Evento na Embaixada brasileira em Roma celebra o grão profundamente ligado à relação entre os dois países
Que tal um café? A sedução começa naquele aroma que dá água na boca. Logo no primeiro gole, quase mil papilas gustativas são estimuladas em nossa língua, comunicando ao cérebro a percepção e sensação de diversos sabores. Afinal, cada tipo de café tem um gosto diferente. Nada melhor do que reunir Brasil e Itália para degustar e falar da bebida mais consumida no mundo. Afinal, o Brasil é o principal produtor de café do planeta e na Itália se prepara o melhor café do universo — sim, do universo, pois a astronauta Samantha Cristoforetti levou uma máquina de café italiano para o espaço.
Um seminário sobre o café organizado pela Embaixada do Brasil em Roma no dia 20 de abril abordou diversos aspectos econômicos e culturais que ligam os dois países há mais de um século. O evento inclui a mostra “Portinari – La mano senza fine”, na Galeria Candido Portinari, no Palácio Pamphilj. Na abertura, o embaixador Antônio Patriota falou sobre o “Ouro Verde: economia e sociedade do café no Brasil”. Ele lembrou que cerca de um milhão e meio de italianos foram a São Paulo com as próprias famílias para trabalhar nas plantações, substituindo a mão de obra escava pelo trabalho livre.
— No Brasil, a contribuição dos imigrantes foi fundamental não só nas lavouras de café. A partir da abolição da escravidão, os imigrantes foram os trabalhadores livres que tinham contato direto com a terra. Eles também trouxeram inovações, como o desenvolvimento das ferrovias — disse Patriota, ressaltando que hoje o café gera oito milhões de empregos no Brasil.
Trabalhadores livres e braçais: sacas de café nos ombros
Ana Paula Torres, do setor de promoção comercial da Embaixada do Brasil, mostrou com imagens e documentos as origens da imigração italiana ao Brasil. Os italianos partiam em navios a vapor em viagens que duravam até 36 dias em busca da esperança na Mérica.
— Partiam famílias inteiras para poder ter mais plantas para cultivar. No grande êxodo do fim do século XIX,o estado de São Paulo recebeu 70% dos italianos que imigraram ao Brasil.
Entre as imagens, Ana Paula mostrou fotos dos imigrantes italianos que carregavam sacas de café nos ombros. Um deles aguentava cinco sacos enormes sem se curvar. Ela ressaltou a mudança da arquitetura na senzala depois da chegada dos italianos, que passaram a ter janelas, e não apenas portas. Muitas fazendas se transformaram em hotéis e as senzalas em aposentos confortáveis para os turistas que querem mergulhar em mais de um século de história brasileira.
No início do século XX, logo após a revolução industrial, começou a publicidade do café. Cornelia Bujin, do Wacecom (Worldwide Art Culture Exhibition COMmunication), mostrou as primeiras ilustrações publicitárias e a evolução da propaganda do produto.
— As primeiras ilustrações se inspiravam no modelo francês de publicidade com o quadro e a mensagem no alto. O artista ilustrador italiano Leonetto Cappiello (1875 – 1942) foi a essência da publicidade da época. Em seguida vieram figurinhas, cartolinas e rótulos de latas, até que a publicidade do café evoluiu para comunicar a alta qualidade do produto — explicou Cornelia Bujin, lembrando a publicidade dos anos 1960 na televisão italiana Carossello, com os bonequinhos animados Caballero e Carmencita.
Arte e cultivo sustentável
Hoje a comunicação do café é também arte na xícara. A Illy, uma das maiores empresas italianas especializadas em café, presente em mais de 140 países no mundo, incentiva a criatividade dos artistas com pinturas nas xícaras. Além disso, promoveu o livro do premiado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, Perfume de Sonho, que, com seu estilo único, imortalizou trabalhadores e plantações de café pelo mundo.
— Para nós não existe arte sem o respeito à natureza e aos trabalhadores. A sustentabilidade ambiental é imprescindível — disse Anna Illy.
Massimo Battaglia, da Agência Italiana para a Cooperação e Desenvolvimento, também ressaltou o respeito ao meio ambiente.
— Hoje, o futuro sustentável é aliado à especificação do café. As produções típicas estão ligadas a um determinado território, ao respeito à agricultura e aos trabalhadores. Como aconteceu com o vinho, antigas variedades são produzidas em poucas quantidades, mas com alta qualidade.