Novo livro do poeta ítalo-brasileiro Marco Lucchesi reúne 36 textos, entre ensaios já publicados e inéditos, com reflexões sobre a história do Brasil e do mundo
Na apresentação de Carteiro imaterial, Marco Lucchesi faz um convite ao leitor: Põe aqui teus fantasmas para que se encontrem com os meus. Verás como se parecem nossas ruínas. É com este tom de empatia que ele apresenta os 36 textos que compõem a obra, um conjunto de indagações e reflexões que passeia pela História e pela literatura de forma erudita, poética e original. Na miscelânea literária de Lucchesi, figuram personalidades próximas do autor, como o escritor Antonio Cícero, o poeta turco Ataol Behrmaoglu, o teólogo Leonardo Boff, o filólogo Evanildo Bechara, a quem ele dedica um duelo “politicamente incorreto” da escrita, e a professora e poeta Cleonice Berardinelli, colega de cadeira na Academia Brasileira de Letras. As obras de Ferreira Gullar e de Euclides da Cunha ganham especial atenção no livro, que fala também sobre as visitas do autor a diversos presídios no Rio com o objetivo de abordar a leitura como fonte de liberdade e promoção da cidadania.
A obra reúne 36 textos, entre ensaios já publicados e inéditos, e se dedica ainda a temas atuais da história mundial e nacional. O autor aborda a interdependência da relação entre a história do Brasil e da Biblioteca Nacional, os 450 anos do Rio, comemorados em 2015, e os perigos do Estado Islâmico. Sobre este tema em especial, o escritor relembra o caso do padre jesuíta italiano Paolo dall’Oglio, sequestrado pelo grupo extremista em 2013. Ele apresenta a carta que redigiu em árabe e em português em favor da libertação do amigo. O autor também versa sobre a vida do intelectual Marin Mincu, autor de O diário de Drácula, os trabalhos do escritor e filósofo Emil Cioran e celebra a antologia do poeta Ghérasim Luca.
Autêntico capolavoro, real chef-d’oeuvre e incontornável opus magnum de Marco Lucchesi, “onde se espraia uma incessante releitura do Brasil” e uma não menor resistência do eminente poeta “contra o pensamento único, as guerras de religião e os males do Império”, comenta o pesquisador e professor Carlos Paulo Martínez Pereiro na orelha da obra.
No entanto, o leitor avisado desse volume de encantatórios ensaios — que, mais que qualquer outro livro, só lido devirá sólido —também poderá ir de encontro aos múltiplos escritos de um incomum lletraferit, ou, enfim, às diversas reflexões de um metafísico que, como François Mauriac, trabalha no concreto. Marco Lucchesi é, com certeza, um panepistemon literário (e não só), um dos grandissimi scrittori, daqueles que, para Claudio Magris, sono quelli il cui angolo prospettico abbraccia trecentosessanta gradi, prossegue Pereiro.
Marco Lucchesi é carioca, poeta, escritor, tradutor, conferencista, professor titular de literatura comparada da UFRJ e membro da Academia Brasileira de Letras. É professor honoris causa da Universidade de Timisoara. Sétimo ocupante da cadeira de número 15 da ABL — cujo fundador foi Olavo Bilac, que escolheu como patrono Gonçalves Dias —, eleito em 3 de março de 2011, na sucessão do padre Fernando Bastos de Ávila, Lucchesi publicou, dentre outros livros, Nove cartas sobre a Divina Comédia, O dom do crime, Ficções de um gabinete ocidental, A memória de Ulisses, Sphera e Meridiano celeste & bestiário.
De suas traduções, destacam-se as de Rûmî, Khlebnikov, Rilke e Vico. Obteve duas vezes o Prêmio Jabuti, o Prêmio Alceu Amoroso Lima, pelo conjunto da poesia, o Prêmio Marin Sorescu, na Romênia, e o prêmio do Ministero dei Beni Culturali da Itália. Traduzido para diversas línguas, incluindo a tradução de Curt Meyer Clason.
Carteiro Imaterial
Marco Lucchesi
224 páginas
R$ 39,90
Editora José Olympio