Ela poderia ter-se tornado uma bailarina clássica. Gostava de dançar, mas o esporte falou mais alto. Bem alto, literalmente. Não há somente homens na rica história olímpica italiana. Sara Simeoni, recordista mundial do salto em altura, aposentou-se do atletismo com um punhado de títulos, entre os quais três medalhas olímpicas. Nascida em Rivoli Veronese, na província de Verona, em 19 de abril de 1953, desde pequena tinha inclinação para as artes. A dança era um ponto forte da então futura atleta. Certa vez, em Verona, foi excluída de um balé da ópera Aida, encenada na Arena de Verona, por ser considerada muito alta. Ela destoava das outras. Apesar disso, não desistiu. Passou num teste para o Scala de Milão, mas preferiu não mudar de cidade para ficar perto da família. A reprovação em Verona e a desistência de ir para Milão, que na época pareciam infelicidades, transformaram-se em golpes de sorte que mudariam sua vida, como ela mesma reconheceria mais tarde.
Em 1965, as coisas tomaram outro rumo. A professora Marta Castaldo a indicou para o atletismo. Sara descobriu, então, que tinha aptidão para o salto em altura, aos 12 anos. Os melhores resultados iniciaram em 1970, aos 17 anos, quando saltou 1,71m, em Padova. Recorde italiano feminino. As marcas não paravam de subir. Na primeira olimpíada da heroína azzurra, ficou em sexto lugar em Munique, em 1972, com 1,85m. Em 1976, em Montreal, ganhou sua primeira medalha olímpica ao saltar 1,91m, novo recorde italiano. Sara ficou com a prata, superada apenas pela alemã-oriental Rosemarie Ackermann, que saltou 1,93m.
Os grandes momentos ainda estariam por vir. Em 4 de agosto de 1978, atingiu o ponto máximo de sua carreira, em Brescia. Bateu o recorde mundial, saltando 2,01 metros. Na ocasião, poucos cobriram, pois grande parte da mídia italiana estava em Veneza para uma competição de atletismo masculina. Pouco depois, em 31 de agosto de 1978, igualaria seu próprio recorde. Mais uma vez 2,01m, dessa vez em Praga, na antiga Tchecoslováquia, com o título europeu — marca superada somente pela alemã-ocidental Ulrike Meyfarth em 8 de setembro de 1982: 2,02m, em Atenas.
Os recordes mundiais aconteceram em 1978, mas como vitória o maior momento foi em Moscou, na Olimpíada de 1980, quando ela tinha 27 anos, 1,78 metro de altura e 60 quilos. A Itália não havia aderido totalmente ao boicote aos Jogos desencadeado pelos EUA, que protestavam contra a invasão da então União Soviética ao Afeganistão. A delegação italiana foi a Moscou, porém não utilizou bandeira nem hino. Os atletas militares italianos também não puderam competir. Sara Simeoni estava lá. Carregava consigo o peso da responsabilidade de recordista mundial. Admitiu que foi tomada pelo pânico antes da prova. “Mas depois tomei coragem. Lembrei que o recorde era meu e venci”, disse em algumas entrevistas. A azzurra faz várias tentativas a partir de 1,80m até chegar a 1,97m, medida na qual erra o primeiro salto, mas no segundo da mesma altura supera o sarrafo. Veio a glória máxima com o recorde olímpico. A polonesa Urszula Kielan e a alemã-oriental Jutta Kirst ficaram respectivamente em segundo e terceiro lugares.
Mas Moscou 1980 não foi a última medalha olímpica de Sara. Em Los Angeles 1984, houve novo boicote, mas liderado pela União Soviética, seguido por vários países socialistas. A italiana, que carregou a bandeira de seu país no desfile de abertura, ganhou a prata ao cravar o salto em dois metros, atrás apenas da alemã-ocidental Ulrike Mayfarth, com 2,02m. A terceira foi a norte-americana Joni Huntley, com 1,97m.
Sara competiu até 1986, quando completou 33 anos. Em 1987, casou-se com Erminio Azzaro, ex-atleta de salto em altura, que havia sido seu técnico. Roberto, filho do casal, de 25 anos, pratica a mesma modalidade dos pais. Ele tem como melhor marca 2,15m no salto em altura. Em 2014, no centenário do Comitê Olímpico Nacional Italiano (Coni), Sara Simeoni e o ex-esquiador Alberto Tomba foram homenageados em Roma como atletas do século.