Arremessadora de peso, sua especialidade é o disco. Atleta e paratleta. Assunta Legnante já esteve dos dois lados em alto nível. Essa napolitana de 38 anos perdeu a visão por problema congênito, mas não a capacidade de enxergar com a mente. Poucos dias depois da chegada da delegação italiana paralímpica ao Rio, Assunta falou à Comunità sobre esporte, a perda da visão e como se adaptou à nova vida.
Para vir ao Rio, a arremessadora precisou superar outro tipo de problema físico, uma hérnia de disco.
— É emocionante vir para uma competição grandíssima. Tenho esse problema nas costas há um ano e meio. Não conseguimos resolver tudo. Dores à parte, entra-se com uma adrenalina a mais nas competições — comenta, com alegria.
Assunta elogiou a estrutura paralímpica italiana e dá sugestões para quem enfrentou e enfrenta problemas parecidos.
— O esporte paralímpico italiano desenvolveu-se muito. Desde que cheguei, só vi crescer o movimento. Não só graças a atletas fortes, mas à vontade de dirigentes e federações. O que poderia ajudar mais é fazer conhecer o esporte paralímpico nas escolas. Isso é importante e não só em nível paralímpico. Muitos garotos com deficiência não saem de casa por vergonha da deficiência ou por ignorância dos pais, fazendo com que fiquem na frente da televisão ou de um computador. Há maneiras de sair de casa e fazer-se conhecer apesar da deficiência — defende.
Até ela, quando virou paratleta, admitiu não conhecer o outro lado:
— Eu era ignorante antes de chegar ao mundo paralímpico. Minha primeira pergunta foi: mas como faz um não vidente para lançar um peso? É preciso fazer conhecer não só o esporte paralímpico, mas como pode viver um deficiente fora dos muros da própria casa.
E conta como certas facilidades do mundo moderno podem ajudar quem não vê.
— O que mais nos ajuda é a tecnologia, que nos faz estar no centro do mundo. Não sei o que seria de mim se não tivesse um celular que fala, um computador. Não poderia comunicar-me com os outros. O braile está ficando ultrapassado com os celulares falantes. Poucas pessoas o aprendem. No meu caso, adianta muito contar com pessoas ao meu lado, que me dão uma mão. Na maior parte das vezes é mesmo limitação mental do não vidente que o leva a não ver nada. Se você é estimulado pelas pessoas próximas a fazer as coisas que vão além da sua deficiência, compreende que são mais fáceis.
Em 2004, o problema da visão já se manifestava. Para manter sua integridade física, foi impedida de participar da Olimpíada. Depois, conseguiu ir a Pequim 2008. Em Londres, quatro anos atrás, já competia na Paralimpíada, na qual foi ouro no peso.
— Nasci com glaucoma congênito. Em Atenas, por causa do meu problema nos olhos, não me deixaram ir. Lutei, fui a Pequim como atleta normal, mas a cabeça tinha gasto todas as energias para estar presente lá, e o resultado não foi bom. Em 2009, perdi aos poucos a visão. Em 2012, outra dimensão, outra oportunidade de vida.
Para contrariar o velho ditado, os olhos não veem, mas nesse caso o coração sente. Mãe de dois filhos, Assunta soube adaptar-se à nova realidade.
— Tenho em casa um menino de cinco e uma menina de quatro anos. Meu companheiro me ajuda a levá-los à escola. Depois, pensamos em organizar o nosso dia. Ir ao ginásio, ou ao campo para lançar. Além disso, a equipe Anthropos Civitanova Marche me dá tanto apoio. É belíssimo o relacionamento com os filhos. Para eles eu tenho os olhos quebrados — diz ela, sorridente.
É quase uma brincadeira para eles, revela.
— Há uma sensibilidade maior por parte das crianças. Eles sabem que não podem deixar certas coisas pelo caminho em casa. Sabem que posso fazer algumas coisas rapidamente sozinha; outras, não. Esse relacionamento é especial, por isso eu consigo ajudá-los em quase tudo.
Em 2001, a arremessadora napolitana esteve no Rio para o Grande Prêmio de Atletismo. Competiu no Célio de Barros, no complexo do Maracanã:
— Do Rio, lembro o estádio. Foi a primeira vez que competi na América do Sul. Obtive ótimo resultado. Da cidade, lembro-me da alegria. Do lado de fora do hotel que hospedou os atletas havia bancas nas quais se desenhava em madeira, vendiam-se objetos típicos. Tenho ainda dois quadros de madeira gravados com os nomes de meus pais pendurados na parede de casa.