Em entrevista à Comunità, o presidente da Piaggio no Brasil explica que o país vive um processo de scooterização, assim como ocorreu na Europa há 20 anos, no qual a agilidade e acessibilidade das motonetas atraem cada vez mais usuários
Um ícone da indústria italiana, a Vespa, chega com muita força ao país. Líder global de scooters e responsável pela marca, o Grupo Piaggio começou sua operação no Brasil este ano por meio da Asset Beclly Investments Management e já mostra uma direção segura na busca pela liderança. Um caminho com olhar de longo prazo, traçado para que a empresa alcance 10% do mercado brasileiro de duas rodas em cinco anos. Ações para isso não faltam, como a implementação da fábrica no país, prevista para 2018, e o recém-lançamento do seu e-commerce através do site loja.vespabrasil.com.br.
Para o presidente da Piaggio Brasil, Longino Morawski, o atual cenário das políticas de transporte urbano no Brasil e a mudança cultural das pessoas em relação ao meio ambiente e à mobilidade têm contribuído para o que ele chama de “scooterização”, o mesmo processo pelo qual já passou a Europa, principalmente países como a Itália, origem da marca, onde os scooters chegam a ser cartões-postais das cidades.
Com experiência no ramo das quatro rodas, tendo trabalhado por 16 anos em companhias como Toyota e General Motors, Morawski — formado em Engenharia Eletrônica pela PUC-RS e com pós-graduação em Marketing pela ESPM, MBA em Administração de Empresas pelo Ibmec e doutorado (PhD) em Competitive Intelligence pela Aix-Marseille Université — se adaptou muito bem ao mercado das duas rodas. Entre 2010 e 2015, atuou na reestruturação da Harley-Davidson do Brasil. Após ter pilotado muitas motos “estradeiras”, se rendeu à praticidade urbana e à elegância da Vespa. O mesmo que pretende fazer com outros pilotos por meio da Piaggio.
ComunitàItaliana — Qual o atual status da operação de venda e montagem dos scooters no Brasil?
Longino Morawski — Estamos com uma procura muito boa por produtos Vespa. Em 11 de outubro, abrimos a pré-reserva da Vespa Série Histórica, uma versão especial da Primavera 150 cilindradas para comemorar a chegada da marca ao país. Em pouco mais de duas semanas, tivemos um número muito grande de interessados. Quase três mil clientes se cadastraram no nosso site. Como são apenas mil motos da edição limitada, tivemos de fechar as reservas para apurar os pedidos. Agora, acabamos de lançar nosso e-commerce, o primeiro a realizar a venda de veículos 100% online. Esperamos ter uma ótima resposta do consumidor, já que, além da compra, a entrega e a revisão são feitas em casa.
CI — Vocês anunciaram que queriam 10% do mercado brasileiro de motos nos próximos cinco anos. Diante do atual cenário econômico, houve alguma mudança em relação a esse projeto?
LM — Temos uma visão de longo prazo. O lançamento da Vespa é apenas o início das operações da Piaggio no Brasil. Estamos muito otimistas com a estratégia elaborada para recepcionar a Vespa. Temos a convicção de que o consumidor brasileiro irá se encantar, assim como nós estamos encantados. Estamos trazendo um ícone para as ruas brasileiras. Além disso, outros produtos do Grupo Piaggio chegarão ao mercado brasileiro. Com design e tecnologia avançados, características da marca, passam a ser comercializados em 8 de dezembro deste ano, resultando num line up amplo e diversificado. Ainda temos a implantação da fábrica. Prevista para 2018, acarretará em um volume maior e mais competitivo. Desta forma, através de um amplo portfólio de produtos Piaggio, a nossa visão de longo prazo é chegar a 10% do mercado brasileiro de duas rodas.
CI — Como vocês veem a situação econômica brasileira hoje?
LM — Vemos o mercado nacional com otimismo. Nossa avaliação é de que, já a partir de 2017, a economia volte a se estabilizar, assim como seus principais segmentos. A empresa aposta no Brasil, e sua estratégia para o mercado nacional se baseia no grande potencial do setor de scooter, principalmente. Em 2009, os scooters/motonetas ocupavam 18% do total de motocicletas e, em 2015, alcançaram 30%, um aumento superior a 60%, de acordo com os dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
CI — A política de mobilidade urbana nos estados brasileiros tem efetivamente contribuído para o mercado de duas rodas no país?
LM — De forma geral, o Brasil tem avançado muito em relação às políticas de mobilidade urbana. As grandes capitais brasileiras, sobretudo, pedem cada vez mais soluções para o deslocamento coletivo e individual, essenciais para manter a qualidade de vida das pessoas. E elas têm aparecido. As linhas de metrô têm aumentado, os corredores de ônibus estão crescendo bastante e houve a regulamentação de aplicativos como o Uber. Neste cenário, os scooters entram de modo decisivo, pois correspondem ao que há de mais moderno em mobilidade urbana de duas rodas: são mais acessíveis, ágeis, leves, fáceis de pilotar, econômicas e ecologicamente corretas. Não à toa, sua participação no mercado deu um grande salto, como revelam os números. O Brasil está em um processo de “scooterização”, o mesmo que ocorreu na Europa há 20 anos.
CI — No Nordeste, há cidades em que as motocicletas dominam o transporte urbano, mas em geral são produtos mais baratos, com pouco apelo estético. Há alguma região nesses bolsões que possa ser interessante para vocês?
LM — Sem dúvida. Olhamos estrategicamente para o Nordeste, principalmente para os centros mais urbanizados, que enfrentam os mesmos desafios que os do Sudeste. Ou seja, necessitam de uma solução eficaz para a mobilidade do dia a dia, e os scooters são uma das melhores alternativas.
CI — Uma das grandes queixas de multinacionais que se instalam no Brasil é a qualidade da mão de obra. Vocês conseguem assegurar a mesma qualidade do produto aqui?
LM — Contamos com uma equipe de qualidade excepcional para estruturar a operação brasileira. Quanto a isso não temos de que nos queixar. O Brasil está com mão de obra cada vez mais qualificada, que não deixa a desejar quando comparada a mercados como o europeu e o americano. Além do mais, em todas as nossas operações, iremos aplicar o padrão de qualidade internacional da Piaggio, que preza pela excelência de serviços e produtos.
CI — Na Itália, os scooters parecem compor o ambiente, seja nas cidades, seja no campo. Qual a estratégia de marketing para criar esse desejo aqui também?
LM — Nosso posicionamento reforça a tendência de que o mercado brasileiro está passando por um processo de scooterização. Nossa mensagem destaca bastante isso. Mas nós temos uma diferenciação exclusiva, única, aqui e no resto do mundo, que fazemos questão de enfatizar em todas as nossas comunicações. O Grupo Piaggio é a referência global em scooters. Em 1946, criou esse segmento, quando surgiu com a Vespa, um veículo elegante, de fácil dirigibilidade, que alcança homens, mulheres, jovens, adultos etc. A nossa linha é uma referência e inspiração para outras marcas, já que também ditam tendência nos quesitos design e tecnologia. Temos a nosso favor o pioneirismo; então exploramos bastante essa exclusividade.
CI — Quais são os grandes desafios deste mercado em 2017?
LM — Nosso principal desafio para 2017 é implantar as operações da Piaggio em um mercado que ainda busca estabilização e volta do crescimento. Queremos nos estabelecer de maneira sustentável em uma relação de longo prazo com os clientes e como país. Vemos o setor dos scooters com grande potencial no Brasil. O segmento deve prosseguir abocanhando mais espaço no universo de duas rodas. Por isso, acreditamos que 2017 será um ano estratégico para trabalharmos nas principais praças brasileiras nossas marcas Vespa e Piaggio, ambas referências e pioneiras em seus nichos.
CI — O senhor tem o hábito de andar sobre duas rodas?
LM — Não apenas tenho o hábito como sou um grande entusiasta das duas rodas. Já pilotei, por muito tempo, motos “estradeiras”. Hoje em dia, fico com a praticidade urbana e a elegância da Vespa. Uma percepção clara que tive desde quando comecei a andar de scooter é essa relação mais amigável com o trânsito urbano. A cultura e o comportamento das pessoas que aderem a este subsetor é outra e isso se reflete, inclusive, na resposta dos motoristas de carro aos scooters. De fato, é uma forma muito mais sadia, segura e elegante de transitar por uma grande capital.