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Home > A lição chinesa

A lição chinesa

20 de fevereiro de 2017 - Por Comunità Italiana
A lição chinesa

Domenico

A experiência do maior produtor de nanotecnologias do mundo nos ensina como fazer funcionar uma grande economia, unindo socialismo de Estado e capitalismo de mercado, mas também nos alerta com seus erros, como passar por cima dos direitos humanos

Todo dia há uma nova notícia de empresa americana ou europeia que fecha negócios com a China, ou que abre uma filial na China, ou então é comprada pelos chineses. Sobre a China, discuti pacatamente em Pequim com um alto funcionário, que me convidou para almoçar em um restaurante refinado da cidade e que me acolheu com uma frase de deliciosa cortesia: “A primeira vez que nos vemos, somos amigos. A segunda vez que nos vemos, somos caros amigos. A terceira vez que nos vemos somos irmãos”.
Com a sua ajuda reconstruo os dados estruturais deste grande país: um bilhão e 400 milhões de habitantes, um modelo de desenvolvimento que cresce de 7 a 10 pontos ao ano, um PIB pró-capita de apenas 7.600 dólares (contra os 11.700 do Brasil). Entre os trabalhadores chineses, 35% trabalham na agricultura (no Brasil são 14,5%), 29% na indústria (no Brasil são 23%) e 36% no setor de serviços (no Brasil são 77%). Crescem as universidades, os laboratórios, os ateliês, onde pipocam milhões de engenheiros, arquitetos, designers, profissionais, artistas e estilistas, que inventam, desenham e projetam, criando conhecimento, símbolos, valores, estética, sob a forma de patentes, high tech, filmes, moda, mídia, entertainment. Não por acaso, “It’s cheap, it works and it’s chinese” — custa pouco, funciona bem e é chinês — é o lema da Legend-Lenovo.
A cada ano formam-se quatro milhões de jovens. Para cada 100 chineses, 92 têm um celular e a China é o país com o maior número de usuários da Internet no mundo, o primeiro em todo o planeta na produção de nanotecnologia e o terceiro na produção de biotecnologia. Daqui a cinco anos, terá as maiores reservas cambiais, os bancos mais poderosos e 15 megalópoles com mais de 25 milhões de habitantes cada uma.
Nesta “economia socialista de mercado”, a propriedade privada, a livre empresa e o mercado se misturam com o dirigismo estatal, que regula o regime das terras, os recursos e as empresas públicas, as instituições financeiras e a infraestrutura, exercendo um controle severo em todos os setores estratégicos. A esfera política, além do partido único, é conhecida pela falta de eleições nacionais. A esfera social é caracterizada pela forte atenção à ordem, à saúde e à instrução, pela escassa liberdade de expressão e pelo baixo respeito aos direitos humanos.
Mas que modelo cultural está sob a estrepitosa, original e contraditória performance estrutural desta “terra de entremeio”?
O modelo de vida chinês é afetado pela tradição confuciana não menos do que o modelo de vida brasileiro é influenciado pela tradição católica. Porém, o confucionismo, mais do que uma religião, é uma visão filosófica, ética e política, um modelo de vida fundado na antiga sabedoria chinesa e nos ensinamentos de Confúcio, para quem a vida social deve basear-se em dois pilares (meritocracia e formação) e a vida individual deve inspirar-se em cinco virtudes cardeais (benevolência, retidão, sabedoria, observância das normas rituais e fidelidade).
Com a alma confuciana da China, podemos aprender a lealdade e a empatia, a benevolência e a sabedoria, a modéstia e a sinceridade, a lealdade e a gentileza, a serenidade interior e a integridade moral, a capacidade de nos indignar diante da injustiça, a atitude de antepor os interesses da coletividade e da família aos do indivíduo, o respeito da dignidade humana e da integridade da natureza, a sobriedade na conquista dos papéis sociais, a renúncia a um bem-estar ilusório e infinito. Em síntese, a busca da felicidade, aqui e agora.
Mas o modelo cultural chinês transformou em tesouro não apenas o Confucionismo, que destaca sobretudo o aspecto político-social da vida, mas também o Taoísmo, que destaca o aspecto individual, a espontaneidade e a frugalidade, e o budismo, que destaca o aspecto introspectivo.
“Pode-se ser taoísta de noite e confuciano de dia, ou vice-versa”, diz o meu cultíssimo comensal.
Com a alma taoísta da China, poderíamos aprender a espontaneidade, o controle dos desejos, a meditação, as técnicas respiratórias, a honestidade em reconhecer os nossos erros, o propósito de evitar o excesso, a disponibilidade para as ações humanitárias, a busca do essencial e a libertação do supérfluo, a autodisciplina e a profissionalidade, o respeito pela natureza.
Com a grande experiência chinesa em andamento, poderíamos aprender o pragmatismo, o gradualismo, a mudança na estabilidade; poderíamos aprender como se configuram e se praticam os programas de educação básica e de educação superior quando destinados a milhões de estudantes. Poderíamos aprender como fazer funcionar uma economia, unindo socialismo de estado e capitalismo de mercado. Também com os erros da China, temos muito o que aprender: como realizar a liberdade econômica sem recorrer à opressão política; como sair da miséria sem passar por cima dos direitos humanos ou aliar-se a regimes sanguinários; sem alimentar a corrupção financeira; sem encrudescer a relação entre privilegiados e explorados; sem provocar migrações bíblicas; sem ignorar qualquer tipo de welfare; sem antepor o mercado à democracia.
Cada encontro com altos funcinários chineses é uma lição de boas maneiras, estética e refinada convivialidade. Ao final do jantar, já amigos, ouso perguntar-lhe o que o comunismo representa para ele. Educadamente, mas de maneira aguda, responde: “Se dizem que o capitalismo é melhor, é preciso pensar. Se dizem que o comunismo é melhor, é preciso pensar. Agora parece que o capitalismo venceu. Amanhã, quem sabe?”

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.