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Home > A saga dos Puntel

A saga dos Puntel

21 de setembro de 2016 - Por Comunità Italiana
A saga dos Puntel

Famílias unem cidades mineira e gaúcha ao Friuli através dos tempos

Duas cidades brasileiras, distantes entre si, possuem uma origem em comum ainda mais longe. Guaxupé, em Minas Gerais, e Sobradinho, no Rio Grande do Sul, nasceram da ousadia e do sonho por uma vida melhor de imigrantes italianos das colinas da Cárnia. O epicentro desta diáspora, iniciada no fim do século XIX e que continuou depois da Primeira Guerra Mundial, foi a cidade de Paluzza e seus povoados como Cleulis. O sobrenome Puntel é o fio de Ariadne. Através do tempo e do espaço, foi o condutor desta odisseia carnal um dos elementos da formação do povo brasileiro, por parte da imigração italiana.
— O meu avô foi para o Brasil, mas voltou para Cleulis. Foi um dos poucos. A maioria foi embora e nunca mais retornou. Eram tempos difíceis. A minha avó teve 11 filhos, entre os quais quatro morreram num período de apenas três meses — diz a idosa Beatrice Puntel, de cabelos brancos e corpo levemente encurvado, com um maço de verduras nas mãos para ir lavá-las no tanque público, à velha maneira.
— Acabei de colher na horta — diz, com uma ponta de orgulho, segurando a alface cheia de terra e ainda com as raízes úmidas, numa das ladeiras do vilarejo.
Apesar do sobrenome Puntel, Beatrice não é parente do brasileiro Tácio Alexandre Puntel. O jovem diácono e futuro sacerdote vive na casa paroquial de Cleulis. Ele deixou a cidade natal de Sobradinho (RS) e viajou em busca de outras raízes, as próprias.
— Esta paisagem é muito bonita, mas me dá muitas saudades e estou tentando trazer meus pais para cá. Estou aqui já faz 11 anos, cheguei no ano do centenário da viagem do meu avô, daqui para o Brasil, no Rio Grande do Sul. A vida aqui era muito difícil e existia a perspectiva de algo melhor, nos Estados Unidos e na América do Sul. Esses lugares distantes, através de seus governos, ofereciam terra e a chance de um futuro melhor. Todos possuem muito orgulho da luta que foi realizada e com grandes valores pela nova vida — diz Tácio, que trabalha num centro de recuperação de toxicodependentes, em Udine, distante cerca de 60 quilômetros de Paluzza.
Ele também faz parte do Conselho Diretor da associação Friuli nel Mondo e ajuda a realizar intercâmbios acadêmicos entre ítalo-brasileiros e a Universidade de Udine, principalmente no campo da arqueologia, além das escolas de mosaico. Ainda que vivendo em latitude e longitude tão diferentes dos trópicos, Tácio Puntel se sente em casa.
— No Brasil, a gente é mais calorosa, mais acolhedora. Aqui, as pessoas são mais reservadas, mas nem por isso fechadas. Esta terra foi invadida muitas vezes e isso gera na população uma reserva maior — conta ele. Uma reserva que nem de longe resvala para a desconfiança ou a xenofobia. Pelo contrário, durante a guerra dos Balcãs, centenas de albaneses buscaram refúgio e proteção nas cidadezinhas de Cárnia, como Paluzza.

As igrejas eram usadas como faróis pelos viajantes
O mar Adriático, ali perto, braço do Mediterrâneo, também ficou sob o domínio da Sereníssima, a República de Veneza. Não por acaso, esta área italiana está na região Friuli-Veneza Giulia. No passado, cerca de 40 bosques das redondezas eram de propriedade do dodge de Veneza. Montanhas e rios cortam esse território de relevo acidentado, com as encostas cobertas por bosques de pinheiros e outras madeiras de lei. Dessas florestas, os venezianos extraíam as madeiras para a construção da cidade. Lenhadores e carpinteiros friulanos cortavam os troncos e os vendiam para a aristocracia veneziana. E para o longo caminho do alto das montanhas até o curso dos rios e o lombo dos asnos, eles elaboraram engenhocas com roldanas e criaram canais de água para favorecer o transporte das madeiras. Até hoje, é possível admirar estas obras de engenharia rudimentar — e muito eficientes. Esses homens trabalhavam sob a proteção de santo Osvaldo, padroeiro de Paluzza e até hoje celebrado, a cada 5 de agosto, com a presença dos oriundos dos Estados Unidos, Austrália e do Brasil.  E nessa região é difícil contar o número de igrejas, quase tantas quanto as montanhas ao redor.
As igrejas ocupam os cumes das colinas, entre elas a de Santa Maria Annunziata, no topo de Paluzza. E estão localizadas perto do céu, não apenas por uma questão celestial ou divina. No passado, eram uma espécie de farol para os viajantes. Podia-se caminhar pelo território orientando-se pelas torres das igrejas. Também serviam de alerta contra os invasores. A comunicação, em código, era feita através de badaladas dos sinos e de fogueiras acesas durante a noite, além da fumaça ao longo do dia. Uma igreja avisava a outra e, assim, os habitantes mais distantes tinham tempo para planejar a estratégia mais adequada para enfrentar os inimigos. Além disso, como o analfabetismo reinava entre os povos e apenas os padres sabiam ler e escrever, o clero também assumia o papel de tabelião. Os arquivos dessas igrejas são verdadeiros cartórios, guardando documentos precisos e detalhados sobre a vida da comunidade. Os padres anotavam desde nascimentos, mortes e casamentos até as datas de partidas dos imigrantes e suas famílias. A igreja também era ainda um ponto de referência para as cartas escritas aos parentes que não tinham se aventurado em terras estrangeiras. O tempo passou e a igreja deixou tais atividades “colaterais” de lado.

Soldados foram recrutados no sul, pois havia amizade entre a população do norte e o lado austríaco
Na realidade, os friulanos viviam — e  a bem da verdade, vivem ainda — na fronteira com a Áustria e, por causa do comércio, tinham livre passagem de um lado e de outro.
— Quando a Itália entrou na Primeira Guerra Mundial contra a Áustria, em 1915, o governo italiano foi obrigado a recrutar soldados no sul do país porque aqui no norte todos se conheciam, eram “amigos” e não poderiam combater. Muitas famílias italianas foram transferidas para Roma. E nesse período, as mulheres que ficaram aqui tiveram um papel importante na guerra: eram elas que levavam mantimentos e munição para os soldados na frente de batalha, distante cerca de sete quilômetros daqui. Para a minha surpresa, a minha avó foi uma dessas mulheres. Depois elas seriam conhecidas como as portatrice della Carnia — conta Tacio Alexandre Puntel, com orgulho, diante de uma lápide em homenagem aos soldados mortos, a maioria com o sobrenome Puntel.
Os Puntel existem mais no Brasil do que nesse recanto italiano. O sobrenome é uma derivação de Pantagruel. A afirmação é do pároco de Paluzza, Tarcisio Puntel.
— Os imigrantes italianos foram para o Brasil achando que iriam ter uma vida melhor. O problema é que, quando chegaram lá, viram que seria tão duro quanto aqui. Isso porque as melhores terras já tinham sido distribuídas aos colonos alemães que os anteciparam.  Para os italianos sobraram as florestas para desmatar com o machado na mão. Mesmo assim, em Guaxupé, eles construíram bairros inteiros — conta dom Tarcisio Puntel, bíblia viva do nordeste italiano, de onde boa parte da população fugiu da carestia, assim como no sertão árido brasileiro, origem dos migrantes no sul e sudeste do Brasil.

Comunità Italiana

A revista ComunitàItaliana é a mídia nascida em março de 1994 como ligação entre Itália e Brasil.