Comunità Italiana

As muitas flores do Lácio

Entre lagos, burgos medievais, praias e roteiros enogastronômicos, a região berço da língua latina oferece atrações que vão muito além de Roma e que precisam ser descobertas pelos turistas brasileiros

Ir a Roma e não ver o Lácio? Os encantos da Cidade Eterna acabam ofuscando o interesse dos turistas em conhecer a região, rica em opções de passeios. Entre praias, lagos, montanhas, neve, parques naturais, castelos, cidades históricas, vinhos e gastronomia, tem pra todos os gostos. Situado entre o mar Tirreno a oeste e a cadeia dos Apeninos, a leste, o Lácio consegue unir paisagem e cultura em um pacote completo. Sua história tem origem na mitologia grega e latina. Enéas, o príncipe troiano vencido pelos gregos, fugiu de Troia com seu filho Iulo Ascânio e desembarcou na costa lacial, onde foi acolhido por Latino, rei do Lácio e neto de Saturno. O rei ofereceu-lhe terras e a mão de sua bela filha Lavínia. Uma profecia dizia que Lavínia devia casar-se com um estrangeiro, para assim dar origem a uma raça poderosíssima que governaria o mundo. Quando Enéas voltou a Troia, deixou no Lácio seu filho Ascânio, do qual descendem os reis gêmeos Remo e Rômulo, o fundador e primeiro rei de Roma no ano 753 a.C.
Os latinos habitavam a região desde o segundo milênio antes de Cristo. Foram dominados pelos etruscos e, com a queda destes, passaram a sofrer ataques dos sabinos e de outros povos. Eles ajudaram a construir e a povoar Roma, deixando uma contribuição determinante para o mundo: a língua e a cultura latina. O Lácio também é citado pelo grande poeta brasileiro Olavo Bilac (1865-1918). No soneto Língua Portuguesa, ele escreve, no primeiro verso, Última flor do Lácio, inculta e bela, referindo-se ao idioma português como a última língua derivada do Latim Vulgar. Em ritmo poético e musical brasileiro, a região também foi lembrada no trecho da música Língua, de Caetano Veloso do álbum Velô, lançado em 1984: Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó.
O vice-presidente da Região Lácio e responsável pelo Turismo, Massimiliano Smeriglio, explica à Comunità quais os incentivos que o governo está dando para atrair mais turistas ao Lácio.
— Roma representa um brand em nível mundial e nosso objetivo é a criação de um brand regional bem integrado ao da capital, uma vez que a força turística de Roma não se estende automaticamente para o resto do território. Estamos promovendo novas sinergias no turismo local para valorizar o máximo a potência do Lácio: ambiental, paisagística, cultural, histórica e enogastronômica, de modo que toda a região se torne cada vez mais atraente para os mercados nacionais e internacionais. Assim, criamos novas estratégias e políticas de apoio e desenvolvimento para as empresas, estímulo e orientação dos territórios e marketing turístico integrado — afirma.

Plano estratégico e iniciativas inter-regionais visam à valorização da região como um todo
O Plano Estratégico Regional para o Turismo do triênio de 2015-2017 apresenta seis temas fortes e transversais sobre os quais o governo concentra os objetivos de desenvolvimento e ações: agricultura, enogastronomia, passeios, esportes, saúde e natureza. Mas também inclui educação, cursos e oficinas de Italian Style, além do turismo congressual, acrescenta Smeriglio.
Mas como é possível convencer um turista que vem a Roma que é interessante visitar também o resto da Lácio? Através da “valorização de um território regional extremamente diversificado e caracterizado por uma grande variedade de atrações turísticas”, responde o representante da região, enumerando tais atrações: o mar, a costa e as ilhas, os lagos; as montanhas, parques e áreas naturais protegidas; os antigos burgos, vales fluviais e áreas montanhosas; os caminhos da fé e trilhas para caminhadas; as abadias, monumentos e sítios arqueológicos; os eventos culturais e desportivos; a enogastronomia e seus produtos típicos.
— Uma síntese desta iniciativa foi o Italian Wonder Ways, projeto inter-regional para valorizar os caminhos espirituais no ano do Jubileu da Misericórdia. O objetivo era valorizar os territórios do centro da Itália fora dos circuitos internacionais e ampliar a oferta desses lugares capazes de acomodar um turismo culto, cultural, sustentável. O evento envolveu Lácio, Úmbria, Toscana e Marche, e foi uma oportunidade para mostrar aos jornalistas e blogueiros de cinco continentes os pequenos vilarejos, os tesouros históricos e artísticos e as comunidades locais com seus eventos tradicionais e gastronômicos dos territórios do Lácio e do centro da Itália — revela.
Durante uma semana, a região participou das mais belas e sugestivas etapas do Sistema dos Caminhos do Lácio, com quatro percursos mais representativos para o contexto internacional: a Via Francigena do norte, o Caminho de São Francisco, a Via Francigena do Sul, nas suas duas bifurcações Appia e Prenestina, e o Caminho de Bento.
Além disso, o Ministério italiano dos Bens e Atividades Culturais e Turismo elegeu 2017 como o ano dos antigos burgos.
— O Lácio tem 18 burgos classificados entre os mais bonitos da Itália, com uma menção especial à Amatrice, infelizmente atingida pelo terremoto de 24 de agosto. Entre eles, a região tem trabalhado muito, como a Civita di Bagnoregio, na província de Viterbo. Além disso, o castelo de Santa Severa, um lugar reaberto ao público depois de tantos anos, é extraordinariamente impressionante. Os antigos burgos representam uma riqueza ainda não plenamente valorizada. Ao mesmo tempo, vemos um aumento de visitantes atraídos pela dimensão autêntica, tradicional e de identidade dos vilarejos. Claramente a Região Lácio trabalha também com a promoção das importantes feiras nacionais, internacionais e redes sociais com o site www.visitlazio.com, que convido todos a visitarem.
Entre os turistas que visitam o Lácio, além de Roma, cresce o interesse pelos itinerários do litoral, das ilhas e do interior, informa o vice-presidente da Giunta.
— Certamente podemos citar uma maior procura pelas ilhas de Ponza e Ventotene, e por muitos lugares do sul com Gaeta, Circeo e Sperlonga, até o norte do Lácio. Não podemos esquecer belíssimos lagos, como Bracciano e Bolsena. Reitero o desenvolvimento de caminhos espirituais que, com a Via Francigena do Norte e do Sul, e os caminhos de Bento e Francisco, atravessam o Lácio de norte a sul.
Massimiliano Smeriglio aconselha aos turistas outros locais do território laziale, como o centro histórico de Viterbo ao longo da Tuscia; a província de Latina com a sua costa, o jardim de Ninfa; a província de Rieti com beleza cênica, paisagística e naturalística, como o Monte Terminillo com uma importante história da culinária; os belos burgos Boville Ernica, Monte San Giovanni Campano, Pico e Castro de Volsci.
— É difícil fazer uma lista completa de tantas belezas do Lácio. O conselho que posso dar é, certamente, a consultar os canais da Região e tirar uns dias a mais depois de visitar Roma para descobrir os muitos outros tesouros do nosso território — conclui Smeriglio.

Descobrindo Ulisses na praia de Sperlonga
No sul do Lácio, encontramos uma pérola do litoral tirreno: Sperlonga. Não é para menos que o imperador Tibério, sucessor de Augusto, escolheu este lugar para a sua luxuosa Vila Imperial de veraneio. Ele se aproveitou do charme misterioso de uma gruta natural e mandou transformá-la em salão de festas, decorada com esculturas gigantes do ciclo homérico do herói Ulisses, que hoje podem ser vistas no Museu Arqueológico Nacional ao lado. O vilarejo medieval, com casinhas brancas que lembram a Grécia, é construído sobre um penhasco que se irrompe no mar. Este antigo burgo — classificado entre os mais bonitos da Itália — divide duas praias: de um lado, a vegetação nativa, poucas construções e a gruta de Tibério na extremidade; do outro, a cidadezinha mais moderna com a orla mais extensa. Na ponta, o Monte Circeu…e o feitiço de Circe.

San Felice Circeu
Na Odisseia de Homero, a maga Circe transformava os homens em animais, principalmente em porcos. Em suas perambulações, o herói Ulisses e sua tripulação desesperada desembarcam na praia da ilha de Eana, onde vivia Circe, filha do Sol. De acordo com o livro, antigamente, o lugar estava separado do continente. Nesta ilha, Ulisses viveu com Circe durante um ano. Até hoje, da praia em San Felice Circeo, olhando para o Monte Circeu, podemos ver o contorno da feiticeira Circe, como se estivesse deitada de costas: cabelos longos imersos no mar, seu rosto, testa e nariz adunco, pescoço e seios. Vale a pena visitar a Torre dos Templares, o Parque Nacional do Circeu, a pé ou de bicicleta e, perto do lago de Sabaudia, o Lago Fogliano, que abriga um verdadeiro santuário de aves migratórias. Típico da região é o vinho DOC Circeo.

A Acrópole de Alatri e as pedras de Ciclopes
Ao deixar o litoral a oeste e entrar na Ciociaria, a leste, o turista dá início a uma etapa de tirar o fôlego ao visitar a Acrópole de Alatri, cidadezinha a 70 km a sudeste de Roma, com suas muralhas gigantes que intrigam os místicos. Os cientistas as comparam às pirâmides maias, incas e egípcias. As suas dimensões são extraordinárias: as muralhas têm dois quilômetros de comprimento, 21 metros de altura e 10 metros de profundidade. Visitar Alatri é como entrar no túnel do tempo, percorrendo mais de quatro mil anos de história da humanidade, em diferentes épocas, como os labirintos dos cavaleiros templários. A construção destes muros megalíticos até hoje é um mistério.

Fumone
Este burgo medieval charmoso e rico em história, a 7,5 km de Alatri, é conhecido por ser o local de prisão do Papa Celestino V, o ermitão Pietro dal Morrone. Após ter que renunciar ao pontificado em 1294, por ordem do seu sucessor Bonifácio VIII (Benedetto Caetani), que temia seu retorno ao trono papal, Celestino V foi capturado e preso no Castelo da família Caetani. Ele morreu em 1296 e, de acordo com algumas versões, assassinado a mando do próprio Caetani. Segundo a lenda, assim que ele morreu, apareceu uma cruz brilhante pendente no ar à frente da porta da sua cela. É possível visitar o Castelo e o miserável cativeiro de Celestino V, canonizado em 1313.

Roteiros na região do vinho Frascati
A apenas 30 km de Roma fica a região de vinhedos que produz os vinhos Frascati, conhecidos no mundo inteiro. O território é de natureza vulcânica, ideal para as uvas, com dois lagos que são crateras vulcânicas: Nemi e Albano. A região é uma ótima opção para fazer uma viagem enogastronômica, combinando com visitas às antigas Villas dos nobres de Roma (inclusive papas e cardeais).

Lagos
Os lagos combinam natureza e história, certamente um modo para relaxar. Em Bracciano, além do lago, vale a pena uma visita ao Castelo Orsini-Odescalchi do século XV. Para quem prefere uma natureza incontaminada sem nenhuma construção, o lago Martiniano é boa opção. Já o lago de Bolsena é o maior de origem vulcânica de toda a Europa, com 43 quilômetros de perímetro. De barco é possível visitar as ilhas Martana e Bisentina.

Ilhas
O arquipélago das Ilhas Pontine, no centro do Mar Tirreno, é dividido em dois grupos: o primeiro inclui Ponza (cidade), Palmarola, Zannone e a ilhota de Gavi (desabitada); o segundo consiste em Ventotene (cidade) e S. Stefano (desabitada). Entre os dois grupos, isolado, está Scoglio della Botte. É quase inevitável que a escolha de uma ilha como destino turístico aconteça na temporada de férias tradicional, o verão, mas visitar as ilhas Pontine fora de temporada, entre o início da primavera e o final do outono, também vale a pena: a tranquilidade confere ao mar sempre encantador uma dimensão diferente.

Terminillo
O Monte Terminillo (Mons Tetricus para os antigos romanos) é uma montanha cujo pico atinge uma altitude de 2.217 m. Pertencente ao grupo dos Apeninos, a 20 km de Rieti e a 100 km de Roma. Quem gosta de esquiar, pode aproveitar o inverno no local.

Civita di Bagnoregio
Não é para menos que foi classificada entre os mais maravilhosos burgos da Itália. Civita di Bagnoregio, a norte de Roma, é um daqueles lugares que não se pode deixar de conhecer. A antiga cidadezinha é construída em uma colina isolada, acessível apenas através de uma ponte em ferro que só pode ser cruzada a pé. Ficou famosa no Brasil quando foram gravados os capítulos iniciais da novela Esperança, que fizeram milhares de brasileiros acompanhar a saga de Toni e Maria. É conhecida na Itália como città che muore (cidade que morre), provavelmente pelo baixo índice de natalidade. Em compensação, é cheia de vida, restaurantes, bares, sendo palco inclusive de uma corrida de burros (de junho a setembro).