Em entrevista exclusiva à Comunità, o ministro do Meio Ambiente italiano Gianluca Galletti afirma que a transição para o verde comporta benefícios tanto para as novas empresas sustentáveis quanto para as tradicionais
A transição italiana para a economia verde passa por vários níveis e tem ritmo acelerado. O acordo sobre a redução das emissões de poluentes no mundo, assinado em Paris, em dezembro, comprometeu os delegados de 195 países a manterem o aumento de temperatura abaixo do limite de dois graus, a conter o aumento das emissões de gás do efeito estufa, a verificar a cada cinco anos os resultados, e a investir 100 bilhões de dólares todos os anos em países mais pobres para desenvolver fontes de energia menos poluentes. Paralelamente, a União Europeia prossegue a marcha rumo ao objetivo pré-estabelecido, que consiste na redução das emissões em 80% até 2050, através de uma produção energética que não produza nenhuma emissão de gás carbono.
Internamente, o governo italiano está trabalhando na redação de um plano estratégico. Enquanto isso, foi aprovada uma nova lei “para promover medidas de green economy e para a contenção do uso excessivo de recursos naturais”. A medida introduz novas normas que miram o favorecimento da tutela do ambiente urbano, uma gestão virtuosa do lixo e recicláveis, a criação de percursos verdes casa-escola, a utilização de semáforos de baixo consumo energético, a instituição de áreas marinhas protegidas, a compra de produtos derivados de materiais pós-consumo ou da reciclagem material descartado e de desmontes, a difusão de investimentos para salvar e cuidar do ambiente e a introdução de novos instrumentos governamentais para a tutela ambiental. Comunità encontrou Gianluca Galletti, ministro do Meio Ambiente do governo Renzi que, em uma entrevista exclusiva, resume os pontos principais em relação ao Belpaese neste quesito.
ComunitàItaliana — Os objetivos europeus impõem 2050 como data máxima para que se cumpra a conversão energética para fontes renováveis. Em que ponto se encontra a Itália nessa marcha?
Gianluca Galletti — Na Itália, as fontes renováveis constituem 17% da produção de energia e o objetivo do governo é o de investir ainda mais. O acordo europeu de outubro passado nos pede para chegar a 27%, mas o nosso grau de ambição nos permite olhar ainda mais longe. Quero lembrar ainda que, na Europa, estamos somente atrás da Inglaterra em termos de eficiência na utilização de matérias-primas e de energia. As fontes renováveis são o nosso horizonte. Enquanto isso, porém, não podemos nos abster de fontes tradicionais como gás e petróleo. Eu também gostaria de ter um país com 100% de energia renovável, mas sou obrigado a enfrentar uma realidade diferente.
CI — Na Itália, discutiu-se muito nos últimos tempos, até mesmo por causa do plebiscito sobre a renovação das concessões petrolíferas marítimas dentro das 12 milhas da costa, sobre a sustentabilidade ambiental das atividades de extração das fontes fósseis. O senhor acha que a extração de óleo e gás, especialmente marítima, representa apenas um parêntese do passado, ou acha que é necessário focar uma transição lenta, capaz de acontentar as várias exigências ocupacionais, produtivas e ambientais?
GG — Creio que esta seja uma fase de transição durante a qual temos que investir com força nas fontes renováveis, conscientes do fato de que, por um período de tempo, continuaremos a utilizar as fontes fósseis. Esta transição, porém, tem que durar o menor tempo possível. No que diz respeito às atividades ligadas à pesquisa e extração, é claro que implicam decisões muito complexas, nas quais é preciso passar da emotividade à ciência. O ambiente é um bem público, mas não podemos continuar somente com as políticas locais do ‘não’. Durante muito tempo, ambiente e desenvolvimento caminharam em trilhos separados. Hoje, um deve ajudar o outro.
CI — A green economy evidencia uma difusão cada vez mais capilar em nosso país: estudos e pesquisas demonstram que a Itália está em terceiro lugar na Europa na incidência da economia verde e que as empresas green têm uma maior capacidade de resistir no mercado. Quais são, na sua opinião, os limites e pontos fortes deste âmbito da economia?
GG — O peso da economia verde é considerável e os efeitos positivos são evidentes sobretudo no plano ocupacional. Em 2011, cerca de 8 milhões de cidadãos europeus estavam empregados no setor ambiental, enquanto na Itália os “empregos verdes” são, hoje, mais de três milhões e foi estimado que a estes empregos poderão ser adicionados outros três milhões de empregos nos próximos anos. Em nosso país, no complexo, devem-se à green economy 101 bilhões de euros de valor agregado. Além disso, são beneficiadas por esta transformação da economia não somente as empresas green, mas também as tradicionais: para as indústrias de alta intensidade energética, efetivamente, existe a prospectiva de novas oportunidades de investimento, sem esquecer que todas as empresas poderão obter vantagens da redução do preço dos combustíveis fósseis.
CI — Quais medidas adotou até agora o atual governo e o que está programado para o futuro, sob a ótica do aumento da difusão da economia verde no país?
GG — A nossa revolução verde possui um objetivo temporal, estabelecido pelo acordo europeu, que é o ano de 2030. Nestes 14 anos que temos pela frente, devemos converter a nossa economia de maneira sustentável. O modelo linear do século passado, útil para fazer renascer o país depois das guerras mundiais, mostrou todos os seus limites: desperdício de recursos, poluição, excesso de lixo. Hoje, pelo contrário, temos que focar em uma economia circular e sem gás carbônico, que reutiliza e recicla os recursos, com tendência ao objetivo ‘lixo zero’. Este cenário impõe à Itália a adoção de uma grande medida ambiental que olhe para o futuro. Justamente por isso, estamos trabalhando no Green Act, um plano ecoindustrial dirigido a definir a estratégia nacional para enfrentar estas relevantes mudanças econômicas e produtivas.
CI — Também à luz de uma nova consciência verde que, cada vez mais, se difunde entre os cidadãos de todas as partes do mundo, o senhor acha possível imaginar, para um país como a Itália, dotado de uma extraordinária riqueza e variedade natural, e ao mesmo tempo de bens culturais únicos no mundo, um futuro centrado na beleza e na sustentabilidade ambiental?
GG — Sem dúvida. O nosso país merece ser valorizado. Possuímos um tesouro histórico, artístico, cultural e natural, que temos o dever de tutelar e promover. Um patrimônio ao qual se associam consideráveis implicações econômicas ligadas ao universo da sustentabilidade ambiental. Somente como exemplo: temos 871 parques, reservas e áreas marinhas protegidas, uma realidade extraordinária que pode e deve se transformar em valor agregado de crescimento. O Ministério do Meio Ambiente é parte ativa na construção de um desenvolvimento sustentável, inclusive através de soluções inovadoras que unem o conhecimento e a tutela da biodiversidade na promoção dos territórios e das excelências agroalimentares. Acreditamos que este seja justamente o modelo vitorioso para fazer economia verde.
CI — Para concluir, lançemos um olhar sobre o Brasil. O quão atraente é um mercado verde como o brasileiro para as empresas italianas?
GG — O Brasil está em nossos corações; é um país extraordinário por vários motivos e entre eles está também o desenvolvimento verde. O Ministério italiano do Meio Ambiente apoiou a presença das empresas italianas no mercado brasileiro e assinou vários memorandos de entendimento com o país. Existem grupos italianos que estão fazendo grandes coisas para o desenvolvimento ecológico da terra verde-amarela e este é um sinal importante tanto para o presente quanto para o futuro.