Guardiã de belezas naturais e artísticas, região famosa por reunir cidades como Florença, Siena e Pisa, promove projetos para divulgar o território como um todo
A viagem de Comunità rumo à descoberta das várias realidades da Itália este mês tem como meta a Toscana, uma das regiões mais conhecidas e apreciadas do panorama turístico por sua oferta rica e variada. Stefano Ciuoffo, secretário de Turismo da administração toscana, apresenta a região aos leitores e fala de projetos que o governo local está desenvolvendo, como o Toscana Wine Architecture, composto por um circuito de 14 vinícolas, nas quais o percurso inclui degustação, criando uma espécie de “novo renascimento” da arquitetura toscana. Ciuoffo revela ainda que, após aumentar 317% entre 2005 e 2015, o turismo brasileiro na região teve seu crescimento desacelerado nos últimos dois anos.
ComunitàItaliana — Com cidades artísticas como Florença, Pisa, Siena e Lucca, as doces colinas do Chianti, as renomadas costas de Argentário e Versilia, o patrimônio artístico e paisagístico toscano é realmente imenso. Tentando resumir, quais são as localidades mais conhecidas e que representam as principais atrações do território?
Stefano Ciuoffo — Já nas localidades que o senhor citou há tanta Toscana! Está ali a Toscana mais conhecida e, sem dúvida, a que está mais associada ao imaginário coletivo. Porém, a nossa região tem muitas faces e é rica sob muitos pontos de vista. Como secretário regional, prefiro não citar localidades específicas em detrimento de outras, pois o meu compromisso é o de mostrar a região em seu conjunto, a partir, justamente, da Toscana menos conhecida, que não é de maneira alguma menos bela ou menos atrativa.
CI — Qual é o valor agregado que uma experiência turística na Toscana é capaz de oferecer? Isto é, por que um turista proveniente de outro país deveria escolher passar as férias no território e não em outros lugares da Itália?
SC — A escolha, obviamente, é sempre pessoal, mas creio que esta região tem destinos apropriados para qualquer tipo de turismo: para as famílias e para os jovens, natureza não contaminada que possibilita a atividade esportiva e o descanso, pequenos burgos e campos onde é possível mergulhar no bem viver toscano, caracterizado pela comida e vinhos de qualidade, elementos tradicionais e característicos desta terra. Sem esquecer a esplêndida costa, que permite ir à praia com ofertas turísticas diversificadas, e a montanha, com o seu Apenino, especialmente fascinante no inverno. Existem muitos projetos que estão sendo realizados para satisfazer as exigências e os interesses cada vez mais específicos do viajante. A Toscana não é feita somente de cidades artísticas, e não é nem mesmo necessário reafirmar quantas obras únicas no mundo estejam aqui presentes e quão vivas culturalmente estas cidades são, graças à organização de importantes mostras e eventos que acolhem os interesses mais variados. Como mencionei antes, o meu compromisso é sobretudo o de contar sobre a outra Toscana, menos conhecida, mas também muito rica em beleza, história, fascínio e natureza a ser vivida. Não falo de uma ‘Toscana menor’, mas simplesmente de uma outra Toscana que deve ser descoberta e valorizada da melhor maneira.
CI — Agora há pouco o senhor mencionou as excelências gastronômicas de seu território. À luz de experiências como a estrada do vinho e do azeite no Chianti, o senhor acha que a enogastronomia possa realmente representar algo capaz de gerar turismo?
SC — Com certeza, sim. Como disse antes, a Toscana não é somente paisagem e monumentos que podem ser replicados também em outros continentes. Os monumentos e edifícios podem ser copiados, mas não se pode replicar o seu povo e o que se vive. A comida e o vinho são traços distintivos de nossa tradição e da nossa cultura. O turismo motivado pelo interesse em degustar sabores e sensações cresce exponencialmente e, a este propósito, demos início a um projeto em que estamos trabalhando muito, chamado Toscana Wine Architecture (www.winearchitecture.it), composto por um circuito de 14 vinícolas. Os proprietários, ou seja, as grandes famílias e os prestigiosos nomes do mundo do vinho permitiram a abertura ao público e a nossa intenção é propor um verdadeiro percurso a ser visitado, com degustação incluída no mesmo nível de obras arqutetônicas presentes nas cidades artísticas. Em resumo, colocaremos à disposição grandes rótulos em vinícolas construídas por grandes mestres da arquitetura contemporânea, dando vida a uma realidade única no mundo, excluindo a Califórnia. Ao lado delas colocaremos à disposição vinícolas que possuem instalações artísticas e que desenvolveram interessantes relações com a arte moderna e a música, criando um sistema cultural e produtivo inovador. Isto é, produziremos uma união entre os sabores típicos desta região e esta espécie de “novo renascimento” da arquitetura toscana.
CI — A Toscana pode se gabar de lugares como Florença, que não precisam de propaganda. Mas, em geral, fala-se da Toscana em seu conjunto, como modelo de excelência do setor turístico internacional. Em que consiste mais exatamente este modelo e quais são os segredos de seu sucesso?
SC — Antes de tudo, temos que agradecer pelas belezas naturais e artísticas das quais somos guardiões. Depois existe, com certeza, uma cooperação entre as instituições públicas e os entes privados que fazem da valorização de nosso patrimônio e do turismo uma razão de vida, já há muitos anos. Este espírito criou um círculo virtuoso de experiências e competências na organização e na acolhência, com a Região Toscana, que se coloca à disposição para ajudar todo o sistema de recepção, através da Toscana Promozione Turistica e da Fondazione Sistema Toscana.
CI — Quais são as tendências que surgem dos dados mais recentes relativos aos fluxos turísticos na Toscana?
SC — Em 2015, a dinâmica regional foi impulsionada pelos turistas estrangeiros, com um aumento das presenças de 3,5% e um crescimento das chegadas de 3,6%. Além disso, depois de dois anos negativos e um de estagnação, finalmente voltam a crescer as presenças de italianos: mais 2,6% de chegadas e mais 2,2% de presenças. Aumenta, também, o turismo dos toscanos na Toscana, com +mais 4,1% de presenças. No que diz respeito aos turistas italianos, as desigualdades entre as diferentes áreas do país são sentidas: crescem as presenças das regiões Norte e do Lácio, e diminuem ainda mais as presenças de quase todas as regiões meridionais. A presença dos italianos, antes concentrada na primavera, em 2015 estendeu-se para o verão e para o outono. Os italianos na Toscana escolheram a praia (mais 3,4%), mas principalmente a montanha (mais 7,4%) e o campo/colina (mais 7,8%), preferindo hospedar-se em hotéis de faixa média/baixa ou em estruturas receptivas capazes de atender as exigências de idosos e crianças. Continua crescendo também a opção pelo agriturismo em contextos rurais (mais 5%) e de montanha (mais 8,9%).
CI — E quanto aos turistas estrangeiros?
SC — Entre os turistas estrangeiros, que representam de qualquer modo o componente principal, evidenciam-se duas realidades principais e muito diferentes entre si: de uma parte estão os países emergentes, europeus e não europeus: de outra os clientes históricos da Toscana, europeus ocidentais e estado-unidenses. Os primeiros viajam mais ou menos organizados por operadores turísticos, hospedam-se em estruturas de quatro e cinco estrelas e visitam, especialmente os não europeus, quase que exclusivamente as cidades artísticas e os principais burgos da Toscana. Os segundos, por sua vez, são em sua maioria turistas experienciais, viajam com organização própria, visitam áreas menos conhecidas no interior, frequentam a costa meridional da região, hospedam-se também em estruturas extra-hoteleiras e em campings, mas sempre das faixas qualitativas média/alta. A análise da demanda, em termos de tipologias receptivas, confirma a preferência, especialmente por parte dos turistas internacionais não europeus, por estruturas hoteleiras de faixa alta. Nota-se um aumento do número de viajantes da Índia (38%), da Argentina (17,1%), da China (25,7%) e também uma volta dos turistas australianos (2,7%) e da África do Sul (24,3%). Voltam também os americanos (5,6%) e os ingleses (2,9%), além dos alemães (3,1%), austríacos (8,2%) e suíços (2%). Em crescimento também o dado das presenças dos países da Europa oriental (6,2%) e do grupo Portugal-Itália-Irlanda-Espanha (10%). Diminuem, por sua vez, as presenças de Holanda e Bélgica (-3,2% e -6,1% em 2014). Continua a queda das presenças da Rússia (-37,5%), persiste o declínio das presenças do Japão (-13%) e se confirma uma pequena diminuição das presenças da Europa do norte (-0,7%).
CI — Como vai o turismo brasileiro na Toscana?
SC — As presenças turísticas vindas do Brasil, nos 10 anos que vão de 2005 a 2015, aumentaram em 317%. Já nos últimos dois anos houve uma desaceleração, com o crescimento que se deu em +1.7%. O componente brasileiro, em relação ao total de turistas estrangeiros na Toscana, se quantifica por volta de 2%, enquanto em 2005 representavam uma cota de 0.6% do total. Em termos absolutos, passamos dos 107 mil turistas de 2005 para os 450 mil de 2015: um salto importante, com amplas e posteriores margens de crescimento, o que só pode me dar prazer, já que pode ser uma ocasião para fortalecer as relações entre os dois povos.
CI — Qual é, em geral, o perfil do turista para o qual vocês se dirigem?
SC — Não existe um perfil único, já que o turista pode ser atraído por inumeráveis aspectos desta região, da atividade esportiva à arte, passando pela tradição, pelo mar e pela montanha. Estamos trabalhando para garantir uma oferta cada vez mais ampla e diversificada; quem quiser provar encontrará uma ampla gama de destinos, entre os quais escolher de acordo com as próprias preferências e desejos, para satisfazer vários tipos de motivações de viagem, entre as quais não se pode subestimar a viagem de lua de mel.
CI — Qual a incidência da indústria do turismo na economia toscana?
SC — Dos cálculos feitos pelo nosso instituto de pesquisa regional, podemos dizer que a ativação do PIB produzido pelo turismo, isto é, a soma do direto, indireto e induzido gera uma cota total de produto interno estimável em 6,5%.
CI — O que está fazendo e em que está se concentrando a administração regional para valorizar o turismo na Toscana?
SC — Reformamos a agência regional de turismo e fizemos um grande trabalho de junção com os vários setores para promover, com uma linguagem única e nova, a nossa região, dando apoio às entidades locais e aos operadores do setor. Graças também ao trabalho da Fondazione Sistema Toscana, finalizamos um projeto desejado pelo presidente da região Enrico Rossi, dirigido à promoção do território: trata-se de ‘Toscana Ovunque Bella’, um projeto de crowd storytelling que se baseia no envolvimento capilar dos territórios através de instrumentos e linguagens inéditos para uma educação pública. Com a ajuda de escritores e personagens famosos, todos ligados a um lugar específico da região, tece-se um tapete de lugares insólitos e ocultos, de estórias fascinantes e alegóricas, de personagens surpreendentes, de beleza difundida, naquela que é a terra do ‘Bem Viver’. No total, teremos 279 estórias para contar à Toscana, ou melhor, às Toscanas, cada uma das quais valendo uma bela viagem. Além disso, para o Jubileu de 2016, organizamos uma série de serviços e propostas para ajudar os peregrinos e turistas, colocando no sistema o trabalho feito em mais âmbitos e criando um site inteiramente dedicado (www.jubileeintuscany.com), com conteúdos e informações de serviços nos lugares das 43 Portas Santas abertas na região e sobre os itinerários religiosos que passam por todas as dioceses toscanas — da histórica Via Francigena às outras Vias que se cruzam no território. Enfim, estamos apostando há tempos no ‘turismo lento’, para fazer crescer o turismo em todos os períodos do ano e estamos desenvolvendo novas propostas específicas e temáticas para o turismo ativo e esportivo, para o bem-estar e o relax ligado às termas e para os casamentos nos destinos românticos.
CI — O Brasil é o país com o maior número de cidadãos descendentes de imigrantes de origem italiana. O senhor acha que este aspecto possa favorecer um maior interesse dos brasileiros em relação à Itália e, portanto, à Toscana?
SC — Espero que sim e creio que a descoberta das próprias origens seja a motivação adequada para vir conhecer a nossa região. Nós estamos prontos e dispomos de um portal do turismo também em português no link www.turismo.intoscana.it/site/pt/.
CI — Já tiveram contato ou organizaram iniciativas com operadores do turismo brasileiro?
SC — Por enquanto não existem relações estruturadas com as instituições brasileiras no que diz respeito ao turismo. Quanto aos operadores turísticos, justamente agora no mês de julho chegou uma delegação brasileira à Toscana, incluindo um fotógrafo e cinco riders que fizeram uma inspeção na costa para o ItalyBikeTour, o primeiro operador turístico brasileiro especializado na organização de viagens de bicicleta na Itália.