Comunità Italiana

A pintura do Santo de Assis

 

Uma mostra excepcional sobre São Francisco, com pinturas que vão do século XV ao século XVIII, fundamentais para conhecer a iconografia do santo de Assis, foi inaugurada no dia 7 de agosto na Casa Fiat de Belo Horizonte. As 20 obras, provenientes de importantes coleções públicas e privadas, estão pela primeira vez no Brasil. O quadro mais famoso, com quase três metros de altura, é San Francesco riceve le Stimmate, que Tiziano Vecellio pintou em 1570. Tiziano usava cores fortes e chegava a passar 40 camadas de tinta para tornar verossímil a consistência dos metais, dos cabelos, da pele ou dos tecidos como a seda, mas começava sempre com uma primeira camada na qual utilizava só o vermelho para dar uma base mais quente às suas obras. Uma particularidade da pintura é que Tiziano tinha já 80 anos quando a realizou, usando as mãos para espalhar a cor devido à dificuldade de usar o pincel, o que resultou na produção da paisagem das imagens que anteciparam em 300 anos o impressionismo francês. De fato, Monet e outros impressionistas reconheceram Tiziano como um predecessor.
Os outros quadros mais famosos são: San Francesco sorretto da un angelo ,da primeira metade do século XVII, de Orazio Gentileschi; San Francesco d’Assisi e quattro disciplinati, feito em 1499 por Perugino; San Francesco riceve le stimmate, pintado por Guercino em 1633; San Francesco confortato da un angelo musicante, que Guido Reni pintou entre 1607 e 1608; também de Reni o estandarte que traz na frente Francesco riceve le stimmate (Francisco recebe os estigmas) e no verso San Francesco predica ai confratelli (São Francisco prega a seus companheiros). Alguns destes artistas receberam alunos que depois se tornaram grandes expoentes da história da arte: Perugino foi mestre de Raffaello Sanzio e Tiziano, de Tintoretto e Veronese.

Na mostra, os visitantes podem dar uma volta, em realidade virtual, pela Basílica Superior de Assis, construída em 1228. Com o uso dos óculos 3D é possível conhecer a basílica e os afrescos de Giotto, verdadeiras obras-primas que contam a vida de São Francisco. Giotto é o artista símbolo dos períodos medievais e pré-renascentistas que viveu entre 1267 e 1337.

A abertura ao público aconteceu no dia seguinte com a palestra de Stefano Papetti “A iconografia de São Francisco na Arte da Idade Média ao Barroco”, que lotou a plateia. Papetti é diretor da Pinacoteca Cívica e do Museu da Arte Cerâmica de Ascoli Piceno, professor de Museologia e Restauração dos Bens Culturais da Universidade dos Estudos de Camerino e especialista em História da Arte e, junto com o professor Giovanni Morello, é um dos dois curadores da exposição. Comunità encontrou o professor Papetti, que nos contou como a sua paixão pela história da arte nasceu, quando, junto com outros três irmãos, ia com o pai visitar os museus de Florença, onde morava.

— A mostra é dedicada à iconografia de Francisco, mas, na escolha dos quadros, eu e o professor Morello, que é o outro curador da mostra, fomos muito cuidadosos em identificar obras de artistas extremamente significativos. Queríamos reproduzir um panorama da história da arte italiana do Renascimento até o Barroco através de todos os seus maiores expoentes e, sobretudo, dos anos posteriores ao Concílio de Trento — discorre Papetti.

A arte sacra, a Bíblia dos pobres, é repleta de significados

O décimo-nono conselho ecumênico da Igreja Católica, conhecido como Concílio de Trento, durou 18 anos, de 1545 a 1563. Em sua última sessão, foi tomada uma série de decisões sobre a arte sacra em resposta ao comportamento anicônico, isto é, privo de imagens, dos reformistas luteranos. O curador explica que a igreja reafirmou o fato que, no âmbito dos espaços destinados às funções religiosas, deveriam existir imagens sacras, “não com um valor decorativo, mas educativo; a arte sacra deveria se tornar e ser, como na Idade Média, biblia pauperum, ou seja, oportunidade de ensinamento aos pobres”. O Concílio determinou que São Francisco não poderia ser representado com uma túnica de fina lã, mas em linha com o princípio de pobreza do qual tinha sido expressão. Todos os quadros expostos e realizados após o Concílio o mostram com hábitos de lã muito rústica, remendados, descosturados e com o capuz com uma ponta que era do saco de trigo dobrado na metade, efetivamente usado pelo Santo, evidenciando a presença dos estigmas para fazer de Francisco outro Cristo. Sua figura emerge não somente na arte destinada às igrejas, mas também em quadros de pequeno formato destinados à devoção privada.

Concílio de Trento determinou que São Francisco fosse representado em linha com o princípio de pobreza. Por isso, todos os quadros realizados após o Concílio o mostram com vestes rústicas e remendadas, com a presença de estigmas para fazer de Francisco outro Cristo

Três núcleos mostram três fases da iconografia

A mostra está dividida em três núcleos. O primeiro apresenta São Francisco em sua aparência simples e sofredora, com suas privações e a força espiritual.

O segundo núcleo da exposição reúne os Estigmas, que começa com Giotto, e o seu famoso ciclo de afrescos na Basílica Superior de Assis, fase em que o santo não é representado magro nem sofredor, mas com rosto angelical, como um ícone de beleza espiritual e física que deixou o sofrimento para renascer. A terceira fase, chamada de Conversas Sacras, reúne as imagens do Santo às quais são associadas às imagens da Virgem Maria, do Menino Jesus, da Cruz de Cristo e dos discípulos franciscanos.

O professor Papetti lembrou que o investimento em cultura tem retorno garantido e que exposições movimentam a economia. Um economista calculou que, para cada euro investido, existe um retorno de sete euros, considerando o turismo. Na inauguração, estavam presenteso embaixador da Itália Antonio Bernardini, o governador de Minas Fernando Pimentel, o cônsul de São Paulo Filippo la Rosa, o cônsul de Belo Horizonte Dario Savarese e o presidente da FCA – Fiat Chrysler Automobiles na América Latina, Antonio Filosa. O presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, fez as honras da casa. A mostra tem o apoio da Embaixada da Itália; dos Consulados do Rio, de São Paulo e Belo Horizonte; dos Institutos Italianos de Cultura do Rio e de São Paulo, do governo federal e do governo de Minas. Entre os patrocinadores estão a Fiat FCA e o Banco Safra.

Serviço

Casa Fiat de Cultura de Belo Horizonte:
até 21 de outubro

Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro:
de 31 de outubro a 27 de janeiro