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Brasil leva ‘muros de ar’ à Bienal de Arquitetura de Veneza

 

Começa neste sábado (26) a 16ª Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, que ficará em cartaz até 25 de novembro e tem como tema o “espaço livre”, ou “Freespace”, como proposto pelos organizadores do evento

O Brasil será representado por um pavilhão montado nos jardins da Bienal de Veneza, no bucólico distrito de Castello, com o mote “Muros de Ar”, que é dividido em duas frentes. Na primeira, serão apresentados desenhos cartográficos sobre as formas de separação originadas pelo processo de urbanização no país.

Esses mapas, de acordo com Sol Camacho, curadora do pavilhão brasileiro ao lado de Gabriel Kozlowski, Laura González Fierro e Marcelo Maia Rosa, terão informações em diversas escalas, da cidade ao prédio, como se fossem infográficos sobre a vida urbana na maior nação da América Latina.

Na segunda frente, 17 projetos selecionados por meio de uma inédita convocatória pública mostrarão exemplos de como a arquitetura pode transpor os muros e abrir espaços livres, mais agradáveis e humanos, servindo também de conexão entre áreas urbanas distintas.

Os trabalhos foram escolhidos entre 289 projetos de mais de 60 cidades brasileiras “O que estamos levando para Veneza é uma resposta ao que as curadoras principais da mostra [Yvonne Farrell e Shelley McNamara] colocaram como ‘Freespace’, que será respondido com o oposto, com muros, ou seja, questionando o espaço livre”, explica Camacho.

A ideia, segundo ela, é abordar os muros existentes no país, tanto físicos quanto virtuais, e a relação da arquitetura com outras disciplinas – “a difícil tarefa do arquiteto de se imaginar completo”.

Projetos

A lista de projetos expostos no pavilhão do Brasil é eclética e vai desde um terreiro em Salvador (BA) até amplos programas de renovação urbana, passando por escolas, centros culturais, moradias, parques e prédios sustentáveis. É o caso do Edifício Amata, primeiro no país a ser erguido em madeira estrutural. Assinado pelo escritório Triptyque Architecture, a construção ficará em um terreno de pouco mais de mil metros quadrados no bairro boêmio da Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, e deve ser concluído até 2020.

O conceito de “Muros de Ar” é traduzido em uma espécie de “floresta urbana” com apartamentos e escritórios “compartilháveis”, unindo também espaços públicos e privados.

“Esse prédio foi desenhado para ser simbólico em vários aspectos. E tem a questão social: uma nova cidade, coworking, coliving, convidando pessoas a se relacionarem de forma diferente com a cidade. É um momento de transição da sociedade”, diz Ana Luiza Daripa, diretora de novos negócios da Amata, empresa madeireira que desenvolveu a tecnologia.

O edifício será construído em CLT, produto formado por multicamadas de madeira maciça em duas direções. “O prédio em si tem o objetivo de demonstrar o potencial dessa nova tecnologia, que chega não só por uma questão estética e de desempenho técnico, mas também para contar uma história que tem a ver com o patrimônio natural e cultural do Brasil”, acrescenta Daripa.

Outro projeto da Vila Madalena em Veneza é o Instituto Brincante, centro cultural e artístico que teve sua nova sede projetada pelo escritório Bernardes Arquitetura. O espaço funciona em um terreno de 320 metros quadrados antes ocupado por duas casas geminadas, o que exigiu criatividade.

Segundo o arquiteto Dante Furlan, o projeto é uma espécie de “resistência” em um bairro que passou por um intenso processo de valorização imobiliária e gentrificação. “É um projeto singelo, de resistência à pressão natural das incorporadoras que acabaram expulsando residências e outros estabelecimentos do bairro. Não temos nada contra as incorporadoras, mas o bairro perde o que ele tem de mais interessante”, afirma.

Outro destaque do Instituto Brincante, que inclui auditório, sala de ensaio, bilheteria e outros espaços de apoio, é a conexão direta com a rua, graças a uma praça na entrada do edifício e a amplas janelas de vidro. “Basicamente, o projeto era criar um ‘pátio’ e um ‘palco’, levando o palco para o nível da rua e chamando o público”, explica o arquiteto Rafael Oliveira, que também atuou no projeto. Para ele e Furlan, seu trabalho estará em Veneza não apenas pela arquitetura, mas também pela “força da história”.

Religião

Na Bienal que terá pela primeira vez um pavilhão do Vaticano, o Brasil também apresentará símbolos de sua religiosidade, como o Terreiro de Oxumaré, centro de candomblé com mais de 180 anos de existência e tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).

Desenvolvido pelo escritório Brasil Arquitetura, o projeto tem como objetivo preservar e melhorar a infraestrutura do terreiro.

“A Bienal é muito importante. Esperamos que possa ajudar a jogar luz em novos tipos de realidade que muitas vezes ficam relegadas ao segundo plano”, diz o arquiteto Marcelo Ferraz.

Segundo ele, a exposição do projeto pode ajudar a viabilizar apoio financeiro para a revitalização. “É um terreiro de quase 200 anos que preserva a paisagem natural de Salvador, onde o espaço cultural é de tanta importância”, afirma.

(Agência ANSA)