‘Abacaxi’ nas mãos de Mattarella; Mercado financeiro amanhece ressabiado com vitória da direita
POR ANDRÉ FELIPE DE LIMA
Não há como contestar a vitória do Movimento 5 Stelle (M5S), de Luigi Di Maio e do comediante Beppe Grillo, nas eleições italianas. Não há como contestar também que a coalização de centro-direita, que tem Silvio Berlusconi (Forza Italia) e o extremista de direita Matteo Salvini (Lega) como líderes, fortaleceu-se. A leitura desse contexto que emergirá das urnas não é auspiciosa. A Itália de hoje está longe de um consenso. O país está literalmente dividido. O avanço da extrema-direita é preocupante porque acirrará o já complicado tratamento que o governo e a sociedade dispensam aos imigrantes, a maioria refugiados africanos que cruzam o Mediterrâneo e entram ilegalmente na Itália. A estimativa é de que sejam pouco mais de meio milhão. Um número expressivo para uma população com quase 62 milhões de pessoas.
Como lidar com o imigrante será uma das (senão a principal) espinhas na garganta do novo Parlamento, que por sua vez estará longe de uma grande coalização, como prevê a nova e confusa legislação eleitoral do país. O “abacaxi” terá de ser descascado pelo presidente da República, Sergio Mattarella. Caberá ao Quirinale negociar com vencedores e vencidos para formar um novo governo. A trupe do M5S já sinalizou que não há conversa com os xenófobos do Lega. O inelegível Berlusconi poderá ser o fiel dessa balança ao tentar aproximar os dois polos. Aliás, ele já vem fazendo isso ao longo da campanha eleitoral. Mattarella — queira ele ou não — precisará do Cavaliere para colocar frente a frente Di Maio e Salvini. Algo verdadeiramente fora das cogitações de Salvini, mas com uma ainda tímida bandeira branca da parte de Di Maio.
Outro fato que não se nega: o grande perdedor dessa eleição é a própria reforma eleitoral, que obriga o Parlamento a ser formado por uma maioria em meio a uma barafunda ideológica temerária e extremamente repleta de antagonismos e extremismos. O Parlamento Italiano se tornará uma Babel.
Se Mattarella falhar em sua árdua missão, novas eleições não estão descartadas. O mercado financeiro já responde com um sinal amarelo. Com a vitória da direita e do MS5, a bolsa de Valores de Milão amanheceu hoje em queda. O índice FTSE MIB marcou um declínio de 1,83%. As ações mais atingidas foram as de bancos italianos, como o Unicredit (-2,66%), Intesa Sanpaolo (2,31%) e o BPM (5,95%).
As incertezas não acabaram.