Comunità Italiana

A visita ao gigante sul-americano

O primeiro-ministro italiano viajou ao Brasil em ocasião a abertura dos Jogos Olímpicos e aproveitou para reunir-se com a coletividade italiana e lançar a candidatura de Roma à sede olímpica de 2024

Em menos de um ano, o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi viajou sete vezes à América Latina, mas ainda faltava visitar o Brasil, onde vivem mais de 30 milhões de descendentes. A viagem já estava programada há alguns meses por ocasião da abertura dos Jogos Olímpicos, mas ele aproveitou a oportunidade para encontrar a coletividade italiana em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de visitar projetos sociais em Salvador, apoiar a delegação italiana na Vila Olímpica e defender a candidatura de Roma à sede olímpica de 2024 junto ao Comitê Olímpico Internacional (COI). Tudo isso em apenas quatro dias, do dia 3 ao dia 6 de agosto, acompanhado pela esposa Agnese Landini e por um dos três filhos, Emanuele.
A primeira etapa da viagem oficial aconteceu em Salvador, onde Renzi visitou as atividades dos missionários da ONG italiana Projeto Agata Smeralda, que promove adoção à distância e iniciativas sociais destinadas a crianças e adolescentes. O chefe de governo explicou que decidiu iniciar a viagem pela capital baiana por ser uma terra historicamente ligada à sua cidade de origem, Florença, por vários motivos, mas o mais importante se chama padre Renzo Rossi, que, em 1965, se mudou para atuar como missionário nas comunidades pobres da periferia de Salvador, da qual se tornou cidadão honorário. O padre italiano faleceu em 2013 e foi o primeiro sacerdote a entrar nas prisões brasileiras e acompanhar os presos políticos.
— Meio século após a chegada do padre Renzo, graças ao trabalho de muitos outros como ele, do projeto Agata Smeralda, de Mauro Barsi, da cooperação internacional italiana como AVSI, a situação melhorou muito. Alguns anos atrás, quando eu era prefeito de Florença, prometi ao padre Renzo que na primeira viagem ao Brasil teria visitado Salvador, sua casa. Eu honrei este compromisso, mesmo agora que ele nos deixou — afirmou Renzi, que conhecia e estimava o missionário italiano, apaixonado pela alegria do povo brasileiro.
O premier visitou com a família o Santuário do Senhor do Bonfim e a favela de Massaranduba, onde conheceu os pequenos alunos da escola do projeto Beija-Flor apoiada pela ONG Agata Smeralda, além de dois centros de formação cultural e profissional para os jovens baianos, a entidade Dom Lucas Moreira Neves e o Centro Educativo João Paulo II.
— A Itália é bonita e grande pela sua cultura e pela sua espiritualidade, mas também pelo trabalho extraordinário das mulheres e homens voluntários que trabalham nas associações, os leigos e os religiosos que estão aqui e aqueles que se envolvem no nosso país. E também é por isso que estou feliz em comemorar em Salvador os muitos voluntários italianos que se unem a vocês em um grande abraço — declarou em seu discurso o premier italiano, elogiando os voluntários e os missionários que ganham uma medalha de ouro todos os dias.

Cristo Redentor é iluminado com as cores italianas
De Salvador, o chefe do governo aterrissou na cidade-sede dos Jogos, onde participou da cerimônia de iluminação da icônica estátua do Cristo Redentor com as cores da bandeira italiana, para comemorar a união entre os dois países. O presidente do Conselho dos Ministros italianos revelou que foi um momento de intensa emoção. De acordo com ele, a escolha da Pirelli de iluminar com as cores verde, branco e vermelho o santuário diocesano mais extraordinário do mundo foi uma maneira de dizer que a Itália, com todo o seu orgulho e a sua paixão, está ao lado dos amigos brasileiros na maravilhosa aventura das Olimpíadas.
Quando o monumento situado no topo do morro do Corcovado foi atingido por um raio em 2014, a empresa italiana Pirelli financiou a obra de restauração e, desde então, continua apoiando a preservação e a manutenção da estátua.
— O Cristo Redentor foi construído no mesmo ano em que começou a fábrica Pirelli no Brasil, 87 anos atrás. A Pirelli quer dar de volta um pouco do que nós recebemos ao longo desses anos. É uma maneira de dizer obrigado ao Brasil, já que nós aqui nos sentimos brasileiros — frisou o CEO da companhia italiana, Marco Tronchetti Provera, discursando em frente ao monumento em uma noite fria e ventosa do inverno carioca.
Ainda prestigiaram o evento o presidente executivo da Pirelli na América Latina, Paolo Dal Pino; o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta; o presidente do Coni, Giovanni Malagò; o embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini; e o cônsul-geral da Itália no Rio, Riccardo Battisti.
Na mesma noite, o primeiro-ministro italiano e o presidente do Coni inauguraram a sede da delegação azzurra, no Costa Brava Clube, com vista para a praia de Joatinga. A noite de gala foi marcada pela presença de muitas personalidades do mundo inteiro, além dos 43 membros do Comitê Olímpico Internacional; do Comitê Olímpico Brasileiro; do presidente do Comitê Roma 2024, Luca Cordero di Montezemolo; e de autoridades internacionais, como o príncipe Alberto de Mônaco, que ouviram as músicas tocadas no piano de cauda pelo napolitano Gigi D’Alessio e saborearam as iguarias preparadas pelo chef estrelado Davide Oldani. As mesas principais estavam denominadas com as várias edições das Olimpíadas e o premier italiano estava sentado com a família à mesa dedicada a Roma 1960.
Em respeito às regras do Comitê Olímpico Internacional, a Casa Itália tem 20 m² dedicados à promoção da candidatura de Roma como sede para os Jogos Olímpicos de 2024 e a vários ex-atletas olímpicos italianos, como Yuri Chechi, Fiona May, Carlton Myers e Max Rosolino, nomeados embaixadores da candidatura. Eles participaram do jantar. Estava ausente toda a administração de Roma, guiada pela prefeita recém-eleita Virginia Raggi que, antes de ser eleita, fez duras críticas à candidatura da cidade. As concorrentes da cidade eterna são Budapeste, Los Angeles e Paris.
Em seu discurso em inglês, Malagò fez referência à candidatura da capital italiana e, dirigindo-se aos representantes das cidades concorrentes presentes ao evento, disse estar orgulhoso de estar no Rio e de hospedá-los, mas lembrou a seriedade da candidatura para 2024. O premier também discursou em inglês e definiu à noite um momento especial para compartilhar os valores de paz e de respeito das Olimpíadas.
— Quando estudamos, nos diziam que durante os Jogos as guerras paravam. Agora não é mais assim: precisamos de um momento de fraternidade — completou Renzi, que acredita que o esporte é um valor importante para o crescimento do ser humano.
Na manhã seguinte, no dia 4 de agosto, o ex-prefeito de Florença foi visitar a Vila Olímpica, onde participou com os atletas italianos do hasteamento oficial da bandeira da Itália. Ao ser perguntado sobre o não declarado apoio da prefeitura da capital italiana como sede olímpica, Renzi respondeu que “a candidatura de Roma 2024 está na frente”, porém preferiu evitar polêmicas pelo menos durante os Jogos e falar apenas de esporte.

Renzi reservou momentos importantes para se encontrar com a coletividade italiana
Em 5 de agosto, antes de participar da abertura dos primeiros Jogos Olímpicos na América Latina, Renzi foi visitar no bairro carioca da Lapa o chef italiano do melhor restaurante do mundo, Massimo Bottura, que estava trabalhando nas obras do estabelecimento comunitário batizado de RefettoRio (inaugurado em 9 de agosto). O objetivo é alertar sobre o desperdício de comida, por isso as refeições são feitas a partir de ingredientes excedentes doados durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, destinadas às pessoas em situação de vulnerabilidade social.
O premier, que já se encontrou com Bottura no palácio do governo italiano em junho, ficou feliz em observar o espaço dedicado à iniciativa e comentou que com esse projeto ganhou a medalha de ouro de solidariedade. Em seguida, foi ao Museu Nacional de Belas Artes, a poucos quilômetros do RefettoRio, onde fez uma breve visita a portas fechadas à mostra Os Jogos da Antiguidade-Grécia e Roma. Último compromisso antes de participar do encontro com mais de 40 chefes de Estado organizado pelo presidente interino do Brasil, Michel Temer, no antigo Palácio do Itamaraty, Renzi visitou a sede do Consulado italiano do Rio e fez um discurso no terraço Belvedere, onde ficou impressionado com a vista privilegiada do Pão de Açúcar e do Cristo Redentor.
O embaixador italiano Antonio Bernardini lembrou que se passaram muitos anos desde a última visita de um primeiro-ministro italiano ao Brasil e muito mais tempo passou desde que um chefe de governo encontrou-se com a coletividade italiana.
— O risco é de chegar à época da rainha Teresa — brincou o diplomata, que definiu o encontro como uma ocasião excepcional e única.
O presidente do Comites, Alessandro Barillà, definiu os 30 milhões de descendentes italianos no Brasil como “um dos maiores patrimônios que a Itália tem no mundo, um patrimônio nesse momento esquecido e escondido”, e pediu ao chefe de governo que possa dar o impulso certo para resgatá-lo, de maneira que toda a coletividade possa sentir-se muito mais italiana no Brasil.
A deputada ítalo-brasileira Renata Bueno também falou em nome do seu colega Fabio Porta, que tinha discursado no dia anterior em São Paulo.
— O Brasil é um continente capaz de reunir todas as qualidades dos italianos no mundo e nós representamos uma coletividade que é fundamental para as relações com a Itália. Para mim é uma honra poder representá-los! — frisou a deputada.
Sucessivamente, o editor da revista Comunità, Pietro Petraglia, e o deputado e presidente da Associazione di Amicizia Italia-Brasile, Fabio Porta, entregaram o troféu ComunitàItaliana ao primeiro-ministro italiano. A homenagem é um reconhecimento à excelência do trabalho desenvolvido no Brasil de cooperação bilateral, promoção do made in Italy e na difusão da cultura italiana. O Troféu também marca a amizade entre os dois países e valoriza os méritos das personalidades que desenvolvem papel relevante para o Sistema Itália.
Em seu discurso de quase 20 minutos, Renzi agradeceu o prêmio e tocou em vários temas, entre os quais a luta contra o terrorismo, que é “dramaticamente impactante nos últimos meses na Europa”, e os Jogos Olímpicos, que são uma ocasião para mostrar que as pessoas não deixam espaço ao medo e ao terror e não renunciam a viver com alegria a existência.
O político fiorentino fez promessas de “compromissos concretos” à coletividade italiana.
— Vamos fazer missões mais vezes no Brasil — enfatizou Renzi, lembrando a visita empresarial agendada antes do final do ano do ministro do desenvolvimento italiano, Carlo Calenda, ao país, já antecipada em São Paulo.
Além disso, se comprometeu em garantir mais recursos às escolas de italiano no exterior, à promoção do ensino da língua italiana no mundo e a melhorar os serviços consulares, após ter recebido a petição popular que pede para destinar a contribuição dos 300 euros pagos em cada pedido de cidadania à melhoria da estrutura dos Consulados para acabar com as filas de espera.
Ainda citou a importância da defesa dos produtos agroalimentares verdadeiramente italianos.
— No Brasil há um mercado potencial de 90 bilhões de euros, porém só temos 36 bilhões — analisou o político, preocupado com o crescente problema da falsificação do made in Italy, do qual o Brasil é grande produtor.
O primeiro-ministro admitiu que há uma grande força e uma potência que a Itália ainda não expressou até o fim.
— Em primeiro lugar, a culpa é dos nossos políticos italianos, que muitas vezes tiveram medo da globalização, porque assusta por muitas razões, mas é também uma grande oportunidade que nos permite ser os líderes no mundo, pois o mundo está com fome de beleza, qualidade e de Itália — argumentou Renzi, concluindo o seu discurso com um pedido à coletividade ítalo-brasileira, de ajudar a restituir o orgulho e o sentimento de appartenenza.
Como em São Paulo, o chefe de governo foi protagonista de vários pedidos de selfies pelo público presente, que aplaudiu o seu discurso. Entre os comentários, havia quem dizia esperar que as palavras se transformem logo em fatos concretos.

O último dia foi dedicado ao apoio de Roma 2024
No dia seguinte à participação da abertura dos Jogos Olímpicos no Estádio Maracanã, Renzi encontrou-se com o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, para conversar sobre a candidatura olímpica de Roma, e assistiu a algumas competições de atletas italianos antes de retornar à Itália. O primeiro-ministro esperava ver a 200ª medalha de ouro da Itália, que veio após a sua partida, com o judoca Fabio Basile.
No dia 8 de agosto, durante uma visita à Casa Itália, o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, declarou aos jornalistas que “a candidatura de Roma é muito forte”.
— A cidade eterna tem uma grande história e uma grande tradição esportiva — afirmou Bach.
Um comentário que, com certeza, deve ter sido recebido com satisfação no Palazzo Chigi, sede do governo italiano.