicou à Comunità o artista plástico originário de Roma.
As obras de tapeçarias são intituladas Caminhadas do Céu e representam pessoas que se movem pela esfera celeste guiadas pelo sol, pelas estrelas e pelo campo magnético terrestre. Já o grupo das grande pinturas são realizadas em nanquim sobre papel e sobrepõe a forma das fronteiras nacionais com cenas históricas antigas de migrantes e povos nativos através de narrações fantásticas e originais.
A exposição, que conta com o apoio do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, foi inaugurada no dia 8 de agosto com a presença do artista que apresenta pela primeira vez a sua obra no Brasil.
— O Brasil tem uma história muito particular e intensa diametralmente
oposta a uma narração europeia. A exposição foi uma oportunidade para discutir sobre essas questões com novas pessoas que me enriqueceram muito graças à sua experiência — comentou o italiano, que considera o seu projeto uma pesquisa aberta e em desenvolvimento permanente.
Ao visitar o Rio de Janeiro pela primeira vez, Ruffo ficou seduzido pela cidade, principalmente pela relação entre a natureza e o planejamento urbano, que definiu como forte e poderosa. Além disso, ficou impressionado pelas inúmeras histórias das pessoas que conheceu. Durante a sua estadia,
foi convidado do projeto IED Parla, do Instituto Europeu de Design (IED), com a palestra Places and Power, na qual abordou três grande temas da atualidade: legítima defesa, liberdade e o fenômeno da imigração.
Para Ruffo, as imigrações são um tema de grande atualidade em diversos lugares do mundo.
— Meu trabalho não reflete sobre as notícias de crônica atual, mas adota uma perspectiva histórica para mostrar que esse é o fenômeno mais natural e antigo, que desde sempre acompanhou nossa espécie — destacou o artista, que se inspirou em geógrafos, cartógrafos e astrônomos da Antiguidade para refletir sobre a história, os conflitos e as relações humanas.
A partir de um simples lápis e uma folha de papel, Ruffo converte esses conceitos em formas arquitetônicas e projetos artísticos e até em cenários para marcas de moda. Em 2015, colaborou com o estilista Valentino numa instalação no Miami Design District. Em 2017, realizou a cenografia do desfile da Dior no jardim do Hôtel National des Invalides, em Paris.
O italiano se define como um desenhista e um pesquisador, pois seu trabalho começa com a leitura de pesquisas, porém suas anotações não são escritas, e sim desenhadas, para depois se tornarem obras originais.
— A arte sempre foi o espelho da contemporaneidade. Todo artista investiga os problemas de seu período histórico e gera questionamentos, realizando suas obras. Uma obra nunca é uma resposta a um tema, e sim um ponto de interrogação que permite às pessoas refletirem — comentou Ruffo.
A exposição será exibida em breve no All Indian Museum, em Calcutá (Índia); Washington (EUA); em Tunis (Tunísia) e na Finlândia.
— É um período de migração para mim também — brincou o artista.