Francisco defendeu mundo globalizado e acolhimento de imigrantes
Uma semana após a vitória de partidos populistas na Itália, o papa Francisco, sem citar diretamente as eleições, afirmou neste domingo (11) que o mundo está repleto de “medo” de imigrantes.
Defensor do acolhimento a refugiados e migrantes forçados, o líder da Igreja Católica voltou a abordar o tema durante uma visita à Comunidade de Santo Egídio, organização beneficente fundada há 50 anos e com sede no bairro de Trastevere, em Roma, a poucos passos do Vaticano.
“O mundo de hoje é frequentemente habitado pelo medo e pela raiva, que é irmã do medo. Nosso tempo conhece grandes medos frente às vastas dimensões da globalização. E os medos se concentram muitas vezes sobre aqueles que são estrangeiros, diferentes de nós, pobres, como se fossem inimigos”, afirmou.
Por tradição, o Papa não interfere publicamente em temas da política italiana, papel que cabe normalmente à conferência episcopal do país, mas não seria a primeira vez que um pontífice tenta mandar um recado para as lideranças nacionais.
Há uma semana, dois partidos populistas se autoproclamaram vencedores das eleições legislativas: o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), o mais votado individualmente, e a ultranacionalista Liga Norte, a mais popular dentro da coalizão de direita, que ficou à frente do próprio M5S.
Ambos defendem o fim das operações de socorro realizadas pela Itália no Mediterrâneo e o fechamento do país para migrantes sem documentos, ainda que esse número inclua milhares de pessoas fugindo de guerras e perseguições – uma parcela importante é formada também por migrantes econômicos.
“Nos defendemos dessas pessoas, acreditando que estamos preservando aquilo que temos ou aquilo que somos. A atmosfera de medo pode contagiar até os cristãos”, declarou Francisco – coincidentemente, antes das eleições, Matteo Salvini, líder da Liga, havia jurado sobre o Evangelho.
“O cristão, por vocação, é irmão de todos os homens, especialmente dos pobres e até dos inimigos. Não digam nunca ‘o que eu tenho a ver?’. Bela frase para lavar as mãos”, acrescentou Francisco, salientando que o “futuro do mundo globalizado” é “vivermos juntos”.
Ainda não se sabe quem será o novo primeiro-ministro da Itália, já que nenhum partido obteve maioria no Parlamento, mas Di Maio, líder do M5S, e Salvini são os principais candidatos.
Especula-se inclusive que os dois poderiam se juntar para formar um governo. (ANSA)