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Home > A moderação é coisa ótima

A moderação é coisa ótima

21 de setembro de 2016 - Por Comunità Italiana
A moderação é coisa ótima

Domenico

A crise do capitalismo hoje transfere a atenção das personalidades dionisíacas, capazes de arrastar as massas em decisões desastrosas, para os prudentes personagens apolíneos, que privilegiam um estilo caracterizado pela sobriedade e pelas boas maneiras

O conceito de sabedoria é tão cheio de significados que, em muitas línguas, não existe sequer uma palavra para expressá-lo. Os gregos, que amavam recorrer a imagens, quando deviam exprimir um conceito muito complexo faziam o seguinte: o representavam não com um, mas com muitos personagens míticos. Assim, o conceito de “arte” era representado com nove musas, todas filhas de Júpiter e protegidas de Apolo: Terpsícore para a dança, Melpômene para a tragédia, e assim por diante. Para a poesia foram até mobilizadas três musas: Érato para a poesia amorosa, Euterpe para a lírica, Calíope para a épica.
Para o conceito de sabedoria, os gregos usaram outra solução: recorreram ao que, hoje, chamaríamos de focus group, ou seja, uma pesquisa sobre alguns especialistas famosos. Segundo Platão, os especialistas foram sete — com datas de nascimento e cidades de proveniência diferentes: Tales de Mileto, Sólon de Atenas, Bias de Priene, Pítaco de Mitilene, Cleóbulo de Lindos, Quílon de Esparta, Misone de Chene. Cada um desses sábios sentenciou as suas máximas que, juntas, constituíram a essência da sabedoria grega. Bias, por exemplo, disse: “A maioria dos homens é perversa”. Quílon disse: “Conhece a ti mesmo”. Cleóbulo disse: “A moderação é coisa ótima”, ou seja, a moderação em oposição à hýbri, à arrogância e ao excesso.
A mitologia grega é cheia de heróis e divindades intemperantes como Aquiles ou Dionísio, mas exalta figuras como Eneias ou como Apolo, em que a perfeição do corpo e a serenidade da mente criam um destaque olímpico dos comuns mortais, invocando as perfeitas geometrias do Partenon, as nobres características dos bronzes de Riace. Mais tarde, Nietzsche falará de personalidade dionisíaca oposta a personalidade apolínea.
Enquanto a atitude apolínea tende à harmonia, ao sonho, à racionalidade que controla os instintos, e encontra as suas expressões típicas na escultura, na arquitetura, na arte figurativa, na filosofia, a atitude dionisíaca tende à quebra de todos os padrões morais e sociais, à exaltação desenfreada da vida, ao triunfo dos instintos sobre a razão e do entusiasmo sobre a reflexão. Música, dança e poesia são as expressões típicas.
Nietzsche assegura que apolíneo e dionisíaco são uma dicotomia fecunda, assim como “a geração vem da dualidade dos sexos em continua disputa entre eles e em reconciliação meramente periódicas… Os dois instintos, tão diferentes entre si, caminham um ao lado do outro, na maioria das vezes em clara discórdia, mas também excitando-se reciprocamente em novos partos cada vez mais vigorosos, com o intuito de transmitir e perpetuar o espírito de tal contraste.” Quando, finalmente, apolíneo e dionisíaco, com moderação, chegam a um acordo, então nasce o comportamento perfeito, a obra de arte.
Assim, para os gregos, ou seja, para o povo mais inteligente que já existiu na face da Terra, a moderação é coisa ótima. Mas, e para nós? A nossa sociedade midiática tende às figuras dionisíacas, dissimuladas, surpreendentes, transbordantes — que “saem da tela”, que se destacam da multidão, que se impõem pelos tons fortes, pela agressividade, pela arrogância até mesmo pelo falta de educação; às adestradas desde a infância para a competitividade, que governa a economia de mercado e premia os vencedores, apreciando a sua desenvoltura e sua presença que ostenta. E, depois, o tom geral do capitalismo desenfreado leva à agressividade e à visibilidade usadas para passar por cima dos concorrentes.
Porém, é justamente a crise do capitalismo que hoje transfere a atenção das arriscadas personalidades dionisíacas, capazes de arrastar as massas em decisões desastrosas, para as prudentes personalidades apolíneas que, por índole e educação, privilegiam um estilo caracterizado pela sobriedade e pelas boas maneiras.
É o estilo de Lorenzo Lotto em relação a Raffaello, de Guglielmo Pitt em relação a Napoleão, de Mazzini em relação a Garibaldi, de Churchill em relação a Hitler, de Gorbatchov em relação a Stalin, de Chico Buarque em relação a Michael Jackson. Um estilo que se impõe mais com a ausência do que com a presença, mais com a qualidade do que com a quantidade, mais com o método do que com a surpresa.
Obviamente, cada um desses dois caráteres tem os seus aspectos positivos e os seus excessos. A personalidade dionisíaca contagia com a sua vitalidade, destas imediatas simpatias e imediatas antipatias, divide instantaneamente a plateia entre fãs e opositores, cria proselitismo vital, mas, quando transborda, torna-se imprudente e inconveniente. Todos os ditadores são dionisíacos, entusiasmam os seus súditos, os manipulam e os arrastam, mas depois, exagerando, terminam pontualmente no pelourinho.
A personalidade apolínea demora a ser apreciada porque não ama ostentar os seus lados positivos. Mas, para sua sorte, também os seus defeitos atrasam a se manifestarem porque pratica os critérios da prudência e da discrição. Como dizia Leopardi, o melhor modo para não mostrar aos outros os limites da própria capacidade consiste em não os superar.
Mais uma vez, moderação é coisa ótima.

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.