Após saída do Reino Unido da União Europeia, Brasil deve se aproximar ainda mais da Itália
Após quase 20 anos de tentativas por um tratado comercial entre os dois blocos econômicos, as negociações parecem ganhar força. Desde 1999, está em vigor o Acordo-Quadro Interregional de Cooperação entre a União Europeia e o Mercosul para o diálogo político e econômico, mas, ao longo dos anos, os representantes negociam o novo Acordo de Associação para o livre comércio, que ainda não foi concluído. No último mês de maio, no entanto, foi dado início a novas trocas de ofertas para o acordo. Em julho, o Brasil anunciou que buscará apoio da Itália e de outros países europeus para compensar a perda do Reino Unido, aliado nas negociações.
Segundo o embaixador e subsecretário de assuntos econômicos do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, Carlos Márcio Cozendey, o comércio dos produtos entre as duas regiões terá enorme potencial para se intensificar.
— Isso implica maiores vínculos, mais contratos empresariais, maiores fluxos financeiros, maior movimento de negócios, que tendem a adensar as relações entre os blocos — declarou à Comunità.
A UE dispõe de avançado parque industrial, enquanto o Brasil e o Mercosul são mercados consumidores dinâmicos, que podem se beneficiar da concorrência com produtos europeus. Há expectativa de que, com o acordo, a UE aumente suas exportações para o Brasil de produtos como máquinas e equipamentos, produtos químicos, alimentos processados etc.
Para a União Europeia, a pauta de exportações do Brasil é marcada por produtos baseados em recursos naturais, principalmente do complexo de soja e da mineração, mas também de produtos agrícolas, como carnes, açúcar, lácteos, frutas e outros.
— Importa mencionar que, no contexto da negociação entre o Mercosul e a UE, o Brasil também poderá aproveitar oportunidades para redução de tarifas de alguns produtos industriais, como têxteis, calçados, máquinas e equipamentos, para recuperar a penetração no mercado europeu de bens industriais, que foi reduzida em função da extinção das preferências outorgadas pela UE ao Brasil pelo SGP (Sistema Geral de Preferências) — diz o embaixador.
Para aumentar essa relação comercial, Itália e Brasil, por sua vez, terão ainda mais conversas.
— O Brasil confia que o interesse italiano nas negociações, assim como o da maioria dos países europeus, compensará a perda do apoio do Reino Unido ao processo — afirma Cozendey.
Apesar das trocas de ofertas e expectativa para o livre comércio, vale lembrar que a conclusão do acordo ainda deve levar algum tempo.
— Acredito que não será concluído em curto prazo porque há uma grande pressão por parte da UE para não ceder à redução de tarifas. — Mas, certamente, se aprovado (o Acordo de Associação), haverá maior aproximação entre Brasil e Itália — afirma o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Giorgio Romano Schuttle.
Principais produtos brasileiros exportados para a Itália
Soja
Carnes
Açúcar
Lácteos
Frutas
Principais produtos italianos importados no Brasil
Máquinas
Equipamentos
Produtos químicos
Alimentos processados
Curiosidades
A Itália é o nono parceiro comercial do Brasil em termos de importações e exportações
Brasil e UE são parceiros estratégicos desde 2007, quando o Brasil reconheceu a UE como um dos seus principais interlocutores mundiais através da criação formal da Parceria Estratégica UE-Brasil. Desde então, reuniões anuais de Cúpula são realizadas
O Brasil responde por aproximadamente 37% do comércio da UE com a região latino-americana e detém 43% do portfólio de investimentos da UE na América Latina
A UE recebe, em média, 20% das exportações brasileiras de bens compostas principalmente por produtos agrícolas (40%), combustíveis e produtos de mineração (35%) e produtos manufaturados (25%)