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À espera

Estamos no clima dos Jogos Olímpicos? A alguns dias do maior evento esportivo do mundo, é grande o número de turistas que chegam ao Rio de Janeiro. A cidade deve dobrar sua população com mais de oito milhões de pessoas, que se somarão aos cariocas por aqui em agosto. No próximo dia 5, o planeta estará sintonizado no estádio do Maracanã para a abertura das Olimpíadas que tem como mestre de cerimônia o italiano Marco Balich.
Uma oportunidade de grandes dimensões para o Brasil que, porém, se perde, segundo o próprio detentor das chaves da cidade, o prefeito Eduardo Paes. Nós, que estamos na fronteira entre Brasil e Itália, recebemos constantemente pedidos de informações e explicações sobre a situação local. E por mais que se tente buscar uma justificativa minimamente lógica, é duro dizer que o sofrimento dessa geração que enfrentou o caos urbano para as inúmeras construções e aberturas de vias não se refletirá no médio prazo em algo positivo.
O Brasil poderia finalmente mostrar uma nova imagem ao mundo com capacidade de organização. Mas prevalece a reputação do país onde as coisas não funcionam além do jeitinho. A pseudo-harmonia entre autoridades governamentais nos níveis federal, estadual e municipal não foi capaz de superar a complexidade da coordenação de um evento dessa magnitude, que exige intenso planejamento e rigorosa execução, devido às suas mazelas, à corrupção e ao descaso.
Os problemas são escancarados ao mundo. Apesar do grande esforço em atrair os investimentos privados para reduzir os custos públicos, vimos obras superfaturadas e entregues de última hora e o caso emblemático da ciclovia milionária que, recém-inaugurada, não resiste à primeira onda de uma ressaca. A recuperação do meio ambiente, infelizmente, foi abandonada, e deixa a beleza natural da cidade contaminada com sujeira e poluição. Mesmo os exames antidoping serão enviados à Suíça, apesar do investimento milionário realizado.
E o que dizer quando os próprios policiais esticam uma faixa no aeroporto internacional informando aos turistas que não garantem a segurança e dizendo “não venham”? O colapso de serviços públicos de saúde, o transporte público sem grande parte das melhorias prometidas e inúmeros problemas que aparecem a cada dia atormenta, frustra e destrói um sentimento fundamental de esperança dos brasileiros.
Gostaríamos de dizer que não somos somente o país do carnaval, mas, no final, convocam-se as forças especiais de segurança, decretam-se férias coletivas aos funcionários e o mundo verá que teremos um grande e belo evento através das lindas imagens propiciadas pelos atletas e pela arquitetura natural da cidade maravilhosa. Mas, quanto ao legado, infelizmente, teremos que esperar muito mais.
Não temos dúvida de que transmitiremos beleza e emoção; afinal, sabemos fazer festa, e ponto.
Boa leitura!